Você Está Feliz?

 

POV Justin

 

– Ryan, acho que você está assustando ela. - o repreendi vendo que ele a encarava por longos segundos com a boca aberta enquanto Chuck, em seu colo, bagunçava o seu boné.

 

Cindy mantinha os olhinhos fitando o próprio lençol estendido na cama que cobria suas pernas enquanto uma mão estava em sua boca. O outro braço estava ocupado segurando sua boneca. Ela estava acuada e muito envergonhada por causa do jeito que Ryan olhava pra ela. Kimberly estava sentada perto de sua cama e até agora não havia me encarado. Talvez por vergonha por ter sido tão egoísta a ponto de colocar a vida da própria vida em risco.

 

– Man, eu não...eu não consigo... como? Eu não acredito que você tem outra filha. – disse lentamente enquanto virava sua cabeça pra mim.

– Acredite. – sorri soltando o ar pelo nariz chegando perto da Cindy.

– Mas por que não me contou? – perguntou um pouco stressado e confuso.

– Pergunte primeiro pra Kimberly porque ela não me contou, e saberá porque eu não te contei. – falei tocando o rostinho da Cindy para que ela me olhasse.

 

Ela levantou um pouco seu rostinho envergonhado para me olhar e um sorriso sem graça brotou em seus lábios. Ryan ainda reclamava alguma coisa, mas eu bloqueei sua voz em minha cabeça. Sabia que ele ia ficar surtando e falando coisas aleatórias por alguns segundos até voltar ao normal.

 

– Eu disse que ia trazer dois bonequinhos pra você, não falei. – sorri mostrando Alice que ainda estava acordada no meu colo com seus olhinhos do mesmo tom dos olhos de Lorena.

– Ela é a mi irmã, papai? – disse baixinho abrindo um pequeno sorriso.

– É, sua irmã caçula e aquele ali tentando colocar o boné na boca é o seu irmão. – falei observando a cena do Chuck, agora, estava com o boné nas mãos. Enquanto Ryan continuava inquieta tentando colocar as peças no lugar

– Olha, mamãe. – disse espevitada chamando a atenção da Kimberly. – Eu tenho dois irmãos! – sorriu.

 

Kimberly sorriu sem jeito e nossos olhos se cruzaram, mas ela logo desviou como se me encarar doesse nela.

 

– Dá pra vocês agirem como se nada disso fosse normal? Vocês estão me assustando agindo assim. – disse Ryan reclamando.

– Deixa de ser idiota, cara. – falei me aproximando de Ryan e dando um leve soco em seu estômago.

– Como você não me contou isso. – perguntou incorfomado.

– Não faz muito tempo que eu sei, cara. Fica tranquilo.

– Tranquilo? Eu não tô acreditando nisso, dude. Caralho, acho que se eu for no Polo Norte eu vou conhecer alguém que tenha um filho teu. – disse levando uma mão na boca.

– Quem sabe. – dei de ombros convencido.

– Mas pera aí. Com ela? – apontou pra Kimberly. - Não, não... isso é tecnicamente impossível, mas porra... essa garotinha parece muito com você. – falou ainda espantado.

– Diga obrigada, Cindy. – falei pra Cindy que encarava nós dois.

– Obligada. – disse baixinho com vergonha.

– Por que você tá mandando ela agradecer, seu idiota? – perguntou Ryan sem entender.

– Você disse que ela parece comigo, você acabou de elogiá-la. –falei debochado sorrindo e ele revirou os olhos.

– Não foi um elogio, exatamente. – disse pensando melhor.

– Então você acha minha filha feia? – falei fingindo irritação.

– Digamos que ela é uma versão sua melhorada. – concluiu fazendo uma careta e eu dei-lhe outro soco no estômago um pouco mais forte fazendo ele curvar o corpo e soltar uma riso.

– Mamãe. – ouvi a vozinha baixinha da Cindy chamando pela mãe e me virei curioso, mas logo observei ela falando algo no ouvido da Kimberly que eu não pude ouvir.

– O que você está sentindo, meu amor? – perguntou Kimberly docemente, mas num tom de preocupação segurando o rostinho dela com as duas mãos.

– Tá doendo aqui. – disse fraco apontando a cabeça.

– O que ela tem? – me aproximei preocupado sentindo as mãozinhas de Alice puxarem a gola da minha camisa.

– Ela disse que não está se sentindo bem. – falou sem me encarar e observei Cindy deitando suas costas na cama de um jeito mole e percebi seu rosto pálido e sua respiração dificultada.

– Ryan, leve eles pra casa. – falei entregando Alice e ele a pegou com o braço despreocupado.

 

Peguei a chave do carro no bolso e coloquei em sua mão. E então, ele saiu do quarto um pouco atrapalhado com os dois no colo.

 

– Chama o médico. – falei preocupado chegando perto da cama e Cindy respirava cada vez mais forte e seus olhos estavam se fechando.

 

Kimberly analisava estática enquanto seus olhos esbugalhados iam marejando. Seu corpo relutava em ver aquela cena, mas seu corpo não se movimentava. Como ela já havia me explicado, era normal que Cindy tivesse algumas recaídas, alguns dias ruins. Seus remédios eram fortes e ela era apenas uma princesinha de 3 anos.

 

– Kimberly! – gritei. – Vá chamar o médico! – controlei a voz para que não saísse desesperada.

 

Kimberly saiu do quarto desesperada e ouvi seus gritos pelo corredor enquanto ela pedia por ajuda.

 

– Filha, papai tá aqui. Não dorme... não dorme... fica aqui com a gente. – falei preocupado com o choro na garganta sentindo seu corpo amolecer em minhas mãos.

 

O médico entrou no quarto correndo pedindo que eu me afastasse enquanto analisava Cindy. Uma enfermeira veio atrás e os dois olhavam sem dar explicação. Kimberly tinha as suas mãos na boca e seu peito soluçava enquanto eu sentia como se aquelas informações não fossem verdadeiras. Minha pequena estava bem, o que aconteceu? Por que de repente sua pele ficou pálida e sua respiração saia como se ela tivesse corrido mil metros? Ela não merecia isso. Era muito doloroso ver qualquer criança naquele estado, imagina ver sua própria filha. Seus olhinhos lutavam para ficar abertos, mas havia um peso sobre eles. Sua boquinha estava seca e alguns fios de cabelo de sua franja grudaram em sua testa por causa do suor.

 

– O que ela tem? – perguntei rudemente me aproximando do médico.

– Vocês vão ter que sair daqui. Os batimentos dela estão caindo. – disse alterado sem presta atenção em mim, apenas desviando o olhar pra enfermeira que parecia muito preocupada.

 

A enfermeira injetou algo em seu braço. Uma outra enfermeira se pôs na minha frente, mas eu a via totalmente desfocada na imagem da minha cabeça. Meus olhos estavam na Cindy, estavam em seu corpo desfalecido em cima da cama enquanto o médico e a enfermeira pareciam tentar resgatar seus últimos minutos de vida. De repente tudo se transformou numa bagunça em minha mente. Não entendia nada, não via nada. Apenas uma movimentação confundindo mais minha cabeça.

 

– Não! – o grito de Kimberly ecoou o quarto chamando minha atenção para ela e percebendo seu corpo se debatendo nos braços de um homem alto que a tirava do quarto.

– Senhor, vocês tem que sair. – disse a enfermeira me empurrando para fora do quarto, mas tirei, rudemente, suas mãos de mim.

 

– Ela é minha filha, porra! – gritei com ódio e mais enfermeiras começaram a me rodear.

– Por favor, senhor, ela vai ficar bem, mas pra isso precisamos que o senhor saia daqui por favor.

 

Olhei pra cama apenas vendo a aglomeração de enfermeiros e médicos que haviam rodeado o lugar. Não conseguia ver minha pequena, não conseguia ver seus olhinhos. Não pude me certificar de que eles ainda estavam abertos. De que ela ainda estava ali. Não podia perde-la. Não podia perder mais nada nem ninguém. As lágrimas embaçavam minha visão e meu corpo reagia aquilo tudo em torpor. Apenas senti braços me empurrando para fora do quarto e então a porta foi fechada na minha frente. Os soluços altos de Kimberly desviaram minha atenção. Eu ainda estava com raiva dela, mas parecia que naquele momento todo e qualquer sentimento havia sumido. Minha preocupação estava com Cindy, eu não sabia o que havia acontecido e nada mais enchia minha cabeça e não ser aquilo. Kimberly andou cambaleando até a cadeira mais próxima e sentou nela como se nem prestasse atenção nas coisas que estava fazendo. Meu coração estava apertado, mas eu tinha que me manter forte diante aquela situação. Me aproximei colocando uma mão em seu ombro. Sua cabeça foi erguida e nossos olhos se cruzaram. Seu rosto encharcado e sua fisionomia chorosa partiram ainda mais meu coração. Um desespero correu em minhas veias e apenas puxei seu corpo para um abraço enquanto ela enfiava sua cabeça em meu peito e deixava o soluço sair livremente.

 

 

– Ela não pode me deixar. – disse entre o choro.

– Ela não vai. – engoli a seco forçando a voz a sair.

 

 

Ficamos durante duas horas tentando saber alguma informação, mas nada. Ryan havia encontrado minha mãe em casa e explicado toda a situação que tinha ocorrido. Minha mãe ainda estava em choque com tudo aquilo de ter mais uma neta, mas parecia que seu carinho por ela já existia a tempo, pois ligou na mesma hora toda preocupada e eu apenas informei o que eu sabia: nada.

 

 

– Qualquer coisa você me avise. As babás estão aqui hoje comigo e com as crianças, não se preocupe. Vou orar pela Cindy, Justin. Você tem fé, use-a. – falou e aquilo soou como algo renovador.

 

Mas com tantas as perdas que eu já havia sofrido, um pouco da minha fé e da minha esperança havia sido levada embora. Lorena era minha fé, Lorena era minha esperança. Lorena era tudo de bom que existia em mim e eu simplesmente não conseguia ter ou resgatar essas coisas sem ela ao meu lado. Tudo parecia multiplicado agora só por ela não estar aqui. Desliguei o telefone e encarei o chão. Kimberly estava sentada no banco ao meu lado com olhar perdido. A porta foi aberta, finalmente e nós dois nos levantamos em súbito. O médico se aproximava e dentro de mim o medo e a ansiedade se confrontavam. Eu queria ouvir o que ele tinha para me dizer, mas ao mesmo tempo eu tinha medo das suas palavras antes mesmo que elas fossem pronunciadas.

 

– Ela teve uma parada cardíaca. Os remédios estão cada vez mais fortes, ela já está debilitada por causa do tempo que está tomando eles. – disse soltando o ar de forma pesada no fim como se...como se... como se fosse dizer que minha pequena...não tinha chances alguma. - Nós conseguíamos reanimar seus batimentos, mas vamos deixar ela em como induzido porque temos que avaliar como seu corpo está reagindo e...

– O que? Coma? – perguntei não querendo ouvir o resto. – E a merda do sangue que eu dei pra vocês? Onde estão os resultados, seus incompetentes! Vocês querem matar minha filha? – disse me alterando e alguns dos meus homens se aproximaram discretamente.

– Senhor, se acalme. Os resultados vão sair em breve. Vou descer agora pra verificar isso. Não podemos perder mais um segundo. – disse se virando e sumindo no corredor.

 

Um nó se formou em minha garganta e eu fechei o punho. Era foda não ter controle de uma situação. Era foda não poder arrombar a porta daquele quarto e atirar no filho da puta que estava matando minha filha porque não era uma pessoa, não era alguém que eu pudesse eliminar. Era uma maldita doença! Os capangas me cercaram como se esperassem apenas um sinal meu para agirem, mas não tinha muito o que se fazer. Meu peito doía e Kimberly se desmanchava em lágrimas. Uma mão sua estava sobre o seu peito como se ela pudesse estancar a dor enquanto o outro braço estava apoiado na parede e sua cabeça apoiada em cima do braço. Seu rosto apenas demonstrava dor. Se aquilo fosse algo normal pelo qual Cindy já tivesse passado, ela não estaria tão preocupada. Era sério, era algo novo, inesperado e aquilo me preocupou. O mundo parou ao meu redor, meu coração apertou, as lágrimas queriam sair, um nó se embolava em minha garganta e em minha cabeça apenas um novo ecoava. O meu corpo, apenas uma pessoa implorava. Eu não podia ficar ali, eu não tinha mais condições de abrir meus olhos e enxergar aquele hospital. Minhas pernas foram caminhando lentamente até a saída quando um capanga se aproximou e eu apenas ergui um braço pra que ele ficasse onde ele devia estar e ele parou seu corpo me respeitando. Nenhum deles podia me ver tão fraco, tão fora do meu posto. Nenhum deles tinha a permissão de ver seu patrão tão debilitado e ferido. Ignorei o elevador, apenas fui cambaleando pelas escadas enquanto minha mente girava. Eu não podia deixar que ela fosse embora. Cindy não podia morrer como se nunca existisse. Eu nem tive tempo de ser seu herói e de fazer algo por ela. Eu simplesmente não tive tempo de ser seu pai, isso foi roubado de mim. Andei até o carro e as lágrimas escapavam. A noite já havia chegado e assim que saí do hospital o vento gelado tocou meu rosto. Caminhei até o carro e abaixei minha cabeça sobre o capô. A dor estava me impossibilitando de andar mais. Até respirar doía. Lorena, eu preciso de você aqui, por favor. Não pensei. Não quis pensar para não relutar, para não ser covarde. Apenas ergui meu corpo e abri a porta entrando no carro. Virei a chave ligando-o e saí dali. As lágrimas caíam e minhas mão seguravam forte o volante. Eu precisava dela.

 

 

POV Lorena

 

 

Depois que Fernanda foi embora, simplesmente voltei a me sentir sozinha. Havia acabado de vê-la indo embora e fechado a porta. Mais uma vez o tédio e a tristeza voltavam, mas suas palavras tão sinceras haviam ficado ali rodeando minha cabeça, me fazendo refletir. Andei calmamente até a sala e Chaz se levantou preguiçosamente erguendo os braços.

 

– Que cara é essa? – perguntou me analisando e eu levei um leve susto saindo do meu torpor de pensamentos.

– Que cara? – disfarcei.

– Vai me dizer que ela não veio aqui pra ficar enchendo sua cabeça dele. – falou com escárnio.

– Dele? – me fez de desentendida.

– “Oh, Lorena, volta pro Justin. Quem sabe ele te enforca menos da próxima vez” –disse debochado afinando a voz como se imitasse a Fernanda e aquilo me irritou na mesma proporção que me entristeceu.

– Você é um idiota. – cuspi as palavras.

– Estou apenas dizendo a verdade. – disse com um sorriso debochado.

– Eu conheço a verdade e ela me machuca, não preciso que você fique me lembrando. – me alterei sentindo meu peito gritar.

– É sempre bom ser lembrada pra caso você queira pagar de idiota outra vez. – disse indiferente dando de ombros e eu mordi os lábios sentindo cada palavra sua apertar meu coração.

– O que eu decidir fazer da minha vida o problema é todo meu! – falei entre os dentes sentindo o sangue pulsar em minha veia. Odiava como ele jogava a verdade na minha cara mesmo sabendo o quanto aquilo acabava comigo.

– Ótimo! – disse agora irritado. – Volte pra ele! – gritou indo em direção a porta e a abrindo com força. - Quem sabe nos encontramos de novo. No seu enterro. – falou e bateu a porta.

 

 

As lágrimas cobriam meu rosto. Corri até o quarto e me joguei na cama deixando o choro vir. Afoguei meu rosto no travesseiro e deixei o choro sair pela minha garganta. Como eu havia me transformado numa pessoa tão infeliz? Tudo que Fernanda havia falado era a pura verdade. Não importava os motivos da separação, sempre haveria mais motivos pra eu voltar pro Justin. Eu não era feliz sem ele, eu não era eu mesma sem ele, eu não era nada sem ele. Tentei me enganar que assim era melhor, mas nunca consegui por completo. Essa casa nunca me preencheu, Chaz nunca me preencheu. As únicas coisas que me faziam sorrir eram meus filhos e minhas lembranças com o Justin. Mesmo tocada pelas palavras de Fernanda, Chaz sempre fazia questão de jogar na minha cara o que Justin havia feito comigo. Aquilo sempre me fazia voltar atrás, sempre tirava o meu gás, a minha esperança, a minha vontade de voltar pra ele. Mas eu nunca ia ser feliz outra vez. Eu estava aqui, meu corpo estava aqui, mas Justin ainda segurava meu coração com suas mãos. Aquela cama parecia enorme, aquela casa parecia enorme, o mundo parecia enorme. Eu me sentia sozinha, triste, completamente destruída. As lágrimas eram minhas únicas companheiras. Apertei o travesseiro com força como liberar o desespero, mas de nada adiantou. Tudo doía.

O choro foi acalmando enquanto as lembranças com o Justin vinha em minha mente.

 

– Fala pra mim. – ele segurou em meus braços com força me fazendo encarar os olhos dele que me olhavam com intensidade e estavam marejados. – Fala pra mim que eu não te fiz feliz. Fala que não me ama Lorena. – não conseguia desviar o olhar, não conseguia não encarar aqueles olhos castanhos.

– Você está me machucando. – disse com a voz falha.

– Fala Lorena, fala que não me ama.

Nossos olhos se sustentaram numa olhada com raiva misturada com amor, mas eu não podia ser infantil a ponto de não dizer que meu coração ainda suspirava por ele, mas infelizmente isso não era o suficiente pra me fazer errar mais uma vez.

– Eu te amo. – falei fraco e ele acalmou a respiração. – Mas as vezes o amor não é o suficiente pra uma relação.

– O amor é tudo que precisamos pra uma relação, Lorena. Se você me ama, então pronto, temos tudo que precisamos.

 

Fechei os olhos com força enquanto eu lembrava da nossa última conversa, enquanto eu lembrava de tudo que ele havia me falado, de todas as coisas que ignorei. Doía muito mais lembrar daquilo agora do que na hora. Ouvi duas batidas na janela do quarto que me tiraram dos meus devaneios. Levantei depressa meu corpo apoiando meu braço na cama e limpei meus olhos numa tentativa um pouco falha de poder enxergar melhor, mas eu conheceria aquela silhueta até vendada.

 

Tópico: Não Posso Perdê-la

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karol drew | 10/08/2014

Perdoa vei :'( pfv :/

choranu

Marii | 20/09/2013

confesso que nao gostei da ideia da Cindy existir, fiquei com raiva dela e da Kimberly, mas agora to ate curtindo esse lado do justin e por favorrrrr lorena, perdoa ele logo

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