Tudo Será Apenas Um Pesadelo

 

POV Justin

 

Dirigi até o hospital completamente desnorteado. Eu sorria fraco pra mim mesmo. Ninguém seria capaz de entender a felicidade que eu estava sentindo. Finalmente Lorena e eu havíamos nos acertado e no mesmo instante recebo a notícia que sou compatível e posso tentar salvar minha filha. Passei a mão na boca como se a limpasse. Sentia meus lábios secos. Eu estava ansioso e mal conseguia parar de sorrir. Parecia que Lorena trazia tudo aos trilhos novamente. Se ela estava na minha vida, até as coisas mais complicadas e aparentemente impossíveis eram capazes de ocorrer num estalo.

Estacionei o carro no estacionamento do hospital. Já devia passar de meia noite, pois estava tudo muito parado e bastante silencioso. Andei até o hospital e segui o corredor que dava acesso ao elevador. Entrei, apertando o terceiro andar, e não via a hora de sair dali. A porta se abriu e eu saí já mirando a porta do quarto de Cindy. Kimberly me olhou instantaneamente. Estava parada em frente à porta com uma expressão ansiosa e uma mão na boca. Seus olhos brilharam assim que me viu e ela se aproximou me abraçando. Ainda estava irritado com tudo que ela fez, mas não pude deixar de me envolver no momento. Poderíamos não ter nada. Poderia ate não existir amor entre nós dois, mas Cindy era nossa e eu entendia sua felicidade. Retribuí o abraço que durou alguns segundos e ela depois se separou me encarando com um ar de alívio.

 

– Eu nem acredito nisso. – disse maravilhada.

– Onde ela está?

– Ainda está dormindo. O médico pediu pra enfermeira avisar assim que você chegasse, porque ele quer logo adiantar tudo. – disse com euforia.

– Senhor Bieber? – uma voz feminina chamou atrás de mim e eu me virei vendo a enfermeira. – Já sabe da notícia pelo visto. – sorriu e eu sorri em resposta. – O doutor que te ver o mais breve possível. Vamos aproveitar que ele está de plantão, me acompanhe. – disse simpática e em seguida saiu andando estalando seu sapato no chão.

 

Olhei rapidamente pra Kimberly que tinha os olhos marejados e assentia para que eu a seguisse. Ainda estava um pouco desnorteado e perdido. Eu mal sabia o que eu teria que fazer, só sabia que salvaria minha filha e depois voltaria pra buscar minha mulher o mais rápido possível.

Fui em sua direção e entramos no elevador. Descemos no primeiro andar e caminhamos mais um pouco até uma sala um pouco escondida. A enfermeira bateu de leve na porta o ouvimos a voz grosso vindo lá de dentro pedindo pra entrar. Ela sorriu pra mim e abriu a porta dando passagem para eu adentrar. Dei um passo e o médico sorriu para mim me reconhecendo e logo seguida a porta foi fechada atrás de mim.

– Sente-se, rapaz. – disse apontando a cadeira em frente a sua mesa e eu o fiz sem dizer nada. Ainda me sentia apreensivo e perdido. – Não sei quem tem mais sorte, você ou a pequena Cindy.

 

Sorri pelo nariz. Ele podia enrolar menos e começar a fazer lá o que tinha que fazer. Minhas mãos suavam e eu fechei o punho em nervoso disfarçando a inquietação.

 

– Se ela sair dessa, você poderá conhecer melhor a linda garotinha e esperta que ela é. Acho que os dois têm sorte. – disse brincalhão.

– O que tenho que fazer? – falei cortando aquele lengalenga.

– Você ficará em observação até amanha. Encaminharei você para uma sala de cirurgia próxima da sala de cirurgia da Cindy, entenda que o líquido deve ser transportado o mais rápido possível para que não haja contaminação. A doação é feita em centro cirúrgico, sob anestesia, e tem duração de aproximadamente duas horas. Temos grandes chances, garoto.

– Até amanhã? Não pode ser hoje? Agora? – perguntei confuso. – Não há outro jeito? Não podemos andar logo com isso? Pra que esperar mais? – perguntei desnorteado e me alterando.

 

Lorena me esperava e eu não podia fazer ela se arrepender disso. As coisas ainda não estavam cem por cento resolvidas. Eu ainda tinha tanta coisa pra explicar, tanta coisa pra colocar em ordem. Não podia perder tempo enfurnado no hospital. Tinha que haver outra maneira. Lúcio ainda estava solto por aí com certeza tramando algo e eu não podia deixar Lorena sozinha nem mais um minuto.

 

– Sim, senhor Bieber, você ficará em observação até amanha. – repetiu frisando as duas últimas palavras. - Esses são os procedimentos corretos. Farei alguns exames, incluindo exames complementares para confirmar o seu bom estado de saúde e então começaremos os procedimentos para o transplante. Não podemos agir de qualquer jeito feito loucos. Deixa eu te explicar melhor como ocorre o transplante de medula. – disse se ajeitando na cadeira e eu mal me importava com suas palavras. Só percebia toda a minha vida se embolando outra vez.

– Mas tem que ter essa espera toda? Não posso voltar pra casa hoje? – perguntei contando-o quando o mesmo começava a falar sobre medula óssea, os cuidados e blá blá blá.

– Eu preciso desses exames. Você voltando pra casa hoje só atrasará tudo. Entenda, eu estou com uma equipe inteira apenas nesse caso e agiremos o mais rápido possível, mas preciso da sua colaboração. – disse um pouco mais sério.

 

O encarei por alguns instantes, mas eu não queria confrontá-lo. Eu tinha noção de que ele era o médico e ele saberia o que fazer. Todos ali tinham um carinho imenso pela Cindy e todos estavam dispostos a mantê-la viva. Mas e Lorena? Eu tinha que busca-la. Eu tinha que tirar ela de lá. Sabia que aquilo não duraria meia hora. Eu apenas a buscaria e a levaria para minha casa e ponto final. Não podia errar com ela outra vez.

 

– E então senhor Bieber, está disposto a salvar sua filha ou não? – perguntou me cortando dos meus devaneios.

 

Respirei fundo. Pediria ajuda do Ryan outra vez. Ele poderia buscar Lorena apesar de eu mesmo estar querendo isso, mas agora eu tinha as minhas prioridades. Um dia Lorena entenderia. Não quero passar a imagem de errante, mas agora eu tinha motivos maiores pra isso. Ela teria que me entender.

 

– Tudo bem. – suspirei derrotado.

– Perfeito! Vou pedir pra enfermeira encaminhar você até o quarto. Durante a madrugada seus exames serão feitos e até amanhã a noite esse transplante será realizado. – disse feliz e satisfeito.

– E como Cindy está? – perguntei sério.

– Já esteve melhor. Ela lutou até onde pôde e agora você chegou para continuar lutando por ela. Isso foi de grande ajuda e muito inesperado. Sabe, garoto, nessas horas dos milagres que ocorrem na medicina é que nós médicos consideramos a existência de Deus. Se você não estivesse aqui, essa chance não existiria e com certeza nós já estaríamos contando com o óbito da paciente.

 

Me estremeci ouvindo suas palavras. Eu mal poderia conhecer Cindy. A insanidade de Kimberly e a irresponsabilidade dela me matavam toda vez que eu me pegava a imaginar que Cindy poderia morrer sem me conhecer. Mordi os lábios e o médico se levantou esticando uma das mãos. Me levantei no mesmo instante esticando uma das mãos também.

 

– Nos vemos em breve. – disse com um sorriso sincero.

 

Logo em seguida ele chamou a enfermeira que parecia que nos esperava do lado de fora e deu todas as instruções. Não prestei muita atenção no que eles diziam, apenas acompanhei mais uma vez a enfermeira enquanto pegava meu celular e esperava o mané do Ryan atender.

– Fala, Drew. – disse com a voz cansada.

– Sem perguntas, pega o carro vai até a casa do Chaz e pega a Lorena. – falei rápido.

– Do que você tá falando, cara? Você já viu que horas são? – perguntou irritado.

– Faz o que eu to mandando, depois eu explico. – falei impaciente.

– E se ela não quiser vir, faço o que? Amarro ela e sequestro? – perguntou sarcástico mas em um tom ainda irritado.

– Ela já está lá me esperando, mas não posso sair do hospital agora, então faça isso você.

– Ah, se resolveram, é? Essa noite tá foda, mais uma surpresa e acho que você me conta que vai mudar de sexo. – disse tentando fazer piada.

– Deixa de ser idiota e faz logo o que eu estou falando. Leva uns seguranças com você. – falei mandando entrando no elevador junto com a enfermeira.

– Tranquilo e se Chaz estiver lá e barrar tudo?

– Porra, Ryan, você tem quantos anos? – perguntei irritado. – Mete a porrada no otário, cara. Mas já que você não vai fazer isso que eu sei, então você liga pra ela antes de sair de casa e pergunta se a barra tá limpa. Se ele estiver lá, ela vai dar um jeito. Você só fica esperando no carro. Deixa que o Chaz eu pego sozinho depois. Ele me deve uns machucados pelo corpo. – falei sorrindo de canto.

– Tranquilo. Você me deve essa. – disse reclamando, mas ouvia o carro sendo ligado.

– Já é, parceiro. – falei desligando e saindo do elevador.

 

A enfermeira me guiou até um quarto no mesmo andar do quarto da Cindy, mas Kimberly não estava mais pelo corredor.

 

– Posso ver minha filha antes de ir pro quarto? – perguntei vendo ela passar direto na porta de Cindy.

 

Ela olhou apreensiva para o relógio em seu pulso e depois olhou para mim com um sorriso fraco e tímido.

 

– Cinco minutos e nada mais.

 

Andei até a porta abrindo devagar e olhei Kimberly perto da cama de Cindy com uma mão sobre a sua testa. Fechei a porta e me aproximei. Kimberly me olhei de relance e voltou a olhar pra Cindy.

 

– O que o médico disse? – perguntou ainda encarando Cindy com um sorriso nos lábios.

– Que vai fazer o transplante amanhã e que a Cindy já estava no limite. Graças a Deus que aparece. – falei irritado olhando para ela esperando que ela fizesse o mesmo.

 

Ela não o fez. Mas sua fisionomia mudou. Me encarar nunca seria uma opção para Kimberly quando ela estava errada, isso não era novidade. Eu sabia que ela já tinha consciência que sua atitude de não me contar havia retardado toda a melhora de Cindy e eu sabia também que ela estava arrependida e como aquilo devia doer, saber que por orgulho quase matou a própria filha. Mas aquilo não me importava! Eu iria lembrar Kimberly pra sempre daquilo.

Fiquei alguns minutos ali apenas encarando minha pequena a dormir tão calmamente. Havia cor novamente em seus pequenos lábios e ela não estava mais tão pálida. Olhar para ela fazia com que tudo parecesse calmo. A porta foi aberta e eu olhei para trás vendo a enfermeira sorrir. Entendi e me despedi de Cindy com um beijo na testa.

Já em meu quarto, a enfermeira me entregou uma roupa do hospital para vestir já que eu não havia trazido nada e tomei um banho. Estava feliz. Tudo estava caminhando bem. Nada podia dar errado. Apesar de ter pensado que essa noite podia dormir ao lado de Lorena, estava tudo bem. Teríamos o resto da vida para isso. Eu não ia deixar essa garota ir embora nunca mais. Nem que eu tivesse que a amarrar ao pé da cama. Ela era minha, apenas minhas. Seu corpo, seu cheiro, seus pensamentos e seu coração pertenciam a mim. Sorri pensando em nós dois a algumas horas atrás. Como eu estava com saudade de sentir seu corpo no meu! Como era bom olhar em seus olhos e tê-la de novo.

Terminei meu banho e deitei na cama. Não era muito confortável, mas eu estava cansado e não custou muito para eu dormir. Só queria que o outro dia começasse e que tudo acontecesse logo.

 

 

POV Lorena

 

Já havia arrumado as malas. Estavam escondidas embaixo da cama quase Chaz aparecesse antes de Justin. Pra falar a verdade, eu não queria que aquilo acontecesse. Sabia que daria problema na certa. Eu não devia satisfação a Chaz, mas eu estava na casa dele a meses e me sentia mal por isso. Ele não era uma pessoa ruim, era apenas um garoto que me amava. Mas eu tinha que seguir meu coração, eu tinha que ser feliz ao lado do homem que EU amava.

Sentei no sofá da sala um pouco apreensiva. Os minutos passavam e nada acontecia. Liguei a televisão, desliguei a televisão. Abri as geladeiras mil vezes e me recordei que eu nada queria dali. Apenas queria me distrair. Andei de um lado para o outro. A saudade de Chuck e Alice já começava a apertar e logo eu os veria. Sentei outra vez no sofá e logo ouvi um carro estacionar na frente da casa. Os faróis entraram pela janela e eu sorri. Podia ser o Chaz, podia ser o Justin, mas eu já estava sorrindo só de imaginar que podia ser o Justin. Me aproximei da porta para abri-la, mas a pessoa foi mais rápido do que eu abrindo primeiro.

 

Chaz.

 

Minha respiração parou. Senti os estalos dos meus batimentos cardíacos em meu ouvido. Merda! Justin cadê você?

Chaz se comportava feito um bêbado. Sorria sem ao menos eu entender qual era a graça e caminhou direto pra sala se sentando no sofá com uma expressão abobalhada. Eu apenas analisava tudo sem entender. Meus pensamentos estavam em Justin e na confusão que aconteceria assim que ele chegasse.

 

– Senta, Lorena. Você precisa saber disso. – falou gargalhando ainda sentado no sofá.

 

Fechei a porta e me aproximei com uma expressão confusa. Eu contaria logo o que eu iria fazer ou esperava Justin chegar? Os pensamentos flutuavam em minha mente embaraçando minha cabeça. Andei lentamente até o sofá e encarei aquela fisionomia endiabrada do Chaz. Já estava ficando incomodada com tamanha alegria sem motivo algum aparente.

 

– Eu nem sei como te contar isso, mas você tem que saber. – disse tentando ficar sério, mas as risadas loucas brotavam incontrolavelmente de sua boca.

– Fala logo. – falei completamente confusa.

– A Kimberly teve uma filha do Justin. Dá pra acreditar? – falou rindo mais.

 

Olhei para ele sem entender. Era como receber uma forte pancada sem você esperar. E nos primeiros minutos você fica sem reação pois nem esperava que recebesse tamanha bofetada. Mas qual é. Era apenas Chaz. Era apenas Chaz aparentemente bêbado capaz de inventar qualquer coisa para me afastar de Jusitn. Ele já estava desconfiado da visita de Fernanda. Pronto, tudo se encaixou e eu relaxei.

 

– Chaz, menos. – falei tranquilo. Não queria me irritar com aquilo. Já haveria irritação o suficiente naquela noite.

– Não acredita? Então liga pra ele, quem sabe ele te conta tudo. – disse me entregando seu celular.

– Eu não preciso ligar pra ninguém, você está inventando isso. – falei começando a me irritar. Meu corpo começou a considerar aquela ideia.

 

Me lembrei do telefone que ele recebeu e de todo o seu mistério. Não. Aquilo não podia ser verdade. O que o Justin tinha para me explicar depois?

 

– Liga. – disse sério me ameaçando.

 

O encarei por alguns segundos e peguei o celular discando pro Justin. Mas antes que eu apertasse o Send, meu celular começou a vibrar em cima da mesinha e Chaz se curvou para ver quem era. Vi Ryan na tela e o encarei. Ele sorriu dando de ombros.

 

– Atenda e pergunte pra ele então. Com certeza Justin apenas mentirá outra vez. – relaxou no sofá complemente despreocupado.

 

Por que ele estava agindo tão confiante? Não. Isso não podia estar acontecendo. Isso não podia ser verdade. Me desesperei pegando o telefone. Minhas mãos tremiam com o objeto entre elas.

 

– Alô. – falei com a voz falha.

– Lorena, eu to... – disse e eu o cortei.

– Ryan, a Kimberly teve uma filha dele? – perguntei rápido e completamente alterada sentindo o choro embolar na minha garganta.

 

Houve um silêncio e Chaz me fitou esperando minha reação. Apenas ouvi a respiração pesada do Ryan do outro lado da linha e fechei os olhos deixando as lágrimas caírem. Eu não queria ouvir aquilo que Ryan estava prestar a dizer, eu não podia ouvir aquilo. Não! Vou abrir os olhos e tudo será apenas um pesadelo.

 

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