Broken

 

POV Justin

 

Ainda estava meio atordoado. Andava e agia pensando em outras coisas, com a cabeça em outro lugar. Mal sei como consegui acertar o caminho de volta pro hospital. Era como se eu estivesse próximo de desabar. Aquela tensão de já sentir como se seu corpo caísse em um abismo, mas seus pés ainda estão cravados ao chão. Sentia vontade de chorar, mas as lágrimas não caíam mais. Talvez por tudo ser tão estranho e não parecer verdade.

 

– Sr. Bieber? - uma voz feminina alcançou meus ouvidos antes que eu entrasse no elevador, me tirando do meu buraco negro de pensamentos.

 

Virei a cabeça pra trás vendo a enfermeira da Cindy vindo em minha direção enquanto seu sapato branco estalava no chão a cada passo rápido que ela dava.

 

– Tenho boas notícias. - disse forçando um sorriso. De fato ela já não gostava de mim. - Seu exame de sangue poderá ser feito hoje. Está em jejum? - perguntou sem me encarar muito enquanto anotava algo em sua prancheta.

– Sim, não comi nada. - falei um pouco mais animado. Pelo menos uma notícia boa.

– Então me acompanhe. - disse se virando e eu a segui até o final do corredor onde havia uma sala bem pequena.

 

– Sente-se. - disse abrindo um pequeno armário no alto e pegando a seringa descartável, a agulha e três tubinhos.

 

Me sentei, relaxei meu braço no apoio da cadeira e ela se aproximou amarrando firme um elástico em meu braço. Meus pensamentos voltaram a ficar longe enquanto ela recolhia o sangue necessário. Já estava ficando acostumada com a sensação de torpor. Lorena, Lorena... nunca imaginei que poderia sentir toda a dor que você estava me causando. Desejei que junto com o sangue, aquela seringa podesse sugar a dor. Não era um sentimento no qual eu tinha facildade de lidar. Na verdade, dor foi o que eu senti ao ver meu pai abandonando a própria família, quando vi meu melhor amigo morrendo na minha frente, quando vi minha mãe chorando por me ver arrebentado. Isso que eu estava sentindo por saber que Lorena estava com outro tinha outro nome. Era muito mais forte que dor. Era com certeza outro nível de dor. Fechei meus olhos sentindo o choro anunciar em minha garganta, mas engoli a seco. Não era hora daquilo. Manti apenas a testa franzida. Não era apenas o peito que doía. Minha cabeça estava doendo pra caralho também.

 

– Está sentindo dor? - subitamente a voz da enfermeira preencheu o ambiente silencioso e eu abri os olhos vendo-a sorrir.

 

Neguei com a cabeça soltando uma risada fraca pelo nariz.

 

– Esse é o ultimo. - disse erguendo o ultimo tubinho.

 

Voltei a relaxar na cadeira enquanto fitava o teto. Tinha que haver uma maneira de não pensar tanto nela.

 

– Pronto! - disse colocando os tubinhos um do lado do outro em um suporte. - Sabe, Sr. Bieber, você chegou na hora certa. - disse pegando um pedaço de algodão de todo o maço e colocando em cima do pontinho de sangue que havia ficado marcado em meu braço. - A Cindy é uma criança tão querida por toda nossa equipe. Estamos torcendo que o senhor seja compatível. Nossa meta sempre foi salvar nossa pequena. - falou docemente. Acho que era primeira vez que ela se dirigia a mim daquela forma carinhosa.

– E por que não fizeram isso antes? – perguntei um pouco rude dando de ombros enquanto me levantava.

– Sr. Bieber. – disse um pouco sem jeito. – A Cindy está na fila de espera e o tipo de sangue dela não é muito comum, porém ela está reagindo bem aos medicamentos. Ela têm se mantido viva e é isso que importa.

– Não, não é isso que importa. – falei debochado. – Ela fora desse hospital e esse câncer completamente morto. É isso que importa. – falei abrindo a porta em seguida e saindo daquela sala minúscula que já estava me dando vertigem.

 

Segui até o elevador e logo entrei nele subindo até o andar onde Cindy estava. A porta se abriu e eu caminhei pra fora já avistando um dos seguranças que eu havia mandado vir pra cá.

 

– Algum problema? – perguntei me aproximando.

– Não, senhor. E com todo o respeito, senhor, sua filha é uma graça. – disse sem mudar a expressão.

– Eu sei. – bati em seu ombro dando um sorriso. – Já conheceu ela? – perguntei orgulhoso.

– Sim, e espero que ela se recupere logo, senhor. – disse com o corpo bem ereto e sem me encarar. Essas caras que trabalhavam para mim já haviam servido para o exército e sabiam ter postura perante o superior deles.

 

Ri pelo nariz batendo de leve em suas costas.

 

– Bom trabalho, bom trabalho. – falei indo em direção ao quarto dela.

 

Abri a porta devagar e Kimberly virou o rosto para mim assim que a porta se abriu. Ela estava em pé ao lado da cama de Cindy analisando a pequena dormir.

 

– Ela está bem? – perguntei fechando a porta e me aproximando do outro lado da cama.

– Mais ou menos. – respondeu encarando a menina. – Está um pouco mole por causa dos remédios. É sempre assim. – falou repousando uma mão sobre a testa da Cindy.

– Acabei de fazer o exame de sangue. Em breve teremos resposta. – disse baixo para não acordar Cindy.

 

Kimberly me encarou sorrindo como se alguém tivesse injetado ânimo em suas veias. Seus olhos marejaram e eu retribuí o sorriso, mas creio que não tão grande e verdadeiro como o dela.

 

– Tô esperançosa quanto a isso. – falou ainda sorrindo. – Cindy não pode esperar mais. – falou abaixando o olhar. – Ela tem sido tão forte esse tempo todo e é apenas uma garotinha de três anos. – disse com o tom de voz ficando triste.

– Eu tenho certeza que tudo dará certo. – falei tentando manter o tom da voz firme.

– Papai? - a voz fraca de sono de Cindy invadiu o quarto e nós dois a encaramos surpresos.

– Oi, minha princesa. - falei bagunçando seu ralo cabelo. - Já acordou?

– U-hum. - ela sorriu sem mostrar os dentes. - Por que demo-ou tanto pa chegar? - disse esticando os bracinhos.

 

A peguei no colo pela primeira vez tendo uma reação boa do meu corpo. No meio de tanto sentimentos ruins, meus filhos ainda eram os únicos que podiam me fazer sorrir com sinceridade. Seus bracinhos rodearam o meu pescoço e ela deitou sua cabeça em meu ombro.

 

 

– Tive que resolver umas coisas. - falei caminhando pelo quarto enquanto Kimberly sentava no sofá e nos olhava com um brilho no olhar e os braços cruzados.

– E cadê minha muneca? - perguntou levantando a cabecinha do meu ombro e me olhando espevitada.

 

Que merda! Eu tinha esquecido completamente da boneca.

 

– Sabe o que é? - comecei a falar tentando inventar alguma coisa. - Eu...eu...eu vou trazer uma bonequinha de verdade pra você. - falei tendo uma ideia.

– De verdade? - perguntou pensativa.

– Na verdade vou trazer dois pra você conhecer, mas um é um meninão. - falei sorrindo pensando em Chuck e Alice.

– Dois, papai? - disse surpresa levantando os dois dedinhos.

– Sim, eles são os seus irmãozinhos.

– Eu tenho irmãos? - perguntou confusa.

– Tem, princesa. Eles são bebezinhos. - falei brincando com o seu narizinho enquanto ela parecia pensar um pouco confusa.

 

Olhei para Kimberly e ela tinha o semblante um preocupado com aquilo, mas também esperava, assim como eu, que Cindy falasse algo.

 

– Mas papai, mamãe não tem outro neném. Ela só tem eu. - disse sem entender.

 

Suspirei sentando na outra poltrona e Kimberly ainda analisava tudo sem se meter.

 

– Mas esses são só filhinhos do papai. - falei calmo.

– Eles não ficalam na biba da mamãe igual eu, não? - perguntou um pouco triste.

– Biba? - sibilei franzindo a testa em confusão olhando pra Kimberly que disse "barriga" enquanto ria por eu não ter entendido.

– Não, eles não ficaram na barriga da sua mãe. - falei forçando um sorriso e torcendo pra que as perguntas acabassem, mas Cindy fitava o chão com um dedinho na boca enquanto parecia pensar.

 

– Eles não têm mamãe?

– Tem. - engoli a saliva sentindo Lorena invadir meus pensamentos outra vez.

– Ela é a sua namolada? - perguntou sorrindo. - Mamãe disse que vocês não dão beijo puque papai tem otra namolada. - disse sapeca e meu coração se agitou. - Sua namolada é a mamãe dos nenéns? - perguntou toda espertinha e eu tentei disfarçar a dor com um sorriso fraco e Kimberly me olhava pensativa enquanto eu assentia sem força em resposta. - Sua namolada é bonita igual a minha mamãe? - perguntou sorrindo mexendo na gola da minha blusa.

 

Deu vontade de falar que a "namorada" do papai era a filha da puta mais linda que eu já tinha visto, mas uma criança de 3 anos não merecia ouvir meus problemas.

 

– Ela é bonita sim e seus irmãozinhos também são lindos que nem você. - disse forçando um entusiasmo tentando mudar o clima.

 

Cindy ia dizer alguma coisa, mas a porta foi aberta e uma outra enfermeira entrou com uma bandeja com o que parecia ser o almoço da Cindy. Aquilo me fez lembrar que eu estava um bom tempo semcomer e nem ao menos havia pregado os olhos nas ultimas horas. Meu corpo estava cansado e eu estava apenas agindo no automático.

Cindy saiu do meu colo subindo na cama com a ajuda de Kimberly que a ajeitou para que começasse a comer. Me levantei na poltrona soltando o ar de forma pesada enquanto a enfermeira saía do quarto. Me aproximei da Cindy dando um beijo em sua testa enquanto o sorriso de Lorena parecia debochar de mim em meus pensamentos. Cindy continuou atenta em comer e eu me virei saindo do quarto. Lorena, cada letra de seu nome era uma apunhalada em meu peito, era um chicote ardendo em meu corpo, era uma pancada latejando em minha cabeça.

 

– Justin? - a voz da Kimberly ecoou de forma lenta pra dentro dos meus ouvidos quando eu já estava no corredor.

Me virei e ela veio andando ficando mais próxima de mim. Eu já estava dormindo em pé ou as imagens estavam demorando a se formar em minha cabeça?

 

– Você está pálido! Está se sentindo bem? - perguntou preocupada.

– Minha mulher está com o cara que tentou me matar, não sei quando será o próximo ataque do Lucio, meus filhos convivem com um filho da puta e não comigo, descobri que tenho uma filha com câncer... acho que está tudo perfeitamente bem e normal. - falei debochado, mas na verdade havia um choro entalado insistentemente na minha garganta.

 

Ela revirou os olhos cruzando os braços.

 

– Não precisa responder feito uma criança. - bufou.

– Kimberly, - falei tombando um pouco a cabeça para o lado. - Todas as estruturas que pareciam sólidas desabaram sobre a minha cabeça. Eu não preciso que você me acerte mais uma pedra. - falei tentando manter a voz firme, mas foi em vão porque ela parecia soar mais triste do que rude.

 

Seus olhos invadiram os meus e ela mordeu o lábio inferior enquanto abraçava os próprios cotovelos.

 

– Você fala como se a culpa fosse minha.

– E não é? - perguntei irônico me irritando. - Se eu soubesse de tudo desde o começo, eu nunca ia deixar você matar Alana. Aliás, já tínhamos resolvido que não íamos matar Alana. Será que não passou pela sua cabeça que ele ameaçaria você com a vida de Cindy?

– E-eu não sabia que...

– Ele não ia deixar barato? - perguntei tomado de ira.

– Não! - disse e as lágrimas já brilhavam em seus olhos. - Eu não sabia que ele tinha conhecimento da Cindy. - disse finalizando com uma mordida no lábio enquanto as primeiras lágrimas começavam a cair.

– Kimberly, você sabe que o cara é foda. Ele compra qualquer um. Ele sempre sabe de tudo! - disse estourando.

– Justin, eu não imaginei que...

– Chega! Eu não quero mais ouvir sua voz. Eu não quero mais ouvir suas desculpas idiotas! Eu te conheço, Kimberly Ambrossa. Infelizmente eu te conheço.

– Por que você esta falando isso? - perguntou me olhando com receio.

– Eu sei. - respirei soltando o ar por entre um riso de nervoso. - Eu sei que você fez tudo de propósito! Você sabia que eu estava prestes a ir atrás da Lorena! Você sabia que mais uma vez estava me perdendo pra ela... só que você nunca esteve no lugar dela! Você sabe disso! Você sabia que eu precisava dela! Você matou Alana porque assim Lucio bagunçaria minha vida outra vez e o espaço entre mim e Lorena continuaria nos separando! Você quis colocar minha vida de cabeça pra baixo outra vez porque você sabe que eu não ia querer colocar a vida dos meus filhos e da Lorena em risco de novo, então eu não iria procura-la! - esbravejei tentando manter a voz apenas audível, já que estávamos em um hospital.

– Justin... - ela disse entre os soluços.

– Você é muito burra! A armadilha virou contra o amador, não é mesmo? Foi pega pela própria traição. Lucio quer a Cindy, ele não quer meus filhos. Você não contava com isso, não é mesmo? - perguntei debochado.

 

Kimberly se desmanchava em lágrimas mantendo a cabeça baixa. O arrependimento havia batido? Lógico, mas só porque Cindy estava em perigo. Agiu como uma amadora impulsiva sem calcular as consequências. Segurei seus braços com força aproveitando que só meu segurança parecia estar no corredor.

 

– Assume, Kimberly! Assume que se Cindy está em perigo a culpa é toda sua! Você colocou a vida dela em risco! – falei sacudindo seu corpo.

– Justin, eu precisava de você. Eu precisava da sua atenção, eu precisava que você me visse que me enxergasse. Lorena já estava fora do seu caminho há cinco meses e você agia como se o tempo não estivesse passando, como se eu não estivesse ao seu lado. – falou em meio ao choro. – Cindy estava cada vez pior, nenhuma melhora, nada! E eu não sabia mais como te contar, mas eu tinha que te contar. Eu estava desesperada.

– Isso nunca será justificativa. – disse entredentes.

 

 

– Mas pelo menos explica. – falou como se bastasse.

 

Soltei o ar passando a mão pelo cabelo. Eu estava me controlando para não fazer uma besteira. Meu dia já havia começado bem, para não dizer ao contrário e Kimberly era a única vulnerável que eu poderia despejar todo o meu ódio.

 

– Justin, por favor... – falou espalmando as mãos em meu peito e eu a olhei com desprezo. – Eu errei, eu sei que eu errei. Eu enfiei os pés pelas mãos, eu fui impulsiva, eu não pensei, mas tenta me entender, eu estava desesperada! – disse se explicando, mas nem ela mesma estava convencida das suas próprias palavras.

– Você foi egoísta. Você não pensou em mim, você não pensou na sua própria filha! – falei tirando suas mãos de mim e a empurrando sem muita força.

– Eu pensei nela, sim. Justin! Eu fiz de tudo pra manter você perto dela!

– Mentira! Você nunca ia me procurar se o Lúcio não tivesse te ligado! Você ia continuar escondendo ela de mim.

– Não, Justin! Não, não, não... eu estava prestes a te contar tudo, mas entenda que era difícil pra mim. – disse com a testa franzida em desespero e suas lágrimas ainda desciam.

 

Nunca a vi naquele estado, tão fora de si, tão sem máscaras, sem orgulho. Estava ali vendo a Kimberly como ela sempre foi, mas tentava esconder: desesperada, sem rumo, impulsiva e completamente imatura. A encarei sem dizer mais nada. Qualquer coisa que eu falasse, seria em vão. Não seria o suficiente pra transparecer meu ódio, minha raiva, minha indignação. O mundo caindo aos meus pés e eu apenas tinha que me manter intacto, sem cair, sem fraquejar, sem me desesperar. Não podia chorar, não podia esbravejar, não podia gritar. Nem ao menos poderia ter Lorena do meu lado transformando as coisas complicadas em simples. Agora era somente eu comigo mesmo. Me virei negando com a cabeça enquanto olhava para Kimberly. Só queria ir para casa.

 

– Justin. – ela segurou meu braço e a voz saiu como uma súplica.

 

Virei meu rosto para encará-la esperando que ela prosseguisse. Sua respiração estava alta e ela engoliu a seco antes de começar a falar.

 

– Não vá embora, eu preciso de você. – falou fraca.

– Eu vou ficar, mas não por você, pela Cindy. – falei rude e continuei andando sentindo suas mãos largarem meu braço.

 

***

 

 

O tempo todo parecia que as pessoas me olhavam como se soubesse o quanto minha vida estava arruinada. Todos os carros que passavam por ou estacionavam do meu lado pareciam que estavam a me caçoar. Eu ouvia risadas na minha mente como se o mundo estivesse contra mim. Lorena com Chaz era algo que vinha nos meus pensamentos sem eu nem caminhar ao encontro disso. Ela estava com ele. Ela preferiu ele. Meus filhos estavam com eles e eu não podia fazer. Não sabia se iria ser atacado outra vez, como poderia trazer meus filhos pra minha vida se não era seguro nem pra eu mesmo estar nela? Como eu consegui fazer tanta merda a ponto de transformar minha vida nesse lixo? Eu estava com mais ódio do que tristeza. Ou apenas estava tentando me manter com mais ódio para não chorar. Estacionei o carro em frente a minha casa e quando entrei pela porta avistei minha mãe de braços dados andando de um lado para o outro enquanto alguns homens consertavam tudo que estava quebrado na sala e os buracos na parede. Seus olhos vieram até a mim e ela me olhou cobrando respostas. Soltei o ar caminhando até o meu escritório. Paz, onde é que você se meteu. Sentei em minha cadeira e minha mãe passou pela porta com os braços ainda cruzados e aquele semblante de irritação com preocupação.

 

– Justin. – começou a falar enquanto eu relaxava o corpo na cadeira e fechava os olhos. Parecia que meu corpo todo já estava ficando dormente por causa da dor reprimida dentro de mim. – Eu não quero saber o que aconteceu. – disse séria. – Eu nunca me meti nessa sua vida, mas eu quero que meus netos continuem frequentando a minha casa sem eu ficar preocupada se eles vão levar um tiro. – conclui completamente irritada.

 

A olhei enquanto balançava a cabeça assentindo de forma lenta. Apoiei os cotovelos na mesa levantando as mãos até a testa e abaixei a cabeça.

 

– O que está acontecendo, Justin? Me fala. O que está acontecendo com a sua vida? – perguntou se aproximando.

 

Levantei meu rosto e havia apenas um branco em minha mente, eu não conseguia pensar em nada para responder. Queria apenas me drogar. Só drogado aquelas coisas sumiam da minha vista, da minha vida, mas isso também não iria resolver.

 

– Justin, eu estou falando com você. – insistiu.

 

Respirei fundo encostando as costas na cadeira mais uma vez e fitei o nada.

 

– A Kimberly tem uma filha minha, mãe. – falei fraco se encarar sua reação, mas o suspiro alto já me fazia imaginar a cara dela. – Ela tá com câncer. – falei deixando uma lágrima escapar.

– Que? Mas como? Espera... – disse fraco segurando o coração e caindo em cima da cadeira de frente pra mesa. – Uma filha com a Kimberly? Você não...

– Não, eu não tinha a menor ideia. – falei desabando.

– C-câncer? – perguntou fraco e eu assenti fitando o centro da mesa na minha frente.

 

Um breve silêncio reinou no ar e as lágrimas começaram a descer. Tentei limpar a primeira, a segunda, até a terceira, mas então deixei pra lá. Eu precisava daquilo. Minha mãe se levantou vindo até a mim e me abraçou com força acarinhando minhas costas. Me levantei abraçando seu corpo também completamente atordoado. Os soluços saíram alto e aquilo só piorava meu estado.

 

– A Lorena não quer mais, mãe. Ela não me ama. Ela olhou pra mim e disse que não. Como? – perguntei fraco sentindo as pequenas mãos da minha mãe em meus cabelos.

– Filho, dê um tempo pra Lorena, por favor. – disse chorando também. – Se preocupe agora com essa criança. É apenas um bebê e você sabe que isso... isso complica tudo entre você e Lorena.

– Não, mãe. A Kimberly não engravidou agora. Ela escondeu isso de mim. A Cindy tem 3 anos e é a criança mais esperta que eu já conheci. – falei sorrindo enquanto as lágrimas continuavam a cair.

– Ai, meu Deus! Mais uma netinha. – disse rindo e chorando assim como eu.

 

Me livrei de suas mãos e comecei a caminhar pelo meio do escritório enquanto tentava me acalmar. Passava as mãos pelo cabelo, fitava o nada enquanto minha mãe analisava meus passos parecendo colocar as informações em ordem.

 

– Eu não sei o que eu vou fazer... – falei parando e fitando o nada. – Mas primeiro eu tenho que salvar minha filha.

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