O Parto

 

POV Lorena

 

Uma dor forte em meu peito foi se alastrando por todo o meu corpo. Simplesmente não conseguia mover um músculo se quer. Cada mísero passo que Justin dava pra frente, meus pais se cravavam mais no chão. Sentia um frio percorrer toda a minha espinha. Não, eu não podia estar olhando esses olhos. Eu não podia estar me rendendo assim, mas cada segundo ele estava mais próximo apesar de estar caminhando com cautela, talvez por medo da minha reação. Mas não, eu consegui ficar 3 meses sem me render a esses lindos olhos, 3 meses sem procura-lo, 3 meses sem a minha droga favorita. Uma droga que me satisfazia momentaneamente logo estava me fazendo mal. Sentia minhas mãos formigarem e simplesmente minha respiração estava descompassada e trêmula. Maldito Ryan! Maldita Fernanda! Eu estava em torpor, mas tinha que reagir. Não, eu não podia me render. Me obriguei a ter forças para caminhar e me direcionei à porta desesperadamente. Forcei a maçaneta, mas óbvio, estava trancada. Forcei mais algumas vezes com força e aquilo só mostrava todo o meu desespero. Não, não, não... isso não podia estar acontecendo comigo. Isso não é bom pra mim, não vou me deixar levar mais uma vez. Justin será sempre o Justin e eu serei sempre a menina boba que sofre no final. Comecei a socar a porta chamando pelo Ryan e já sentia as lágrimas quentes percorrerem minhas bochechas.

 

– Ryan! Abre essa porta! – ordenei sentindo minha cabeça girar. Meu nervosismo era notório.

 

Senti a mão do Justin tocar meu ombro de leve e senti um choque exatamente sobre a pele que ele tocou. Fechei os olhos com força tentando me concentrar, mas eu podia negar pro mundo, mas menos para mim que eu ainda o amava demais! Respirei fundo e voltei a bater na porta com força implorando para que ela fosse aberta.

 

– Calma, Lorena! – ele disse baixo num tom preocupado.

 

Sua voz entrou pelos meus ouvidos e meu coração foi esmagado. Por que ele me deixava assim? Por que meu amor por ele era tão doentio? Por que eu era tão dependente? Não... isso é errado! Me desesperei mais ainda e não me virei para ele porque encarar aqueles olhos seria a mesma coisa que me entregar.

 

– Por favor, Ryan. Abre a porta! – falei entre os soluços desesperados ainda de costas pro Justin.

– Por que você está agindo como se tivesse medo de mim? – ouvi sua voz mais uma vez invadindo minha cabeça e cada palavra me atingia como flechas de torpor.

 

Eu estava desesperada, mas do que imaginava que poderia ficar. Eu sabia que um dia eu teria que encontra-lo de novo principalmente por causa de nossos filhos, mas eu havia sido pega desprevenida, meu coração não estava preparado para aquilo.

 

– Ryan... por favor! – falei com a voz fraca e engasgada.

 

Simplesmente eu tinha que ignorar o amor da minha vida atrás de mim tão próximo. Não, Lorena! Não olhe para trás, não encare esses olhos. Você é forte, vamos! Minhas mãos tremiam tanto e estavam tão frias. Minhas pernas bambearam, estava quase impossível ficar em pé. Meu coração batia na minha garganta tão rápido e tão alto que jurava que ele podia ouvir. Minha cabeça rodava. Uma tensão no meu corpo que me deixava rígida. Meu coração apertava e foram alguns segundos de silêncio com o Justin atrás de mim tentando entender o que se passava. Senti uma forte contração no meu ventre. Uma dor aguda que me fez curvar o corpo. Dei um grito histérico arranhando minha garganta e senti os braços do Justin me tocarem.

 

– O que foi? – ele perguntou num tom preocupado.

– Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! – gritei sentindo a dor ficar cada minuto pior.

 

Senti uma água escorrer pelas minhas pernas e aquela dor estava insuportável. Apenas senti meu corpo amolecer e tombar. Logo os braços do Justin me seguraram com força e sua respiração ficou bem próxima de mim e... de mais nada me lembro.

 

POV Justin

 

Estava nervoso. Assim que Lorena tombou em meus braços, senti suas pernas molhadas. Sua bolsa havia estourado. Na mesma hora senti o mundo parar de girar. O que eu podia fazer? Eu não entendia porra nenhuma disso! Mas a única coisa que era certa é que ela não podia ter nossos filhos aqui! Não conseguia pensar direito, apenas peguei Lorena no colo e chutei a porta com toda força que eu pude arrebentando todos os pregos que seguravam a maçaneta e quebrando um pouco da parede. Não havia mais ninguém em casa porque o combinado era que Fernanda e Ryan saíssem e deixassem-nos lá sozinhos. Porra, eu só queria resolver tudo com a minha mulher, mas agora estava aqui correndo com ela desmaiada nos meus braços em direção ao meu colo. Idiota! Eu sou um idiota! Coloquei seu corpo mole no banco de trás e corri até o volante. Tentei dirigir com cautela, mas minha preocupação não me deixava raciocinar. Aos poucos vi pelo retrovisor que os olhos se Lorena abriram devagar, ela estava ali, ela estava bem, só estava mole parecendo sonolenta. Continuei tentando ultrapassar todos os filhas da puta que entravam na minha frente.

 

 

– Justin, Justin... – ouvi ela sussurrar em meio ao desespero.

– Calma, meu amor, já estamos chegando.

 

Lorena forçou o cenho e levou sua mão até a barriga e seus soluços invadiram o carro. Lorena trincou os dentes e gritou.

 

– Vai nascer! Aaaaaaaaaaaaaaaaaah! Tá doendo muito! – ela gritava desesperada.

 

Estacionei o carro na rua mesmo e abri o carro com rapidez. Ajudei-a levantar e Lorena tentava compassar a respiração respirando de forma estranha. Levei-a até a porta o hospital e duas enfermeiras, percebendo que chegávamos em estado crítico, entrou no hospital e voltou carregando uma cadeira de rodas. Logo que se aproximou, Lorena se sentou de pernas abertas e chorando muito.

 

– Está sentindo contrações? – perguntou a enfermeira que empurrava o carrinho.

– Sim. – disse Lorena já com a testa suada e cara de dor.

 

Eu apenas a acompanhava sendo levada para uma sala sem entender porra nenhuma do que se passava. Meus filhos iam vir ao mundo! Eu ia finalmente ver o rosto deles e só isso me interessava!

 

– Quanto tempo de gravidez? – perguntou a outra enfermeira enquanto anotava tudo numa prancheta.

– 7 meses quase 8. – disse Lorena impaciente com suas mãos sobre a barriga.

 

Ela estava sentindo dor, mas eu estava maravilhado com tudo aquilo! Ela iria sentir mais dor, eu sabia disso, mas só de pensar que meus dois moleques iam nascer, eu simplesmente ignorava todo o resto.

 

– Você teve alguma emoção forte ou passou por algum stress? – perguntou a enfermeira mais uma vez sem encará-la. Apenas olhava pra sua prancheta enquanto a outra enfermeira empurrava sua cadeira e eu acompanhava um pouco mais atrás.

 

Lorena me fitou de forma estranha como se pudesse ler meus pensamentos. Esperei para ver o que ela iria responder, mas seria bom que não mentisse.

 

– Sim. – ela disse por fim.

– Lorena! – o médico que sempre atendia ela passou pelo corredor ficando surpreso. – Já veremos a cara desses bebês, então? – disse de forma divertida, mas pela cara da Lorena ela não estava nem um pouquinho a fim de rir. – Leve ela para o quarto 405. Observem a dilatação, anotem tudo. Já já subirei. – falou despreocupado.

– O senhor vai junto? – perguntou a outra enfermeira pra mim enquanto Lorena e a outra enfermeira entravam no elevador. Eu não havia reparado que eu estava parado. Acho que o medo não me deixou ir.

– Acho que agora não. – falei vacilante.

 

A enfermeira riu achando graça como se já estivesse acostumada com aquela reação.

 

– É sempre assim. Têm pais que são mais corajosos, mas não é pra qualquer um. Mas se quiser subir, só me avisar que irei providenciar suas roupas e luvas e você poderá assistir ao parto.

- Não! – falei rápido. – Não sei se quero ver isso. – falei me sentindo o maior viado do mundo.

 

A enfermeira gargalhou virando de costas. Eu precisava avisar a todos que finalmente os garotos estavam chegando. Caminhei até a fala de espera no final do corredor com o celular na orelha esperando a merda do Ryan atender.

 

– Já? – perguntou assim que atendeu.

– Passa na minha casa, pega minha mãe e vem pro hospital. A Lorena vai ter os bebês. – falei orgulhoso.

 

 

POV Lorena

 

– Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! – gritei sentindo uma dor incontrolável. Putz... o que era aquilo? Uma mostra grátis do inferno? Fazia uma força descomunal e mesmo assim parecia que aquilo não teria fim.

– Vamos, Lorena! Já consigo ver a cabeça de um deles! – disse o médico.

– Não, não... não consigo mais. – falei jogando meu corpo na cama.

– Vamos, amorzinho! O hospital todo tá afim de ver a cara desses bebezinhos. – disse a enfermeira de forma carinhosa.

– Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaargh essas crianças não querem sair! – gritei entredentes.

 

Já estávamos a quanto tempo ali? Primeiro vieram as contrações e simplesmente e enfermeira olhava para minha vagina e dizia que ainda não estava na hora. Como não? Era uma dor absurda! Tinha que está na hora! Até que depois de alguns minutos ela olhou de novo e foi correndo chamar o médico e agora eu estava aqui quase morrendo.

 

– Vai, Lorena! Mais um pouco. – disse o médico ainda mais concentrado.

 

– Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaarrrghhh... – trinquei os dentes com força e então o choro de um bebê ecoou no quarto. Meu coração já estava acelerado, mas na hora meus olhos encheram de lágrimas.

 

 

– É um menino! – disse contente, mas ainda concentrado.

 

Não consegui ver, o médico entregou para enfermeira e logo voltou para esperar o outro sair. Maldito, Justin! E não é que o seu pedido foi aceito? Aí estava um moleque que ele com certeza ia perverter.

 

– Vamos, Lorena! Um já foi, agora só falta a outro bebê. Você consegue, vai! – disse o médico sorrindo e a vontade que eu tinha era de encher sua cara de soco. Por que ele estava sorrindo? Ah sim, por que não era ele o infeliz sentindo dor.

 

– Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaargh!

 

POV Justin.

 

Já haviam passado quase 40 minutos e Ryan ainda não havia chegado. Eu estava impaciente e já havia roído todas as unhas que me faltavam. A enfermeira me olhava de longe, ela sabia que alguma hora eu ia querer subir.

 

– Filho! – ouvi minha mãe gritar meu nome vindo em minha direção e logo atrás Fernanda e Ryan. Me levantei ficando cada segundo mais nervoso.

– Onde ela está? – perguntou com uma felicidade notável.

– Foi pro quarto. A enfermeira veio me avisar que ela já entrou em trabalho de parto.

– E o que você tá fazendo aqui? – perguntou Fernanda quase pulando na minha garganta.

– Eu... eu não consegui subir! – falei com a voz fraca sem encará-los.

 

A mesma enfermeira se aproximou de nós com um sorriso gigante e todos nós olhamos para ela impacientes.

 

– A Lorena teve o primeiro bebê. É um menino lindo. Já já os dois estão no berçário.

– Ai meu Deus... – minha mãe disse chorando levando as mãos à boca e abraçou Fernanda.

 

Ryan estava tão orgulhoso quanto eu. Mas peraí. UM MENINO? Meus lábios sorriram involuntariamente e eu nem conseguia expressar algo. Meu coração se acelerou e uma alegria que dava vontade de sair gritando ao mundo todo que eu era o pai mais feliz do mundo.

 

– E o outro bebê? – minha mãe perguntou depois de breves segundos.

– Ela está tentando expelir agora. Querem subir? Vocês podem ficar no corredor esperando a hora de ver os bebês. Vamos? – disse nos acompanhando até o elevador.

 

Cada andar que subíamos, meu coração apertava. Eu ia ver meus molequinhos! Com quem eles iriam parecer? Comigo? Com a Lorena? Era tudo muito perfeito. Precisava ser beliscado pra ser acordado. A porta abriu e saímos do elevador sentando e uns bancos próximos do quarto onde a Lorena estava.

 

– O primeiro bebê já está indo pro berçário. A pediatra do hospital está fazendo o que tem que fazer e dando uma olhada nele, mas tudo indica que ele nasceu forte e saudável.

 

Ryan bateu em meu braço e me olhou com aquela expressão que dizia tudo. Todos nós estávamos ali e havíamos deixado o mundo lá fora. As desavenças, os problemas... eles simplesmente não existiam mais. Deixei uma lágrimas escorrer no canto do olho, mas sequei com rapidez. Minha mãe me abraçou e estávamos todos visivelmente felizes. Até que um grito da Lorena foi ouvido e eu encarei com preocupação a enfermeira ali parada.

 

– É assim mesmo. – Ela se apressou a dizer dando um sorriso.

– Quero entrar! – falei firme.

 

Ela sorriu satisfeita e minha mãe me deu um beijo na bochecha. Me afastei e entrei numa salinha junto com a enfermeira e vesti tudo que ela pediu, inclusive uma touca que me deixava ridículo, mas tudo bem.

 

 

POV Lorena.

 

- Pronto, estou vendo o bebê. Mais um pouco e ela estará nas minhas mãos. – disse o médico.

– Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaargh. – sentia algumas mechas do meu cabelo grudarem na minha testa por causa do suor e a enfermeira estava ali do meu lado me dando todo o suporte.

 

Vi a porta abrindo e de repente Justin surgiu com uma expressão estranha. Seus olhos sorriram. Sua boca estava tampada, mas ele estava visivelmente feliz, apesar de estar achando aquilo estranho. Justin se pôs do meu lado segurando minha mão e o médico encarou ele com rapidez.

 

– Precisávamos de você aqui, garoto! Tenho certeza que Lorena agora terá a força que ela precisa. – disse voltando a encarar o que ele podia ver do meu bebê.

 

 

Justin voltou seu rosto para mim e seus olhos me encararam. Estavam tão brilhantes, arrisco ao dizer que aquilo eram lágrimas.

 

– Vamos, amor. Você consegue. – disse e sua voz saiu meio abafada por causa da máscara que tampava sua boca.

 

Senti uma contração forte e fiz toda força que pude. Apertei os dedos do Justin e juro que quase os quebrei.

 

– Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaargh. – gritei trincando os dentes e de repente o alívio.

 

Outro choro invadiu o quarto e eu desabei em lágrimas.

 

– É uma menina! – disse o médico todo bobo.

 

Chorei de alegria, de alívio, de emoção. O médico estendeu o bebê entregando rapidamente pra enfermeira.

 

– Já iremos trazer eles pra você, Lorena! Você precisa alimentá-los com seu leite. Os 6 primeiros meses são essenciais. Eles estão um pouco agitados sentindo sua falta, mas logo se aquietarão quando você pegá-los. Isso é algo da natureza dos bebes, eles sabem que você é a mae deles. – disse a enfermeira toda emocionada.

 

Justin olhou para mim sorrindo com os olhos completamente marejados, mas até eu estava assim, totalmente emotiva.

 

– E... parabéns aos pais. Filhos são os maiores presentes que Deus pode nos dar. É a continuação de um amor. Desejo tudo de bom pra vocês. – disse saindo do quarto.

 

Fiquei deitada por algum instante. Depois que nasce, tudo volta ao normal. Eu só estava sentindo um pouco de dor nas pernas então me mantive intacta. Justin ainda estava em pé ao meu lado sem dizer uma palavra. Quando finalmente ele ia abrir a boca, Ryan, Fernada e Pattie entraram na sala.

 

Me enchiam de perguntas e mimos e reparei Justin se distanciando como se analisasse tudo aquilo maravilhado.

 

– Que foi, dude? – ouvi Ryan pergunta-lo e por alguns segundos ignorei tudo que Pattie e Fê falavam.

 

 

Justin deu um sorriso amarelo pro Ryan pra pareceu que tinha entendido tudo e logo o abraçou. A amizade dos dois eram algo de dar inveja a qualquer um. A porta foi aberta e duas enfermeiras traziam meus bebês. Meu coração acelerou e Justin se aproximou. A enfermeira me entregou o bebê enrolado num lençolzinho rosa cheio de lacinhos, certamente era minha filha.

 

 

– Amamente ela e logo em seguida amamente o garotão ali! Eles estão bem tranquilinhos. – disse.

 

Segurei-a em meus braços e era um sentimento tão bom pode ve-los depois de esperar tanto pra nascer. Meus bebês, minhas preciosidades. Encaixei a neném em meu bico e ela sugou faminta.

 

 

– Você se chamará Alice, minha filha. – disse deixando uma lágrima pingar em seu bracinho.

 

Levantei meu rosto vendo Justin sentando no sofá e a enfermeira entregando-o o Charles. Sim, eu ia me render e deixar Justin chama-lo de Chuck, mas seria apenas apelido, o nome dele seria Charles. Charles Bieber. Justin pegou-o todo desajeitado mas com uma carinha tão fofinha. Me sentia bem.

 

 

Estava finalmente com meus filhos, rodeada de pessoas que me queriam bem, apesar de sentir falta da minha mãe. Parecia que a distancia entre Justin e eu havia sumido. Mas será que tudo iria permanecer assim?

 

 

 

Tópico: O Parto

.

Karol Drew | 05/08/2014

Se eu choro de cólica, se doi até pra cagar, Imagina pra fazer um parto. '-'

Itens: 1 - 1 de 1

Novo comentário