Amigos?

 

– Quem domina meu coração não é a mesma que domina o meu corpo.


Mentir era algo tão fácil, principalmente quando se tem uma pessoa pra acreditar. Nessas horas sentia falta de ter alguém que me olharia com desdém e rolaria os olhos me indicando seu ar de reprovação perante minha mentira. Lorena. Ela sim sabia exatamente quando eu estava mentindo, mas infelizmente não tinha a mesma capacidade de saber quando eu estava falando a verdade. Talvez até tivesse, mas eu machuquei tanto seu coração e torturei tanto sua confiança que metade de mim dava razão a ela.

Kimberly estava enrolada no lençol com seu corpo apoiado sobre o meu e eu já havia despertado a alguns minutos. Talvez já tivesse se passado algumas horas. A verdade é que estava morgado na cama pensando nela e as horas passavam sem ao menos eu me der conta. O lençol cobria até minha cintura deixando exposto meu peito desnudo. Encarei o teto com uma mão atrás da cabeça e o silêncio em que o quarto se encontrava fez com que todos os pensamentos rondassem justamente nas lembranças que eu não poderia pensar.

 

Flashback moden-on.

 

– Vem comigo? – perguntei olhando em seus olhos.
– Justin, sua mãe nem me conhece.
– Eu digo que somos namorados. Minha mãe é super moderna, ela vai adorar ter a nora em casa.
– Justin, eu vou morrer de vergonha. Ela vai achar que eu tenho um péssimo gosto. – disse ela deixando escapar um sorriso.

 

Ela estava me zoando, mas não me irritei afinal aquilo tinha a feito sorrir.


– Boba. – falei colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. – Não vou deixar você na rua sem destino. Você vem comigo. – falei puxando seu braço, mas Lorena ainda relutava com aquela proposta e continuava mantendo seus pés firmes no mesmo lugar me encarando apreensiva. – O que foi? – perguntei.
– Por que você está sendo fofo comigo? – perguntou ela confusa, mas com uma expressão triste.


Me calei. Desviei meu olhar pra qualquer coisa, menos seus olhos. Corei. Não sabia o que responder.


– Hein? – ela insistiu.
– Lorena. – disse com dificuldade agora tentando olhar para ela. – só não acho certo te deixar sem rumo. – menti.
– Só isso? – insistiu ela.
– Só. – falei, mentindo. Ela pareceu desapontada, mas eu não iria me entregar de mão beijada.

 

***

 

Ela abriu os olhos sentando na cama assustada e ofegante.


 

– Eu... eu disse... pra você que... eu ia ter... pesadelos. - disse entre uma respiração e outra. Eu sorri abafado ao ver ela naquele estado.

– E eu disse que ia estar aqui se você acordasse assustada.


 

Ela passou a mão no rosto e forçou o cenho ao perceber suas lágrimas.


 

– Eu estava chorando? - perguntou confusa.

– Sim e chamando meu nome. - eu disse um pouco convencido.

– Tá, Justin! Eu não vou acreditar nisso. Desiste!

– Não estou mentindo.

– Ah é. E o que eu disse? - perguntou Lorena contrariada.

– Disse pra eu não deixar você também.

 

***

 

– Lorena, você nao me conhece - disse irritado.

– Conheço! – gritou.

– Por que você é tão teimosa? – perguntei a encarando bem próximo de seu rosto.

– Porque eu não quero ser mais uma em suas mãos.

– Eu não quero que você seja mais uma. Eu to disposto a fazer você a única. Só me dá um tempo... Por favor - falei em um suspiro juntando nossos lábios.

Minha língua pediu passagem e ela cedeu. Depois de um tempo, parti nosso beijo devagar.

– Fica comigo, por favor.

 

***

 

– Tem alguma coisa que você não consiga fazer perfeitamente? – perguntou sorrindo apaixonada enquanto terminava de por a blusa.
– Tem: eu não consigo deixar você ir embora.

 

***

 

– Tá vendo o Sol? - sussurrei em meu ouvido. - Ele sempre se vai. Você pode passar a noite mais escura e fria, mas no dia seguinte você sabe que ele está aqui, não sabe?

 

Ela assentiu mirando o pôr-do-sol

 

– Então, se um dia eu te deixar sozinha numa noite escura e fria, não se preocupe porque na manhã seguinte eu voltarei. Eu nunca vou te deixar. - disse baixo em seu ouvido e depois dei um leve beijo em minha nuca. – Eu sempre voltarei pra você. Não importa o quão longa essa noite seja.
– Por que você está dizendo isso como se você fosse embora? - perguntou num tom triste.

Me calei enquanto o horizonte ficava cada vez mais escuro com o Sol se escondendo atrás do morro.

– Só estou dizendo. – dei de ombros e abracei sua cintura.

– Sabe, - falou depois de um longo silêncio. - Você não pode ser meu Sol. 
– Por que? 
– Porque eu nunca deixaria você ir embora.

 

***

 

Me escondi na cozinha e já tinha planejado tudo com Fernanda e Ryan. Era errado dar sustos em grávidas, mas eu não resisti à ideia de ver sua carinha preocupada. Ryan e Fernanda mal disfarçavam, estavam gargalhando do sofá já imaginando a cena quando ouvi Lorena descer as escadas.

 

– O que foi? – ouvi sua voz curiosa enquanto Ryan e Fernanda riam.

– Nada. - respondeu Fernanda ainda rindo. - O Ryan só estava me contando uma piada. – concluiu mentindo super mal.
– Cadê o Justin? – Justamente a perguntando que eu esperava.

 

Levei a mão à boca tampando o riso enquanto ouvia a resposta no Ryan.

 

– Ue! Ele não te contou que ia voltar pra Atlanta hoje?
– O QUE?! – ela se alterou e eu não aguentei mais.


Ryan e Fernanda se olhavam sem dizer nada enquanto eu caminhava devagar atrás da Lorena vendo os dois segurarem o riso. Fernanda não aguentou mais segurar e soltou um riso alto e Ryan também riu. Abracei Lorena por trás depositando um beijo em seu pescoço e seu corpo amoleceu em meus braços e ela soltou uma respiração relaxada enquanto eu ria.


– Isso não teve graça! - falou um pouco envergonhada enquanto suas bochechas coravam.

– Teve sim! Você tinha que ver a sua cara. - disse Fernanda enquanto recuperava o folego.

 

***


Ninguém fazia aquilo melhor do que Lorena. Ninguém dominava meu corpo como ela fazia. Ela dominava, manuseava como se fosse dela. Como se fosse uma criança com ciúme do seu brinquedo. Só ela toca, só ela pode. Só ela, só ela.

 

***


– Então vamos nos casar? – perguntei segurando seu rosto.

– Você ainda quer?

Analisei um pouco a questão e ela me olhou desapontada.

– Tudo bem, você pensou! Então você não está certo disso. – falou se levantando um pouco triste.

– Não, claro que estou certo. Eu estava pensando só em como iríamos fazer isso. – falei atropelando as palavras.

– Fala sério, Justin! Você demorou a responder. – disse óbvio.

– Tá bom, então me pergunte de novo. – falei rindo e ela bufou tentando não rir.

– Você ainda...

– Quero! – a cortei e ela sorriu pelo nariz. – Viu, agora não demorei pra responder.

Lorena corou envergonhada com um sorriso que fez seus olhos marejarem e brilharem. Me aproximei segurando seu rosto de leve com as duas mãos.

***

 

– Será que dessa vez vamos ficar juntos pra sempre? Sério, porque se eu te perder de novo eu juro que não vou atrás de você.

– Ah é, é? – perguntou retorcendo os lábios pra esconder um sorriso.

– Claro! – disse óbvio. - Sempre acho que é pra sempre, que vou ter que te superar, que vou ter que te esquecer e cá estamos nós. – falei gesticulando. – Então pra que que eu vou atrás de você? – É só esperar você perceber que não vive sem mim. – piscou.

 

Flashback moden-off.


Mesmo com o olhar fixo sem piscar em um ponto qualquer no teto, uma lágrima conseguiu escorrer do canto caminhando até minha orelha. Estranhamente, eu estava começando a acreditar que não nascemos pra dar certo. Estava começando a me convencer de que ela nunca seria minha. Mas ao mesmo tempo eu me perguntava por que conseguimos chegar tão longe? Se não era para durar, então porque aconteceu? Eu não sei se eu devia ir atrás ou se devia ficar. Meu orgulho tentava consumir cada poro, cada fração do meu corpo, mas em meu peito meu coração gritava em dor, em saudade.

Prometi pra mim mesmo que não iria atrás dela caso ela fosse embora outra vez, mas ao mesmo tempo eu tinha a necessidade de esclarecer tudo. Nós não podíamos terminar por causa de uma coisa mal esclarecida, mas eu não sabia onde ela estava. Ela fazia parte de mim agora como o ar que eu respirava. Me mantinha vivo, mas eu não podia tocar, nem ver. Duas, três, quatro lágrimas e eu apenas tinha que fazer aquilo enquanto ninguém estivesse vendo. Enquanto eu não colocava minha máscara pra fingir pra Kimberly de que estava satisfeito com ela e que nossa noite tinha sido perfeita quando na verdade nada tinha graça se não fosse com a Lorena.

Aquilo já estava começando a doer, o choro já estava conseguindo me sufocar e era muito humilhante me sentir assim. Me ajeitei de leve na cama tirando o corpo de Kimberly de cima do meu e ela se ajeitou no travesseiro. Sentei na cama enxugando o rosto e minhas mãos se estacionaram na boca enquanto eu fitava um ponto perdido. Era tão fácil me mante distraído quando eu pensava em Lorena.



– Justin? – a voz fraca da Kimberly me tirou do torpor e eu virei minha cabeça pra encará-la.

– Que? – perguntei seco.

– Deita aqui. – disse manhosa colocando a mão no canto vazio ao seu lado.

– Vou tomar banho. – me levantei na cama ignorando-a e antes que eu pudesse chegar no banheiro, sua voz preencheu o quarto me fazendo virar.

– Pelo menos seja menos cafajeste. Ontem eu prestava pra você. – reclamou se aproximando com a raiva já plantada nos olhos.

– Não confunda o seu arrependimento com as minhas atitudes. Eu estou agindo normal. – falei tentando manter a calma.

– Poderia pelo menos se esforçar pra ser agradável. Ontem você parecia bem entretido, né? – cuspiu as palavras.


Revirei os olhos impaciente e me virei não querendo prolongar aquela discussão sem fundamento, mas Kimberly insistiu.


– Vai lá. – disse cínica. – Toma o seu banho e sai pra procurar a piranha que você chama de “mulher da sua vida”. Aproveita e agradece o Chaz por mim e avisa que vale muito a pena vê a sua cara de corno.


Fechei o punho enrijecendo o maxilar. Quem ela pensa que é pra falar comigo desse jeito? Tocou exatamente na ferida exposta, tocou exatamente onde sabia que ia doer, mas não esperava que aquilo me irritasse muito mais do que doesse. Me virei tentando comprimir a raiva dentro de mim, mas meu sangue fervia. Corri em sua direção e ela se assustou dando passos pra trás. Peguei em seu pescoço sentindo que poderia descontar toda a raiva que eu estava do mundo nela. Kimberly agarrou minhas mãos tentando se livrar do apertão, mas minha raiva me deixava mais forte e minha mente não refletia, apenas havia um breu. Num movimento rápido, ela ergueu o coxa acertando minhas bolas com seu joelho e a dor aguda me fez curvar o corpo.


– Não me confunda com a Lorena! – gritou vermelha. – Eu sei me defender.

– Seu sonho é que um dia eu te confunda com ela. – falei cínico massageando minhas bolas pra parar a dor. – Mas você não merece metade do meu respeito que ela merece.

– Que respeito? Você quase a matou, Justin! Isso é respeitar? Você ama falar mal de mim, mas você é tão sujo quanto eu e é exatamente por isso que no final de tudo você me procura. – se alterou.

– Você não é nada. – tentei dizer qualquer coisa, mas o foda é que ela tinha tirado toda a razão que eu achei que tivesse.

– Nem você. – deu de ombros cruzando os braços com seu ar de superioridade.

– Você se acha muito foda, né? Acho graça porque na hora de se render pra mim, você não pensa duas vezes. – tentei contornar.

– Isso não vem ao caso. – se irritou.



– Vem sim, claro que vem. – ri debochado. - Você não se conforma ao me ver feliz com a Lorena, você não se conforma com o meu amor por ela.

– Por favor, Justin. Não seja ridículo. – disse com um riso forçado, mas sua testa franzida mostrava sua irritação. – Se o seu amor mata, eu não me importo nem um pouco de ter só o seu tesão. – concluiu com um sorriso satisfeito.

– Você não sabe o que diz. – comprimi o punho.

– Eu sei exatamente o que digo. Você pode dizer que a Lorena te conhece, mas a única que te conhece de verdade sou eu. – gritou. – Eu sei que seu rosto bonitinho esconde, eu sei muito bem a pessoa ruim que você é quando quer ser.

– Cala a boca. – gritei com a raiva embagando minha voz.

– Ruim ouvir a verdade, não? – se aproximou com os braços ainda cruzados e seu sorriso debochado. – Ruim saber que por sua culpa, sua pirralha foi embora com seus filhos. – sorriu. – Ruim saber o quanto você é filho da puta, ruim saber que você quase a matou. – começou a se alterar e minha raiva subia mais e mais começando a deixar o meu corpo pesado. – Ruim saber que ela fugiu com o cara que te jogou numa piscina desacordado. – suas mãos espalmaram em meu peito desnudo enquanto eu a ouvia calado com os pensamentos a mil. – É muito ruim lembrar que eu te salvei? – perguntou sussurrando olhando em meus olhos e uma mão foi até minha nuca.


Ela tentava parecer sexy, mas aquilo estava patético. Ri de canto completamente enojado e revirei os olhos sem encará-la mais.


– Difícil pra você assumir o quanto eu sou importante na sua vida, né Justin? – sussurrou segurando minha boca.

– Você não é nada, já disse. – falei sério segurando seus braços numa tentativa de afastá-la.


Kimberly se aproximou de meu ouvido colocando uma mão em meu ombro.


– Imagina como ela deve estar gemendo o nome do Chaz agora. – sussurrou provocando e meu sangue ficou quente.


Fechei os olhos com força, mas já era tarde demais, eu já tinha imaginado. Aquilo me enfureceu, mesmo que só por pensamento. Empurrei seu corpo com força e ela se desequilibrou caindo no chão. Sentia uma força sobrenatural dentro de mim como se minha raiva tivesse vida própria. Kimberly me olhava assustada do chão enquanto seu peito se movimentava ofegante.


– Eu odeio você. – gritou começando a se levantar e eu a chutei jogando-a no chão outra vez e a imobilizei. – Me solta. – gritou tentando se livrar de minhas mãos segurando o seu braço.

– Nunca mais na sua vida fale isso. – falei sentindo minha voz sair trêmula por causa do nervosismo.

– O que? Que você é um corno? – provocou com ódio e acertei em cheio sua bochecha que na mesma hora ficou quente com o impacto e ela gritou. Segurei sua boca com força lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Seu corpo estava inquieto debaixo do meu tentando se livrar de mim.

– Papai? – ouvi a voz abafada e cansada de Cindy do outro lado da porta e nós dois nos encaramos sério.

– Vai pro banheiro. – sibilei ordenando sem destampar sua boca e ela negou com a cabeça. – Quer que sua filha veja sua cara desse jeito? – perguntei me irritando e ela fechou os olhos com força enquanto as lágrimas escorriam.


Ergui seu corpo ainda tampando sua boca e caminhei segurando ela até o banheiro. Seus soluços altos tampados pela minha mão estavam começando a me comover, mas ela pediu por aquilo. Entrei no banheiro com ela fechando a porta e liberei sua boca. Minha mão estava um pouco molhada por causa de suas lágrimas, já estava começando a ficar com pena daquela cena. Kimberly mirou o chão enxugando as lágrimas e eu a encarei por alguns segundos e depois saí do banheiro fechando a porta. Andei até a porta e abri olhando pra baixo e Cindy coçava os olhos segurando sua boneca.


– Oi, minha princesa. – sorri sentindo meu coração cortado.


Abaixei pegando-a no colo e a ergui caminhando pra fora do quarto que estava uma bagunça.


– Cadê minha mamãe? – perguntou um pouco sonolenta.

– Está dormindo. Você tá com fome? – perguntei caminhando pras escadas.

– Um pouco, mas eu quelo minha mamãe. – disse ficando triste.

– Calma, vamos esperar ela acordar. – falei beijando sua testa e ela deitou sua cabeça no meu ombro.


Cheguei na cozinha e a coloquei sentada no balcão. Cindy alisava o cabelo da boneca com as mãos e balançava suas perninhas.


– Papai, cadê meus irmãos? – perguntou sem me encarar.


Meu coração foi apertado e senti as lágrimas querendo marejar meus olhos. Eu queria ter resposta pra essa pergunta, como eu queria. Pensei no que responder, mas ela não estava me encarando pra ver como minha fisionomia estava completamente babaca. Até que a voz da minha mãe cortou meus pensamentos.


– Bom dia, meu amorzinho. – disse se aproximando de Cindy e eu me afastei.

– Vou tomar banho. – falei me virando e assim que me pus de costas, a lágrima caiu e eu a enxuguei.


Subi as escadas e voltei pro meu quarto. Kimberly estava deitada na cama chorando baixo. A olhar daquele jeito foi apenas um modo que a vida fez pra me mostrar o quanto monstro eu havia me tornado.



Qualquer coisa me tirava do sério, qualquer coisa agora era motivo pra extrapolar. Mesmo que ela tivesse feito tudo para que eu explodisse, eu sabia que ela estava apenas magoada por eu ter usado ela. Mas qual é, eu sou homem. Eu não controlo meus impulsos. Me senti mal com aquela cena e fechei a porta me aproximando da cama. Sentei de leve a passei a mão em seu braço.


– Sai daqui. – ela falou sem tirar o rosto do travesseiro.

– Deixa eu ver. – falei baixo e ela não se mexeu.


Puxei o travesseiro do seu rosto e ela o tampo com as mãos.

– Me deixa em paz. – disse chorosa.


Tirei suas mãos do rosto com um pouco de dificuldade e a bochecha arroxeada foi exposta. Estava quente e muito ferida, não imaginei que fosse ficar assim. Apenas achei que estaria vermelha, mas estava muito feio.


– Desculpa. – falei fraco.

– Não peça desculpa pelas coisas que você não se arrepende. Você sempre amou me machucar. – se sentando na cama.



– Melhor a gente parar com isso, tá ficando perigoso pra você. – falei triste.

– O que? – respondeu erguendo o rosto sem entender.

– Eu e você. Nunca aconteceu e nunca vai acontecer. É apenas uma coisa te que machuca e me faz momentaneamente bem. – falei tentando ser o mais sincero que eu pudesse.

– Obrigada pela sua sinceridade cortante. – disse com um sorriso forçado abaixando os olhos.

– Você merece ser feliz. – falei tocando sua bochecha machucada e ela ergueu a cabeça outra vez me fitando com seus olhos. – E eu quero fazer feliz outra pessoa. – conclui vendo ela reprimir os lábios e as lágrimas escorrendo.

– Outra pessoa que não está aqui. – disse tentando voltar a ser a Kimberly.

– Não me importo, enquanto eu estiver respirando, eu vou amar a Lorena. – dei de ombros.

– Incrível como você gosta de se torturar.

– Kimberly, olha pra você. Você se tortura por mim e eu me torturo por ela. É apenas um ciclo vicioso e errado.

– Você poderia mudar isso se quisesse. – me olhou pedante.

– Eu já tentei, mas eu não consigo.

– Tudo bem. – disse se levantando da cama e eu a acompanhei com o olhar. – Sempre foi um jogo que ninguém nunca quis perder, mas aqui estamos nós perdendo juntos. – disse com a voz chorosa.


Assenti abaixando a cabeça. Ela tinha razão. Minha relação com ela sempre foi louca. Desejo e ódio. Mesmo que eu tivesse vontade de explodir sua cabeça certas horas, eu tinha a total noção de tudo que ela já tinha feito por mim. Posso arriscar em dizer que havia uma amizade, uma amizade que tínhamos certeza que por mais que nossos olhos se cruzassem com ira, nós jamais deixaríamos um ou outro na mão.


– Eu não quis te machucar. – falei me levantando e me aproximando.

– Eu também não quis me apaixonar por você, mas aconteceu. – deu de ombros.

– Amigos? – perguntei com um sorriso torto.

– Nunca. – respondeu com o mesmo sorriso que o meu.


Nos encaramos por alguns segundos e eu sorri fraco me virando em direção ao banheiro. Tomei um banho rápido e quando saí do banheiro, ela não estava mais lá. Me aproximei do armário vendo perto da cabeceira da cama uma maquiagem aperta, não entendia muito daquilo, mas parecia um creme ou algo do tipo que ela pudesse usar pra tampar um pouco do machucado. Troquei de roupa e meus pensamentos estavam tão vazios. Eu não tinha a menor noção do que poderia fazer. Apenas peguei a chave do carro e saí do quarto. Desci as escadas e vi que minha mãe, Kimberly e Cindy estavam na sala vendo televisão enquanto riam das gracinhas da Cindy.


– Onde você vai? – minha mãe perguntou um pouco preocupada vendo que eu estava pronto pra sair.

– Não faço a menor ideia. – dei de ombros me aproximando pra beijar minha pequena.

– Toma cuidado. – ela disse já entendendo que eu sairia pra procurar a Lorena.


Assenti saindo de casa e entrei no carro. Na verdade, eu não queria ir atrás da Lorena. Aquilo era muito humilhante. Eu não queria mais chorar, eu não queria mais que aquilo doesse. Eu apenas queria me distanciar de tudo e voltar quando estivesse me sentindo melhor. Já estava na estrada e apenas continuei seguindo para onde a estrada quisesse me levar. Não deixei que os pensamentos me consumissem. O céu estava claro, o sol brilhava e por mais que tudo conspirasse pra estar perfeito, eu me sentia em um dia nublado. Já não tinha noção de quantos quilômetros eu havia rodado e de quantas lágrimas eu havia secado antes que elas tocassem minhas bochechas. Eu já estava já estava numa estrada vazia e mirava apenas a frente.



Mas algo chamou minha atenção e eu encarei o retrovisor vendo que um carro preto havia começado a me seguir.

Tópico: Amigos?

Kimberly

Thaís | 16/07/2014

Sou muito mais a Kimberly, cara essa Lorena me irrita, menina fresca.

omg

omg | 27/08/2013

omg

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