Cindy

 

POV Justin

 

Certas coisas na vida comovem as pessoas, mas no meu caso pouca coisa me comovia. Ter um parente doente em uma família foi sempre algo que comoveu a mim por todo a minha vida, mas estar no lugar dessas pessoas que tem uma pessoa próxima doente me fez petrificar. Meus pés criaram raízes ali onde eu estava. Mordi os próprios dentes deixando o maxilar rígido. Uma corrente estranha passou por todo o meu corpo. Um sentimento novo. Uma pessoa nova me dando um sentimento novo. Eu não a conhecia, mas eu já tinha certeza que poderia amá-la como se fosse algo natural, como se já a conhecesse. Nunca a vi, mas já tinha certeza que não podia perdê-la. Kimberly havia abaixado a cabeça e suas mãos tampavam seu rosto. Seu soluço era alto. Uma fragilidade que nunca vi nela antes, mas que só a preocupação de perder um filho podia trazer. Aquelas informações rodeavam em minha cabeça como socos de realidade. Eu não só havia acabado de descobrir que eu era pai antes mesmo de achar que eu fosse, mas que essa criança estava doente. Meu coração acelerou e um sentimento de impotência. Por que eu nunca soube disso? Por que eu não procurei saber por que Kimberly havia sumido? Por quê? Por que Alana sempre conseguiu envenenar todos que ela queria? Estava triste. As lágrimas molharam meus olhos e Kimberly desfalecia no meio da sala. Aproximei-me com dificuldade abraçando seu corpo com cautela e seu rosto se afundou em meu peito. Seus soluços ficavam desesperados. Ela precisava de mim, minha filha precisava de mim. Mesmo fraco, mesmo destruído, eu tinha que manter meus pés no chão, tinha que me convencer de que tudo ficaria bem. Quero conhecer minha filha, quero amá-la. Quero ver seus olhinhos, quero ouvir minha filha me chamar de “pai”. Cindy. Cindy Bieber, você já é amada. Fiquei ali afagando seu cabelo enquanto esperava ela se acalmar.

 

POV Lorena

 

A estrada estava escura. A única coisa que a iluminava o lugar era o farol do carro. Um medo percorria todo o meu corpo. Um medo de saber a verdade, de saber o que havia acontecido, de saber o que eram aqueles tiros, mas eu tinha que chegar lá e ver com meus próprios olhos. Eu tinha que me assegurar que Justin estava bem. Eu suava frio e continuava acelerando. Olhei o retrovisor e um carro preto estava se aproximando, até que praticamente colocou o carro dele no meu. Mudei as marchas acelerando mais e tentando manter uma certa distancia. Eu estava com medo, estava aflita. Meu coração estava disparado, mas do que o próprio carro. O veículo escuro logo me alcançou e parecíamos que estávamos em um pega. Estávamos na mesma direção e, por causa da pouca claridade, eu apenas via uma sombra, mas a pessoa estava a me encarar. Tive medo. Encarei a sombra sentindo o vento gelado bater em meus olhos arregalados. Meus filhos! Meu pensamento foi no rostinho de cada um e aquilo me deu forças. Eu já estava numa alta velocidade, mas tinha que arriscar. Aquela pista parecia que não acabava nunca e aquele carro a me perseguir estava cada vez mais me deixando gelada de medo. Acelerei mais, mas o outro carro foi mais rápido me ultrapassando e seguindo reto até que o vi mais. Apenas o barulho do motor distante, mas que logo sumiu ao alcance dos meus ouvidos. Eu estava ofegante. O que tinha sido aquilo? Minhas mãos tremiam no volante, mas consegui chegar até o portão do Justin que estranhamento estava aberto. Passei pela guarita do portão procurando por algum segurança, mas não vi ninguém ali. Saltei do carro estranhando aquilo enquanto meu coração batia forte em minha garganta e a adrenalina percorria por minhas veias. Avistei o jardim e senti uma porrada na boca do estômago quando vi todos aqueles corpos no chão. O cheiro de sangue estava muito forte. Meus olhos marejaram, senti o choro preso na garganta. Um daqueles não podia ser o Justin, não mesmo! Levei minha mão até meu nariz tampando a respiração enquanto meus olhos rolavam por todos aqueles corpos sem vida, mas Justin não estava ali. Havia uma tensão no lugar que me arrepiava e me deixava muito assustada. Olhei para trás pra ver se alguém me perseguia, mas só havia aquele silêncio perturbador. A luz da sala estava acesa, então me aproximei da casa torcendo que Justin estivesse ali e que estivesse bem. Percebi a porta de entrada aberta e meu coração apertava mais e mais. Não queria ir, não queria ter que encontrar seu corpo sem vida no chão, mas minhas pernas me contradiziam e continuavam o caminho como se a solução fosse que a verdade fosse vista logo. Subi a escada que dava acesso à entrada da casa, mas no meio da subida meus olhos encontraram aquela cena. Justin estava abraçado com Kimberly que parecia chorar. Reprimi o ar sentindo meu coração quase pular do meu peito. A ferida foi exposta. Ela nunca esteve cicatrizada, mas agora ela estava mais uma vez exposta. Uma dor percorreu o centro do meu corpo e eu fechei os olhos com força. Ele estava com ela. Todo esse tempo eu soube disso, eu considerei essa ideia, mas ao mesmo tempo meu coração tinha esperanças de que seu amor ainda era meu. De que seus pensamentos me pertenciam. Mas ali estava ele e alguém que não era eu. Uma pessoa que estava em seus braços que não era eu. Mas ele estava bem, então era tudo que eu precisava saber. Esse foi o motivo pelo qual eu havia saído de casa, sido perseguida colocando minha vida em risco: pra saber se ele estava bem. E de falo ele estava, mas, agora, eu não mais. Nunca estive, mas fui lembrada disso. Minha visão turvou a imagem dos dois por causa das lágrimas. Meus músculos não respeitavam meu comando. O que eu estava fazendo ali me martirizando mais? Essa imagem ficaria na minha cabeça por muito tempo.

 

– Lorena! – ouvi sua voz assustada e aquilo me fez reagi.

 

Saí correndo por todo o jardim desviando dos corpos e sentia seus passos rápidos vindo atrás de mim. Meu pulmão estava quase explodindo, mas eu tinha que alcançar o carro que eu havia deixado no portão da mansão.

 

– Lorena, espera! – sua voz gritava em meio ao silêncio e eu continuei correndo sem olhar pra trás.

 

Alcancei o carro e as chaves tremiam em minha mão enquanto meu nervosismo me impedia de conseguir abrir a porta, seus braços fortes me seguraram me imprensando no carro. Fechei meus olhos com força. Não queria sentir aquele toque, não queria olhar em seus olhos, não queria ouvir nada.

 

– Me solta, Justin! – falei entre o choro e suas mãos seguraram com força meus braços.

– Pára! Deixa eu te explicar, olha pra mim! – falou nervoso enquanto eu me debatia desesperada.

– Eu não quero ouvir, só me deixe ir. – pedi aos prantos sentindo minhas pernas fraquejarem.

 

Já havia perdido o tempo de quantos dias estavam sem essa proximidade. Eu ouvia pouco a sua voz e agora ela estava ali perto dos meus ouvidos me arrepiando. Suas mãos fortes a me segurar me impedindo todos os movimentos que eu tentava fazer.

 

– Pára de me medir forças comigo! Se acalma, porra! – gritou tentando manter a voz firme, mas eu sentia ainda o tom de preocupação.

 

Num impulso, forcei a perna direta a dobrar num movimento forte pra cima e meu joelho foi com exatidão nas partes do Justin que instantaneamente me soltou levando suas mãos até seu pênis e seus gemidos de dor saíram alto de sua boca. Aproveitei os braços livres e entrei no carro disparando dali. As lágrimas pioravam minha visão. Apenas acelerei torcendo para que eu não batesse em nada, mas eu mal estava me importante com a impunidade da velocidade. Eu apenas queria voltar para a casa do Chaz e tentar fazer com que meu coração cessasse aquela dor. Logo, estacionei o carro em frente a sua casa e saltei correndo para dentro de casa. Tranquei a porta e meu peito subia e descia em movimentos rápidos e visíveis por causa da minha respiração ofegante. Chaz já estava acordado andando de um lado para o outro e assim que entrei ele ficou estático analisando aquela cena. As portas estavam atrás de mim, eu sentia, mas não podia sair dali, não conseguia. Procurei um ponto longe e minha visão ficou parada ali enquanto meus pensamentos voavam. Meu coração iria explodir, eu tinha certeza disso.

 

– O que aconteceu? – Chaz perguntou agora próximo de mim enquanto suas mãos foram até minhas bochechas gélidas e coradas por causa da friagem.

 

Minha voz não saía. Eu estava assustada com toda aquela cena e me sentia triste e humilhada por causa da cena dele com a Kimberly. Por que fui me preocupar com ele? Por quê? As lágrimas começaram a cair e eu me sentia em transe. Chaz sacudia meu corpo para que eu o respondesse, mas eu não podia. Não podia tocar naquele assunto, não podia proferir aquelas palavras. Não podia e não queria ouvir minha voz dizendo aquilo. Dizendo que Justin já me esqueceu, que não sou mais sua garota, que não sou mais nada para ele. Que alguém já está no meu lugar ou talvez eu que nunca pude ocupar o lugar dela e ela sempre teve o lugar dela na vida do Justin. Agora eu sou passado, não sou presente. Ou será que nunca fui presente e Kimberly nunca foi passado? Meu corpo estava dormente, não conseguia sentir o sangue quente caminhando dentro de mim. Não sentia nada, não sentia mais dor, não sentia mais nada. Era uma caixa vazia. Chaz pegou meu corpo e apenas senti seu toque em meu braço me arrastando para o sofá.

 

– Você está pálida. – sua voz falou e eu a ouvi tão distante que quase não pude escutá-la.

 

Eu não estava ali. Minha alma ainda estava lá na escada observando Justin e Kimberly sendo felizes.

 

 

POV Justin

 

– Não consegui alcança-la. – falei derrotado assim que entrei na casa de novo avistando Kimbelry um pouco mais calma sentada no sofá.

– Preciso ir embora. – disse se levantando do sofá.

– Eu vou com você. – falei firme verificando se a chave do carro estava no bolso.

 

Kimberly me olhou tentando dizer algo, mas eu a interrompi.

 

– Acho que você já me impediu muita coisa em relação a ela, não me impeça isso. – falei olhando em seus olhos e ela retribuiu o olhar um pouco pensativo e por fim deu de ombros de um jeito para mostrar que tudo bem, que eu podia ir.

 

Meu pensamento estava em Lorena. Havia tanta coisa agora que eu queria que ela soubesse. Tanta coisa que eu queria que ela estivesse aqui para eu poder dividir com ela, como a alegria de saber que tenho outra filha e a preocupação de saber que ela tem câncer. Não sei como Lorena reagiria ao saber que Kimberly tem uma filha minha, mas aquilo não estava me preocupando no momento, eu apenas tinha que saber se tudo acabaria bem.

Kimberly e eu entramos no meu carro e ela foi me guiando a direção para me dizer onde era o hospital. Ainda me sentia como se de repente fosse acordar. Aquilo era meio louco, meio fora da realidade, mas eu estava louco pra conhecer minha filha, mesmo que eu estivesse em transe e em choque, eu também estava muito feliz. Estacionei em frente ao hospital e Kimberly estava desarmada em relação ao seu orgulho. Parecia serena calma e amável. Não estava com sua cara fechada, estava apenas relaxando e deixando aquele momento acontecer, apesar da sua apreensão ser notável. Meu coração acelerava cada segundo mais. Estava perto de ver e conhecer uma parte minha que sempre existiu e eu nunca soube. Kimberly caminhou com liberdade até um dos elevadores e permanecemos em silêncio enquanto ele subia os andares. A porta abriu e senti todo meu corpo se arrepiar com aquele momento, me sentia um idiota. Kimberly caminhou, mas então parou um pouco nervosa passando as mãos no cabelo.

 

– Não fala que você é o pai dela. – disse fazendo uma careta de confusão.

– E por que não? – arqueei uma sobrancelha.

– Não quero confundi-lá. – deu de ombros.

– O que você disse sobre o pai dela?

– Eu disse que você trabalhava em outro planeta e por isso vocês não podiam se ver. – falou com um pouco de vergonha e eu comecei a rir alto. – Qual a graça, Justin? – falou franzindo a testa.

– Saudações, terráquea! Me leve até o seu superior. – falei imitando uma voz de ET.

– Para Justin, isso não tem graça! – disse revirando os olhos. – O que você queria que eu dissesse?

– Você não tinha que ter escondido ela, tudo seria mais fácil. – falei ficando sério.

– Sim, tudo seria fácil. Eu não estaria mais viva nem ela. – falou sendo irônica e eu estalei a língua no céu da boca.

– Então tá tudo bem. Eu trabalho em outro planeta e vim visita-la só que pra sempre. – falei dando de ombros entrando na brincadeira.

 

Kimberly riu de canto de um jeito meigo e se virou caminhando até um quarto. Parou em frente a porta e eu gelei. Atrás daquela parede estava meu novo anjinho. Meu anjinho dodói, mas tudo ficaria bem e ela voltaria a voar e dessa vez ela aterrissaria em meus braços. Kimberlu virou para mim antes de entrar e me encarou tentando encontrar as palavras certas.

 

– Obrigada. – disse fraco e eu sorri fraco.

 

Parecia que a ficha ainda não tinha caído. Queria meus dois pequenos ali vivendo aquilo comigo. Queria Lorena ali orgulhosa de mim. Queria que todos estivessem ali para conhecer minha nova princesa. Kimberly abriu a porta uma corrente passou por todo o meu corpo.

 

– Mamãe! – ouvi sua voz fininha antes mesmo de entrar no quarto.

 

Fiquei parado antes de atravessar a porta. Ouvir a voz da Cindy fez com que mais um choque de realidade acontecesse em mim naquela noite. Eu ainda estava sobre a adrenalina e não tinha parado pra pensar no que aquilo significava. De onde eu estava, não conseguia vê-la.

 

– Trouxe uma surpresa pra você! – disse Kimberly de um jeito doce. Parecia outra pessoa na presença da filha.

– O que, mamãe? – ela perguntou alto num tom feliz. Eu já estava me apaixonando por aquela menina.

– Adivinha quem veio te visitar? – perguntou Kimberly fazendo um pequeno suspense. Eu jamais pude conhecer aquela Kimberly mãe tão amável.

– Quem, mamãe? – perguntou ainda mais estridente, nem parecia uma garotinha que estava doente. Sua vozinha estava enchendo meu peito de alegria.

 

Kimberly veio até a porta depois de alguns segundos percebendo que eu estava estático, mas forcei meu corpo a ter forças e em um passo que dei meus olhos já cruzaram com os olhos aquela menininha loirinha com o sorriso largo e seus olhos iguais os da mãe que encarava a entrada da porta esperando sua surpresa surgir.

 

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