Em Torpor

 

POV Justin

 

As mãos frias de Lorena estavam sobre as minhas numa tentativa frustrada de afastar minhas mãos de seu pescoço. Minha cabeça explodia de ódio, eu não conseguia raciocinar. Não queria lhe causar dor, só pensava em retribuir a humilhação que ela tinha me feito passar na frente do meu pai e do Ryan por causa do Chaz. Aliás, da festa toda, já que todos ouviram. Ouvi Lorena engasgar e suas veias já estavam expostas sobre a pele, podia sentir a textura das veias em minhas mãos. Queria parar de enforcá-la, mas minha raiva me consumia e eu não conseguia me mover. Seu rosto estava inchado e vermelho e apertei mais seu pescoço e ela ficou mais vermelha. Suas pernas estavam inquietas tentando me chutar, mas ela estava tão fraca que mal percebia que seu esforço era mínimo. Seus olhos reviraram e suas pálpebras cederam deixando amostra apenas um pouco da parte branca dos seus olhos. Suas mãos, que seguravam as minhas tentando se livrar do apertão, foram soltando devagar e tombaram sobre a cama. Minha mente girava, nem tinha noção do que eu estava fazendo. Assim que as mãos de Lorena tombaram, seu corpo ficou mole embaixo do meu. Senti Ryan me puxar com força e me jogar contra a parede. Nem havia percebido que a porta tinha sido aberta de tão desnorteado que eu estava. Minha visão estava turva e algumas lágrimas caíram queimando meu rosto. Que porra eu estava fazendo? Não sabia se eram lágrimas de ódio ou de arrependimento. Ryan estava nervoso, colocou sua cabeça sobre o peito de Lorena verificando os batimentos e em seguida começou uma massagem cardíaca desesperada. Eu via tudo em câmera lenta, as imagens demoravam a se formar na minha frente e os gritos de Ryan pedindo ajuda soavam como eco. Ouvia vozes desesperadas, mas não conseguia me focar em nenhuma delas. Ryan ainda estava sobre o corpo de Lorena tentando reanimá-la quando meu pai surgiu na minha frente com um semblante desesperado.

 

– O que você fez com ela? - perguntou com as mãos em meu ombro sacudindo meu corpo com brutalidade enquanto sua voz se propagava de forma lenta em minha cabeça.

 

Fernanda e minha mãe adentraram desesperadas no quarto e rodearam a cama e meu pai, sem uma resposta minha, se afastou me fuzilando com os olhos enquanto pegava seu celular acionando uma ambulância. Ainda via tudo em câmera lenta como num filme, como se não fosse real, como se eu pudesse voltar atrás e consertar. Ryan se virou pra mim abandonando o corpo de Lorena e seus olhos marejavam enquanto sua expressão era de furia. Seu punho fechado veio em direção ao meu rosto e eu não me movi, não me defendi. Seu soco veio certeiro estalando meu maxilar com tudo e meu corpo tombou mole pra trás. Senti a parede gelada nas minhas costas e Ryan voltou pra Lorena ainda me encarando com desgosto e ódio. Se curvou pegando seu corpo desacordado e erguendo em seu colo. Fernanda seguiu Ryan chorando desesperadamente e os dois saíram pela porta com o corpo de Lorena. Meu pai já havia saido do quarto e restava apenas minha mãe ali que me olhava chorando numa mistura de pena e decepção. Uma corrente de ódio eletrizou minhas veias passando pelo meu corpo e eu puxei a cômoda pro chão dando um grito arranhado. Minha mãe levou as mãos à boca vendo tudo desmoronar. Virei a cama de ponta cabeça e houve um estrondo quando a cama atingiu o chão. Fui até o armário e o abri começando a jogar tudo no chão. Senti as pequenas mãos frias de minha mãe segurarem meu braço numa tentativa de me fazer parar. Olhei em seu rosto e me doeu mais ainda ver que ela estava chorando. Parei encarando-a. Desejei a morte, desejei o fim, desejei apenas voltar atrás. Sua mão foi até minha testa limpando meu suor.

 

– O que você fez, meu filho? - perguntou com a voz chorosa, mas era apenas uma pergunta retórica.

 

Meus olhos queimavam, o efeito da droga já estava no fim, senti meus ombros pesarem e as lágrimas escorreram livremente.

 

– Eu a matei? - perguntei fraco sem querer ouvir a resposta.

 

Minha mãe abaixou a cabeça sem responder minha pergunta. Houve um silêncio perturbador e se retirou do quarto às pressas secando as lágrimas. Levei as duas mãos ao meu rosto e apertei meus olhos com as palmas, solucei alto num desespero. Mas logo o ódio vinha, mas era ódio de mim mesmo! Fechei minhas mãos com força e dei um grito como se expulsasse a raiva do meu corpo. Saí do quarto indo até o quarto dos bebês. Abri a porta e eles haviam acordado por causa do barulho e estavam com as babás que me olharam assustadas.

 

– Saiam daqui! - ordenei e elas automaticamente deixaram meus filhos no berço e saíram do quarto com o rabo entre as pernas.

 

Me aproximei do berço pegando um de cada vez e colocando um em cada braço. Eles estavam quietos e aquilo me acalmou um pouco. Dei um beijo no topo da testa de cada um e sorri de desespero deixando as lágrimas me consumir. Caminhei com eles até a poltrona e sentei ali com os dois. Não queria pensar no que eu havia feito, não queria pensar que Lorena poderia estar morta a essa hora e que minhas mãos tinham feito isso. Sentia como se nunca mais fosse ver meus filhos, pois eu sabia a merda que eu havia feito.

 

 

POV Ryan

 

Quando desci as escadas, já pude ouvir a sirene da ambulância vindo de longe. Fernanda correu na minha frente abrindo a porta e saímos de casa encontrando Jeremy desesperado enquanto se gesticulava chamando a atenção da ambulância. Lorena estava desmaiada em meu colo, seu rosto estava vermelho e sua respiração fraca. A ambulância parou e as pessoas saltaram correndo de dentro dela. Esticaram uma maca no chão e eu deitei seu corpo desmaiado.

 

– O que houve com ela? – perguntou o paramédico se aproximando enquanto tirava o estetoscópio do pescoço e começava a posicioná-lo no lugar certo pra ouvir os batimentos de Lorena e então começou a verificar seus batimentos cardíacos atentamente.

- Ela... eu acho que... – me enrolei nervoso.

- Ela é suicida. – falou Jeremy firme e todos nós o encaremos incrédulo. – A encontramos tentando se enforcar com uma corda.

- Essas marcas não parecem de cordas. – retrucou o paramédico um pouco desconfiado enquanto mandava com um gesto os outros dois paramédicos colocarem a maca na ambulância.

- A corda não estava tão apertada, mas ela já estava desmaiada. – disse fingindo perfeitamente bem.

- Mas está bem vermelho. – disse insistente.

- Isso é tudo o que eu sei. – falou Jeremy sem se preocupar enquanto Fernanda e Pattie choravam mais desesperadas e eu ficava sem reação.

 

 

O paramédico ainda olhou tudo um pouco desconfiado, mas deu de ombros.

 

- Estamos levando ela para o hospital mais próximo, só uma pessoa pode ir na ambulância, por favor, precisamos que não ocultem nada, pois só assim poderemos ajuda-la. – disse um pouco grosso abrindo a porta da ambulância para entrar.

- Não se preocupem, nós vamos de carro, vamos seguir vocês. – disse Jeremy metendo a mão em seu bolso e pegando a chave.

 

Sabia que Jeremy não ia querer fuder o Justin, não agora. Ainda mais porque se a polícia fosse investigar ele, ia achar muito mais do que um enforcamento. Mas apesar de tentar manter a calma, era notória sua raiva disfarçada. Do jeito que o conheço, ele mesmo resolveria aquilo com o Justin mais tarde. Eu estava com um puta ódio do Justin, mas não era hora de levar tudo isso mais adiante, só queria Lorena bem e mais tarde resolveríamos isso.

 

- Você devia ter falado a verdade! – disse Pattie com a voz chorosa quando já estávamos no carro seguindo a ambulância.

- Quer que seu filho vá preso? – perguntou Jeremy alterado apertando forte o volante

- Ele tem que responder pelo o que fez, não quero que ele vire um sem paciência, ignorante e insensível como o pai! – retrucou e eu e Fernanda nos olhamos assustados.

- Agora a culpa disso tudo é minha? – perguntou aos berros desviando sua atenção da pista.

 

Num ato desesperado, vi Fernanda levar suas mãos até seus ouvidos os tampando enquanto forçava a testa ao chorar. A abracei enquanto tentava bloquear os gritos de Pattie e Jeremy que estão um a culpar o outro.

 

- Fala pra mim que ela vai ficar bem. – perguntou Fernanda baixinho e eu apenas respirei forte sem respostas beijando sua testa.

 

Sabia que Lorena estava respirando novamente, sabia que ela estava viva, mas quanto tempo seu cérebro ficou sem oxigênio?

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