HNS

POV Justin

Estava sentado na poltrona do jatinho batendo meus pés sequencialmente no chão e encarando o nada com o dedo indicador repousado em meu lábio e o polegar em meu queixo. Eu não conseguia raciocinar ou pensar no que fazer tendo uma estratégia. Parecia que todos os pensamentos reflexivos estavam fora do meu alcance e eu jamais conseguiria respirar lentamente e me manter calmo para pensar melhor. Simplesmente não dava. Havia milhões de pensamentos instigando minha reflexão, mas nenhum deles me prendia além da Lorena, além dos meus pedidos calados para que eu a encontrasse viva. Era tudo que eu queria. Eu desejava sim ter a chance de acabar com o Nolan e toda sua vingança com as minhas próprias mãos, mas o meu desejo maior é que ela ainda estivesse com vidae para ter a chance de me esperar e salvá-la. Meu peito estava apertado. Eu sentia uma raiva descomunal invadindo cada poro meu. Tentava não pensar nas crueldades que ele poderia estar fazendo com Lorena, mas esses pensamentos eram tão absolutos que dominavam a minha mente. Kimberly e Ryan estavam em silêncio sentados à minha frente e na expressão de cada um eu via uma desesperança muito convidativa, mas eu só iria aceitar o pior como fim quando aquele jatinho aterrissasse e eu pudesse ir atrás da Lorena para constatar sua morte.

- 15 minutos para o pouso. –Philips, meu piloto particular, avisou pelo microfone e eu me levantei já sentindo o cano da arma em minha barriga.

Kimberly me olhou analisando meus passos enquanto Ryan parecia completamente desacreditado.

- Se arrumem, peguem suas coisas, preparem o que tiverem que preparar. Eu só vou parar quando encontrar ela. - falei firme fitando os dois que se entre olharam esperando um a reação do outro.

- Você sabe que isso pode ser uma armadilha, Justin. - Kimberly disse séria.

- Eu sei e mesmo se eu não soubesse, você já falou isso umas 200 vezes de Atlanta ate aqui, então eu saberia do mesmo jeito. - falei rolando os olhos sem paciência.

- Pois é, mas somos tolos o suficiente pra virmos com você. - murmurou se levantando.

- Não comecem. –Ryan falou soltando uma respiração pesada.

- Eu só estou tentando fazer o Justin fazer isso com consciência. – Kimberly se justificou se virando para ele. -Não da pra se arriscar e achar que alguém de bom coração mandaria aquela caixa com todas aquelas informações. – concluiu em tom óbvio.

- Mas aquela caixa é a únicainformação que eu tenho! - gritei. – Não vou ignorar isso.

- Não aja feito um iniciante despreparado e completamente impulsivo. Isso não combina com uma execução perfeita. Temos que ter estratégias e você sabe disso. – rebateu relutante.

- Você fala feito um militar! - exclamei sem paciência.

- Eu falo feito um militar porque estamos indo pra uma guerra, você tem que ter consciência de que está atrás dessa pessoa há meses. - falou cruzando os braços e Ryan rolou os olhos se metendo.

- Eu tenho uma mulher em casa quase parindo, Justin, eu não posso morrer. Se tem alguma chance de fazer isso dar menos errado, então temos que ouvir a Kimberly. - disse receoso me fazendo soltar todo o ar do pulmão.

- Somos nós três pra salvar minha mulher e às vezes ainda sinto como se estivesse sozinho, como se fosse o único preocupado com isso. Mas tudo bem, eu já disse que posso fazer isso sem vocês. - falei sem saco.

- Como se a gente fosse te deixar na mão! Porra, se enxerga, Drew. - Ryan se irritou.

- Tudo isso por que você simplesmente não quer me dar razão?- Kimberly perguntou debochada.

- Kimberly, eu estou pouco me fodendo pra sua razão. Não quero ter razão, eu quero achar a Lorena. É a vida da minha mulher que está em jogo, não me admiro que isso só seja importante pra mim. - gritei e os dois se calaram.

- Você sabe que a Lorena é tão importante pra você quanto pra mim, mas eu tenho pessoas que precisam de mim. – Ryan disse preocupado.

- Então pense neles. Pense nas pessoas que estão esperando a gente voltar com vida e vamos fazer isso direito, vamos fazer pra ganhar. – falei e os dois se calaram com expressões pensativas.

Eles podiam achar que eu não era atento o suficiente pra ler na testa de cada um que eles estavam pensando na possibilidade dela já estar morta, mas eu notava suas expressões e não me deixava convencer. Não havia tempo pra pensar em outras condições e situações, não havia tempo pra pensar em perder a guerra, não havia espaço dentro de mim para suposições. Eu desceria daquele jatinho com sangue nos olhos e muita, muita garra pra encontrar aquele filho da puta do caralho. Lorena tinha que estar viva ou Nolan conheceria o meu limite, ele conheceria o animal que existe em cada um de nós. Ele conhecia o ser humano na sua mais natural condição, ele conheceria um cara sem lei, sem escrúpulos, sem moral e sem mais nada a perder.

Descemos do jatinho no aeroporto particular e pedi para Phelipsnos aguardasse ali mesmo. Não estava em meus planos demorar e precisaríamos de uma fuga rápida, pois eu não conhecia nada naquela cidade, muito menos o que me esperava nela. Eu acharia a Lorena (viva! - meus pensamentos gritavam), mataria o ultimo membro da família Bones e voltaria para Atlanta. Avistei dois caras de terno preto que nos esperavam com dois carros na vasta pista de decolagem. Com certeza eram os possantes que eu já havia reservado para pilotar de Flórida até Ocala. Andei pisando firme sem querer esperar Kimberly e Ryan e um dos caras de terno tirou os óculos erguendo a mão quando me aproximei.

- Senhor Bieber? É um prazer servir ao senhor. – disse forçando um sorriso simpático.

- Isso não é novidade nenhuma. Me passa a chave. - falei seco e ele olhou sem jeito para o homem ao seu lado e em seguida me entregou a chave enquanto Kimberly e Ryan se aproximavam.

- Quem vai dirigir o outro? - ouvi o outro cara de terno perguntando enquanto eu ia em direção ao carro que eu usaria.

- Eu! – Ryan e Kimberly responderam em coro.

Enquanto sentava em meu banco e ajeitava minhas coisas, vi Kimberly pegar a chave com força da mão do cara enquanto Ryan reclamava. Já estava com os pontos conectados e ouvia as vozes deles claramente em meus ouvidos. Kimberly tomou seu lugar no banco do motorista e Ryan entrou no carro também. Passei o cinto pelo meu corpo e liguei o carro acelerando e sendo entorpecido pelo barulho do motor. Os caras já haviam se afastado para irem embora quando acelerei mudando a marcha saindo dali e logo atrás Kimberly me acompanhou. Eu estava calado, mas dentro de mim havia tantas coisas que faziam meu corpo se eletrizar que eu me sentia em total adrenalina. Por mais que eu corresse, aquilo parecia levar anos. Liguei o GPS vendo qual rua seguir e pelo o que mostrava, em aproximadamente 45 minutos eu chegaria em Ocala.

- Justin, diminui, os tiras podem estranhar. Essa cidade parece ser calma. - Kimberly disse chamando minha atenção e sua voz parecia analisadora.

- A única voz que quero ouvir é a da mulher do GPS. - falei rude ouvindo um suspiro alto dela em reprovação.

- Você não está nisso sozinho. Diminua essa merda! – gritou irritada.

- Kimberly, faz o seu aí! Se fosse o cu do teu namoradinho na reta você estaria pior do que eu.

- Por que esta colocando o Max nessa discussão, Justin? - perguntou alterada enquanto eu não diminuía a velocidade. - Eu só quero que você faça as coisas direito, arrisque sua vida, não a dos outros.

- Kimberly, vai pra puta que pariu! - gritei querendo socar um.

- Belo argumento, parabéns. - falou debochada e eu estava a ponto de explodir e bater em seu carro para que ela rodasse na pista quando ouvi a voz do Ryan gritando no ponto.

- Parem de brigar feito um casal de namorados! Se foquem na Lorena e se foquem em voltar pra casa sãos, salvos e vivos. Não estou aqui pra ouvir briguinha de marmanjos. Meus pensamentos estão na Lorena e estão na minha mulher grávida me esperando em casa, tô preocupado com essa porra e nem por isso tô enchendo o ouvido de vocês. Merda! - concluiu ainda irritado fazendo com que nos calassem. Dirigimos por mais alguns minutos em total silencio. Uma vez ou outra eu e Ryan trocávamos rápidas informações enquanto Kimberly continuava quieta. Eu sabia que no fundo ela estava certa por querer agir com a cabeça no lugar, mas meu raciocínio e lógica iam por agua abaixo quando me dava conta que Lorena estava nas mãos dele, nas mãos de um cara que buscava vingança.

- Justin, é uma rua sem saída. - Ryan avisou confuso me fazendo sair do transe de pensamentos e encarar o matagal que se aproximava no fim da rua que seguíamos.

- Esse é o endereço que eu tenho. - falei parando o carro e tirando o cinto.

- Que pode estar errado. - Kimberly concluiu em voz debochada e eu estava tão alheio que nem me preocupei em respondê-la.

O Sol estava forte e eu suava embaixo da regata branca. Coloquei meus óculos e comecei a olhar em volta enquanto eles desciam do carro.

- E ai? - Ryan perguntou se aproximando.

- Vamos entrar nesse matagal. Se é um esconderijo, então obviamentenão fica à mostra. Vamos arriscar. A únicainformação que temos é que é na casa de numero 35 nessa rua e essa - falei apontando pra casa azul ao nosso lado. - é a 33. Aqui só tem casas com números impares, logo era pra ser a próxima, mas não esta aqui a vista. Teremos que fazer trilha. - falei e Kimberly se aproximou prestando atenção com a fisionomia seria sem dar o braço a torcer. - Vamos estacionar os carros em um lugar melhor para que possamos dar fuga depois com tranquilidade. Se deixarmos muitos estragos, teremos que fugir o mais rápido possível, nãopodemos perder nosso transporte.

- Eu vou achar um lugar para os carros. Vão na frente, eu encontro vocês. - Kimberly falou se virando e eu segurei seu braço fazendo ela se virar com a fisionomia em confusão. - Usa o colete. - pedi.

- Nem morta. - falou estressada se soltando da minha mão.

- Vocênão sabe se seremos atacados, não sabe o que nos espera. Você sabe que se tem uma mulher, eles caem em cima dela. - falei irritado fazendo Ryan concordar.

- Justin, eu não sou nenhuma menininha indefesa. Use o colete você! – gritou cuspindo as palavras

- Sónao diga que eu não te avisei. – dei de ombros.

- não vou precisar me lamentar. Nunca fui mulher disso. - falou se virando e indo em direção ao carro.

Ryan se virou pra mim negando com a cabeça achando graça da postura da Kimberly.

- Vamos? - perguntei passando a mãos na cintura e me certificando que a arma estava ali embaixo da regata, cravada em minha calça.

- Vamos! - Ryan respondeu.

Todas as vezes que precisei agir em alguma ação sempre aconteciam a noite justamente pela facilidade de se esconder e camuflar, mas como eu não podia perder tempo iriamos agir sob a claridade do Sol. Eu havia voado pra Ocala assim que li aquele, não iriaesperar anoitecer.  Andamos pelo matagal cautelosamente procurando por indícios. Logo em seguida Kimberly chegou para nos acompanhar. O mato estava bastante alto e estamos em uma distância de aproximadamente 20 metros de cada um.

- Vocêsestão vendo alguma coisa? - perguntou Ryan apreensivo em um tom sussurrado pelo ponto.

- Não. - Kimberly se apressou em dizer e de repente meus olhos se focaram na casa distante que eu comecei a notar a minha esquerda.

Engoli a seco suspirando baixo enquanto mantinha a raiva controlada dentro de mim com o coração acelerado.

- À esquerda. –informei falando firme e os dois viraram a cabeça notando o velho casebre.

Ryan e Kimberly me olharam se aproximando de mim enquanto eu sentia minhas pernas querendo correr ate aquele lugar.

- Não podemos nos aproximar mais. - Kimberly se apressou em dizer. - Têm dois homens armados ali, o mato não está mais tão alto naquela direção. - falou e eu a ignorei mantendo meus olhos fixos no casebre.

- Justin! - Ryan tocou meu braço me sacudindo e eu virei meu rosto lentamente vendo que os dois esperavam que eu falasse algo.

Eu só pensava em uma coisa: Lorena estava ali. Além disso, Lorena estava ali pagando o preço por ter escolhido viver ao lado e sabe-se lá o que estavam fazendo com ela. Não me contive. Eu não seria eu se estivesse tão perto e simplesmente recuasse. Eu estava ali, não tinha mais o que esperar. Eu estava ali para salvar ela.

- Vamos atacar. - falei por fim indo em direção a casa e ouvi a voz desesperada da Kimberly.

- Não, Justin! Volta, volta! Não sabemos quantos eles são, não podemos. - falou se aproximando de mim, mas não parei.

- Volta, Justin, volta! - ouvi a voz desesperada de Ryan que havia ficado parado no mesmo lugar massó me dei conta do que ele estava falando quando ouvi um disparo e em seguida Kimberly colocando a mão na barriga e se curvando.

- Eles nos viram! - gritou Ryan começando a atirar enquanto eu me agachava no chão tentando ajudar a Kimberly.

- Te acertaram? - perguntei nervoso já sabendo a resposta e seu olhar de ira se voltou pra mim.

- Eu falei pra vocênão ir. - gritou sentindo dor e ouvia os disparos enquanto Ryan tentava nos proteger.

- Consegue andar? - perguntei sentindo o coração acelerado.

- Foi de raspão, posso continuar.

- Não! Volta pro carro. - falei em tom de mando.

- Justin, eles fugiram e agora? - Ryan perguntou perdido escorado atrás de uma arvore e me voltei a Kimberly.

- Eu não vou voltar pro carro. - falou tentando ficar em pé e vi o corte em sua barriga enxercando sua blusa branca de sangue.

- Você vai voltar sim- falei entredentes sem paciência segurando firme seu braço.

- Justin, estamos perdendo tempo. - Ryan gritou impaciente.

- Eu não vou deixar você sozinho. - falou seria escondendo a tristeza.

- Você esta fragilizada, só vai piorar tudo se ficar aqui.

- Eu não vou...

- Kimberly, só volta pro carro. Eu não posso te perder assim. Não aqui, não agora, não hoje. Só volta pro carro e aguenta até a gente voltar. - gritei fazendo ela se calar enquanto mordia o lábio.

- Vamos, caralho! - Ryan gritou e eu me virei pra trás apreensivo rapidamente e voltei a encará-la.

- Vá! - falei abaixando o tom de voz tentando convence-la.

- Não morra, Justin. - disse frágil e vi seus olhos marejarem. – Não morra. – repetiu com o fio de voz e assenti devagar fazendo ela se virar voltando para onde havíamos deixando o carro antes que eu pudesse ver a primeira lágrima caindo.

Acompanhei seus passos, mas logo me virei respirando fundo e Ryan me olhou.

- Vamos pegar ele! - falei e começamos a correr para perto do casebre.

Peguei a arma em minha cintura e pisamos onde o mato não estava mais alto. Era justamente onde o casebre se encontrava. Parecia que mais ninguém estava ali, mas olhávamos em volta apreensivos e com as armas engatilhadas caso algum homem surgisse do nada. Eu estava focado na adrenalina, meu corpo inteiro estava rígido, mas meus músculos tremeram e senti um nó em minha garganta no exato momento em que ouvi o grito desesperado de Lorena que veio daquele lugar. Corri com os pensamentos completamente desfocados. Eu estava agindo feito um animal. Sua voz entrou em mim me deixando em uma completa falta de raciocínio.

 

POV Lorena

As horas passavam lentamente e meus calcanhares doíam cada segundo mais. Já havia perdido a noção do tempo em que eu estava naquelas condições precárias, mas podia sentir como se durasse a eternidade. Meus braços haviam perdido a circulação e estavam dormentes e arroxeados, eu mal podia senti-los. Eu não sabia mais o que era ter equilíbrio, pois não conseguia fixar meus pés no chão sem que meus joelhos fraquejassem se curvando. Estava completamente esgotada, não havia força em mim e a sede era tanta que minha boca não conseguia mais reproduzir quase saliva alguma. Meus braços ainda estavam suspensos pelas cordas que me amarravam os pulsos e em meus antebraços haviam o sangue escorrido por causa dos ferimentos causados pelo atrito cortante em minha pele. A ardência era insuportável, o cansaço fazia com que eu nem ao menos conseguisse manter meus olhos abertos direito e a sequidão em minha garganta chegava a me dar falta de ar. Sentia minha barriga revirar e dar longos roncos em busca de comida e mesmo de estômago vazio, havia uma ânsia de vomito frequente me causando mal-estar enquanto meu corpo reclamava de todas as formas que podia necessitando de alimento, água e um pingo de piedade. Eu não aguentava mais estar naquelas condições e estava suportando tudo além de todos os meus limites.

Me sentia humilhada, abandonada e completamente sem escolhas. No ar, um forte cheiro de urina que meu corpo não suportou carregar e nem ao menos eu tive mais força para contrair e conter o líquido. E é assim a degradação de um ser humano. Uma morte humilhante, lenta, completamente torturante, degradante e desumana. Mas a mesma proporção de coragem que eu tive naquele dia para matar alguém pelo os meus filhos, eu estava tendo para morrer por eles. Eu podia quase sentir a morte se aproximar em alguns momentos e me levar em seus braços para o céu, - pois o inferno eu estava conhecendo em terra - mas quando somos postos ao extremo é que percebemos o tamanho da nossa força e, por algum motivo, mesmo com dificuldade eu ainda estava ali, ainda estava viva, ainda respirava, ainda me mantinha conectada ao mundo.

A dor carnal não diminuía a dor do meu interior, mas ambas eram insuportáveis juntas. Ao meu ver, as pessoas se mutilam para, justamente, amenizar a dor gritante que sentem por dentro, mas nenhuma dor que eu estivesse sentindo na pele era páreo para parar de me fazer sentir aquela dor interior que solavancava cada órgão meu. Estava sentindo minha alma quase se desgarrar de meu corpo, todos os meus sonhos e planos estavam sendo esmagados, percebia minha vida chegando ao fim, mas eu não parava de pensar em meus filhos e em Justin um segundo se quer. Eu não conseguia suportar vê-lo em meus pensamentos, mas eram imagens completamente tomavam minha mente. Eu caminhava ate as lembranças mentalmente sem me dar conta. Nossos momentos juntos vagavam livremente pela minha mente em todo o tempo em queNolan havia me deixado sozinha. Naquele silencio, não havia nada que desvirtuasse a minha atenção, não havia nada que me distraísse,então eu não tinha outra coisa a pensar, a não ser neles e muito mais em Justin. Ele preenchia cada lacuna fazendo meu coração apertar em desespero enquanto as lágrimas continuavam a cair sem cessar. Eu sabia que com o tempo, meus filhos nem ao menos se lembrariam de mim e isso me reconfortava. Eu seria uma mera lembrança para eles, seria apenas fotografias, estaria viva somente nas historias que eles ouviriam, mas para Justin eu seria uma eterna dor. Seria a eterna garota que entrou em sua vida, colocou tudo de cabeça para baixo e no final o deixou.

Mordi meu lábio reprimindo um choro alto que vinha em minha garganta seca. Seus olhos, seu toque, seu beijo, seu cheiro, sua boca, seu corpo, sua essência, sua presença, sua voz... Fechei meus olhos com força tentando me livrar disso tudo. Eu apenas conseguiria viver pra sempre longe disso estando morta mesmo, pois não havia outra maneira em que eu pudesse aceitar viver em um tempo e um espaço onde ele não me pertencesse, não havia outra maneira de apaga-lo da minha memoria. Meu coração pesava em meu peito e eu sentia uma dor tão aguda e incessante que às vezes acreditava que a dor me faria morrer e não todo o meu estado deplorável.

As lembranças brincavam em minha cabeça e naquele exato momento da minha vida, detalhes e situações que eu nunca mais havia pensado eu simplesmente me recordei. O primeiro olhar, a primeira vez que senti meu coração bater forte por ele, a primeira briga, a primeira vez que vi sinceridade em seus olhos, o primeiro "eu te amo", o nascimento de nossos filhos, as juras de amor, as risadas, o bem que eu sentia estando ao seu lado, o sentimento de finalmente estar completa, todas as nossas brigas que terminaram em um beijo doce roubado e todas as outras coisas que nos representava. Cada palavra, cada gesto, cada momento... Era como ler nossas vidas em um livro e ser relembrada de cada situação. Aquilo doía pelo simples fato de eu saber que naquele momento tudo isso já era passado. Não poderia viver outra vez com ele, na o voltaria para casa e subiria as escadas para encontra-lo dormindo, não tocaria mais sua boca, não entregaria mais meu corpo ao seu. Dizem que quando estamos perto da morte, nossa mente passeia por toda a nossa vida, então, aquele era mesmo o meu fim.

Me martirizava em pensamentos por todas às vezes que o ouvi dizer que ele havia entrado na minha vida para tornar tudo mais difícil e doloroso pra mim. Eu sabia que muitas vezes Justin acreditava que a minha vida havia acabado no momento em que ele me conquistou e eu tentava me recordar se alguma vez eu havia lhe dito o quanto aquilo era mentira. Eu era um corpo vazio em plena escuridão antes dele ressurgir e trocar meu sentimento de repulsa pelo o de necessidade. Eu não só o amava. Eu o necessitava feito sangue nas veias. Ele havia trazido toda a luz que eu precisava para enxergar o meu caminho e quando finalmente decidi por onde seguir, ele me deu a mão para que fôssemos juntos. Tudo que hoje eu sou, é por ele. Justin poderia não ser o melhor homem do mundo, ele poderia ter os defeitos que tem e adquirir outros mais, poderia simplesmente ser apontado por Deus como a pior pessoa do universo, mas nada, extremamente nada me faria o amar menos, nada faria com que ele não dominasse meus pensamentos como ele fazia com naturalidade e nada faria com que meu coração não batesse por ele, apenas a morte a qual, naquele instante, eu estava completamente sujeita. Ele era tudo que eu não era, mas era exatamente tudo o que eu precisava e precisei em todo essetempo. Eu não poderia ver meus filhos crescidos, se formando e tendo a própria família, mas tinha certeza que Justin poderia fazer um ótimo trabalho na educação deles. Sabia que ele iria querer que seus filhos tivessem todo o carinho de pai que ele não teve. Com isso, eu sabia que estava deixando meus filhos em boas mãos. Não havia a menor duvida a respeito disso.

As lágrimas escorriam carregando a minha dor para fora do meu corpo, mas aquilo não fazia doer menos. Meu corpo estava suportando a dor física, a dor do meu interior, a dor da minha alma e a dor do psicológico. Chegava momentos em que eu sabia que eu não poderia mais suportar com toda aqueles pensamentos torturantes me rondando e meu corpo fraco, porém mais um minuto eterno se passava me mantendo com a respiração fraca enchendo, ainda, meus pulmões de vida. Eu estava dividida entre querer morrer de uma vez e ter mais alguns minutos para poder lembrar de seu rosto. Ele já devia ter lido a carta e implorei em pensamentos para que ele já tivesse encontrado nossos filhos.

A luz do Sol já entrava pela janela vindo exatamente na minha direção aquecendo minha pele fria. Não sabia que horas eram, mas isso não era preocupação. Eu havia perdido por completo a noção de tempo, mas pela fraqueza das minhas pernas, eu sabia que já estava ali por um bom tempo. Meus batimentos cardíacos estavam tão lentos que me causavam uma moleza fatal. Eu estava em completo transe, apenas meu cérebro funcionava dentro de mim me avisando que estava perto, eu não ia conseguir suportar por muito tempo.

Ouvi a porta rangendo ao ser aberta e meu corpo não respondeu com estimulo algum. Continuei fixando o chão com uma lagrima na ponta do meu nariz. Não conseguia levantar a cabeça para encara-lo, não conseguia por meus pés no chão e respirava fundo tentando recuperar o oxigênio que faltava. A gravidade puxando meu corpo para o chão fazia meu pulso arder mais, mas não havia firmeza em meus joelhos para que eu me colocasse ereta. Ouvi seus sapatos fazendo barulho com os passos e de cabeça baixa enxerguei apenas seus sapatos pretos.

- Ainda viva! - Nolan exclamou. - Pensei que depois da surra você se renderia, mas você continua viva. - continuou em um tom falsamente admirado. - Mas está pálida feito papel. - disse tocando meu queixo e erguendo meu rosto com força. - Boca seca, olhos profundos, braços arroxeados, punhos machucados, pernas inchadas... é, talvez daqui há algumas horas eu já possa te enterrar. - falou soltando um riso pelo suspiro no fim e não tentei responde-lo.

- Por que você esta fazendo isso? - gemi sem forças.

- Estou me divertindo. - falou com a voz serena.

- Eu não aguento mais.

- Isso é uma decisão sua. Vamos, Lorena, por que está prolongando a dor? Não percebe que seu estado está deplorável? Ele não vai aparecer e te resgatar, ele não te salvar dessa vez. Eu entendo sua desilusão. - falou forçando uma voz triste terminada em um falso suspiro. - Até eu estava esperando que ele conseguisse te encontrar, mas talvez vocênão seja de tanta importância assim, ou talvez ele esteja tendo dificuldade já que eu acabei com cada homem que trabalhava para ele e para Kimberly.

- Vocêsabia muito bem que ele não viria, ele não sabe onde você está.

- Ocala não passa na cabeça dele, eu tenho certeza, mas 15 horas já se passaram e nada. Vamos combinar que isso é tempo suficiente pra te encontrar ate em outro planeta. - falou sorrindo de canto.

- Ninguém esta aqui pra assistir o seu show, Nolan. Apenas acabe com isso logo. - falei fraca.

- Você que tem que se render. Pelo o seu estado, basta decidir morrer que seu corpo te respeitará. - concluiu com o tom debochado e sua voz me torturava.

- Você pode fazer isso durar menos. - falei com o fio de voz passando pela garganta seca.

- Já disse que não quero. Não gosto dos jogos fáceis. Mas você esta resistindo bem.

- Eu preciso de agua. - implorei por um suspiro.

- Espero que isso tenha sido apenas uma informação e não uma suplica, pois obviamente eu não vou te dar agua, nem comida, muito menos qualquer coisa que ajude você a se revitalizar. - disse e abaixei minha cabeça sentindo meu corpo chegar ao limite do limite.

- Nolan, acaba logo com isso, por favor. - implorei mais uma vez em desespero.

- Charles e Alice não reclamaram tanto assim. - disse e meu corpo entrou em alerta.

- Não fale deles. – rosnei.

- Qual é o problema? Você morrerá e eles não sentirão sentimento algum por você, nem uma mera lembrança vocêserá. Ninguém se lembra das memórias de quando tinha3 anos. - disse debochado.

- Para... - sussurrei tentando não ouvir aquilo. Por mais que eu já soubesse e fosse a plena verdade, soava muito pior em suas palavras.

- Ontem você estava feito uma leoa me atacando, por que hoje esta assim, heim? - perguntou tocando meu queixo levantando o meu rosto e pude ver seu sorriso debochado.

- Eu não sinto mais meu braços, minhas pernas estão doendo... simplesmente acabe com isso, acabe comigo. - falei com a voz tremula entredentes.

- Sabe, eu estive pensando. - falou começando a andar para se afastar de mim. - Naquele dia em que planejei que um capanga poderia invadir sua casa, eu não sabia que o Justin estava lá. Tudo isso poderia ter acontecido antes se ele não tivesse matado o Robert. Ele estava lá para pegar as crianças. Mas Justin quis prolongar mais o sofrimento, ele sabia que não ia sair ileso disso, ele sabia que mais cedo ou mais tarde tudo isso aconteceria.

- Ele não matou o seu capanga. - falei firme olhando em seus olhos. - Não precisa mentir pra mim, são águas passadas. Era apenas um capanga - deu de ombros. - Meu pai quis vingar a morte do capanga dele e por isso morreu. Geralmente os filhos tentam não cometer os erros dos pais, preferi me focar em outra coisa. - disse tranquilo enquanto pegava um cigarro do maço.

- Ele não matou o seu capanga. - repeti tentando manter a voz forte.

Era hora de usar as armas que eu tinha para tirá-lo do sério e fazer aquilo chegar ao fim. Eu não poderia suportar mais um segundo daquela dor.

- Eu o matei, Nolan. Eu matei o seu capanga que invadiu nossa casa naquela noite. - falei trêmula e a voz saiu embargada pelo choro. - Eu matei porque ele estava prestes a matar meus filhos e eu mataria mais um exército de homem por eles.

Seus olhos se voltaram aos meus enquanto o cigarro estava em sua boca. De imediato ele não reagiu, mas dava para perceber que ele estava surpreso. De repente ele jogou o cigarro do chão e se pôs próximo de mim andando em passos lentos.

- Você não achou o suficiente apenas observar a lama, né? Você quis rolar nela também. Além de concordar com o estilo de vida do Justin, com o fato dele ter matado seu pai e outras pessoas, você abre a boca com todo o orgulho do mundo pra dizer que matou uma pessoa? - perguntou incrédulo. –Geralmente nos orgulhamos das coisas boas que aprendemos com os outros, não com as coisas ruins. Eu esperava mais de você.

- Você é completamente insano. Você esta esse tempo todo atrás de uma vingança e julgando a mim e ao Justin por crimes que você e seu pai também cometeram.

- Não me compare. - gritou dando um tapa forte na minha cara. - Eu estou honrando minha família.

- Que família? - falei voltando a olha-lo devagar e sentindo a bochecha quente. - Vocênão tem mais família, Nolan! - gritei e seus olhos em chamas me olharam.

Sua respiração rápida modificou os movimentos de seu tórax. Observei sua mão fechada em punho e esperei o pior, esperei o que estava já esperando que ele fizesse: que finalmente acabasse comigo de uma vez por todas. Logo seus socos começaram e ele agia como se eu fosse uma saco de pancada e ele um treinador de box. Ele acertava o mesmo lugar mais de uma vez fazendo aquilo doer mais. Meu grito saía desesperado e senti minha costela estalar enquanto ele acertava meu rosto e minhas costas. Eu estava no limite da dor e do desespero quando ele cessou a pancadaria deixando meu corpo quente e meu choro alto invadir o ambiente. Sua mão tocou a lateral esquerda da minha barriga e sua boca se aproximando do meu ouvido me causando medo. Ele agia como um perfeito psicopata.

- Como uma pessoatão bonita pode simplesmente negligenciar a vida e se casar com um cara como o Justin? Olha o que ele te tornou. - sussurrou com a voz ofegante e falou o nome dele com ódio enquanto beliscava com força minha pele onde sua mão tocava. Gemi em dor e a garganta seca ardeu. - Você virou as costas pra sua família pra aplaudir o pior ser humano que já nasceu. Não satisfeita, aprendeu a matar e matou. - disse com ódio e meu peito soluçou em um choro desesperado - Eu olho pra você e só sinto vontade de te machucar, de ouvir seu grito e sua dor. - falou sacudindo meu corpo feito um louco e sua voz saia em tom desesperado.

Não conseguia manter meus olhos abertos, apenas com muita dificuldade. Meu corpo estava entregue ao cansaço e ao breu. Simplesmente minha língua não se movimentava para que eu pudesse reagir e dizer algo.

- Eu tenho vontade de fazer cada centímetro da sua pele doer. Você virou as costas pra sua família quando eu só queria voltar ter uma. - gritou me acertando mais dois socos na cara fazendo meu pescoço mole e meu corpo sem reação se movimentar. - Vá logo, ver sua morte me traz duas sensações de dever cumprido: a eliminação de uma ingrata e o sofrimento do cara que destruiu minha família. - gritou fora de si puxando meu rosto para cima pelos meus cabelos. - Você me mostrou que merece isso. Você não deu valor a vida, você merece morrer, Lorena!

Um chute em minha coxa já machucada fez meu músculo responder com dor. Dei um grito arranhando a garganta com a última força que eu tinha afim de extravasar todo aquele peso, mas sabia que ninguém poderia me ouvir. Mais longos minutos sendo seu saco de pancada, sentindo o gosto de ferro em minha boca causado pelo sangue. Seus socos começaram a me desvirtuar o raciocínio e seus chutes machucavam as minhas pernas. A dormência invadia meu corpo e eu tentava achar o caminho pra simplesmente morrer de uma vez.

- Justin... - sussurrei seu nome em meio as minhas ultimas forças.

Não havia pensamentos em minha cabeça, não havia mais palavras em minha boca. Dizer seu nome foi minha ultima demonstração de amor. Era um buraco negro, era a pista de chegada, era o final da linha, era a beira do abismo, era um livro sendo fechado, era o meu Sol se pondo para sempre, era o meu fim. Suspirei fraco pela ultima vez e minha mente se apagou. Para sempre.

 

POV Justin

Sentia minhas mãos tremerem e o ódio bebeu meu sangue. Dei um chute na porta com força deixando a raiva dominar os meus movimentos e Ryan atravessou comigo entrando na casa. Era apenas uma sala imensa e vazia com só mais uma porta. O peito sufocou, pois não ouvia mais sua voz. Parecia que aquele grito havia sido o ultimo e mais doloroso. Mordi o lábio e encarei Ryan. Parte de mim sabia que eu não estava pronto pro que eu veria, mas eu tinha que encarar. Era hora de ter Nolan em minhas mãos. Andei pisando fundo até a porta de madeira e a chutei fazendo os pedaços quebrarem e caírem ao chão fazendo um barulho alto. Ergui a arma vendo Nolan se virar pra trás assustado. Ryan estava do meu lado pronto pra atirar também. Meus olhos vacilaram e eu olhei rapidamente para aquilo que estava me negando olhar, mas meus olhos vacilaram e vi o corpo de Lorena tombado sendo apenas segurado pelas mãos enquanto seus cabelos caídos para frente tampavam boa parte do seu rosto. Em questões de segundos senti meu corpo todo entrar em chama e voltei meu olhos a Nolan.

- Filho da...

Antes que eu terminasse a frase, senti alguém começar a me enforcar por trás e Ryan desviou a atenção deixando então Nolan fugir pela janela. Com um tiro certeiro na testa do cara, Ryan fez com que ele caísse no chão e me soltasse. A energia negativa e o clima de tensão estavam no ar e eu estava tão desnorteado que não sabia o que fazer. Lorena... ela estava ali e mais um pouco roubaria minha total atenção, mas eu tinha que pegar Nolan. Apenas isso. Não tinha forças para saber se iria fazer aquilo em vingança de sua morte ou por tê-la mantida viva por tanto tempo naquele estado. Não era hora de saber se ela nunca mais abriria os olhos. Eu não tinha forças suficientes pra receber aquela informação.

- Leva ela pro carro. - ordenei enquanto Ryan corria para desamarra-la.

- Justin, ela...

- Eu não quero saber se ela esta viva ou morta, apenas tire ela daqui! - gritei com ódio enquanto Ryan a pegava no colo e eu via seu corpo mole sem nenhum sinal de vida.

- Eu não ia...

- Sótire ela daqui, Ryan! - falei não querendo ouvir o resto. - Leva ela pro carro e dirija até o jatinho. Voltem pra Atlanta! - gritei saindo da casa para ir atrás do Nolan.

- E você, Justin? - Ryan gritou já fora de casa com Lorena nos braços e eu sequei uma lágrima de costas pra ele por ser tão fraco e não conseguir toca-la pra constatar sua morte.

Não respondi sua pergunta. Deixei o meu animal interior se exteorizar, deixei meu corpo ficar quente, deixei o diabo se instalar em minhas ações e corri para a direção que Nolan tinha ido. O ar me faltava nos pulmões, também pelo fato de estar correndo, mas muito mais pelo nervosismo. A imagem do corpo mole e completamente entregue de Lorena nos braços de Ryan fazia meus olhos arderem em lágrimas que não deixei cair. Havia uma pista clandestina logo atrás da casa e ao fundo avistei Nolan prestes a entrar no carro. Meu peito se agitou mais ainda enquanto eu corria o mais rápido que eu podia para poder alcançá-lo e por para fora todo o ódio que eu sentia. Parecia que o nervosismo estava deixando ele atrapalhado e tendo dificuldade em abrir o veículo. Eu não ia o deixar escapar. Não dessa vez. Mesmo completamente atordoado, eu iria terminar o que estava ali para fazer. Assim que ele percebeu que eu estava perto de mais, me olhou assustado e abandonou o carro começando a correr seguindo a direção da pista. Mas já era tarde. Peguei o pano da blusa que cobria suas costas e o puxei jogando no chão com toda a forca que eu pude. De todas as vezes que tive que ser insano e completamente sem moral, naquele momento eu me senti pela primeira vez como um animal selvagem ansioso por sua morte. Seu rosto assustado me dava vontade de rir doentiamente enquanto eu forçava meu corpo para mantê-lo preso embaixo de mim.

- Achei que fosse mais valente. - debochei segurando seus braços enquanto ele se debatia mais nervoso ainda.

- Você chegou tarde demais, ela está morta. - falou nervoso e fez meu sorriso frouxo murchar.

Meu coração estava sendo espetado por milhões de alfinetes e mesmo que eu sentisse a dor e a tristeza se alastrando em meu corpo, o ódio ainda se mantinha vivo.

- Você fez tudo isso pelo o seu pai? Foi isso? - gritei acertando um soco na sua cara. - Entãovocê vai para onde seu pai esta te esperando: pro inferno. - falei acertando mais um soco em seu rosto.

Eu poderia mata-lo, mas queria que ele sentisse dor. Queria explorar cada forma dolorida que seu corpo poderia o fazer sofrer. Sentia minhas mãos doerem, mas simplesmente não conseguia parar de socar seu rosto. Não conseguia parar de descontar todo o meu ódio, a minha raiva, a minha tristeza e a minha incompetência. Em minha mente havia um breu. Eu não conseguia aceitar o fato de que Lorena estava morta. Não conseguia sentar e analisar essa questão para finalmente imaginar como seriam meus dias sem ela. Não havia isso em mim. Era a mesma coisa que uma pessoa parar e imaginar como viveríamos sem a luz do Sol. Era uma reflexão em vão, pois o Sol está lá todos os dias, mesmo que às vezes escondido, e ter Lorena fora da minha vida era algo inaceitável tanto quando o Sol não nascer. Era uma mentira, e eu não ia acreditar nesse fato ate os últimos segundos da minha vida. Eu iria esperar ela voltar para mim viva. Minhas mãos já estavam ensanguentadas de seu rosto, Nolan janão lutava embaixo de mim para se livrar dos socos e eu sentia uma pressão no peito como estivesse perto de explodir.

- Por quê? Por que ela? Por que você fez isso? Por que não quis a mim! - gritei pegando-o pelo colarinho e não via mais expressão alguma em seu rosto ensanguentado a não ser dor.

Fui perdendo a força enquanto Lorena se apossava da minha mente. Fracasso o suficiente pra fazer Nolan conseguir empurrar meu corpo de cima dele com a mínima força. Me pus em pé analisando sua tontura não deixa-lo correr. Por um instante parei e me vi sozinho, sem ninguém. Meu peito apertava como se meu corpo já estivesse em alerta para me fazer acreditar que realmente ela não respirava mais, que ela havia partido para sempre. Eu não podia fraquejar, mas não conseguia mover meus músculos. Nolan não conseguia sair daqueles 10 metros de distância enquanto se rastejava perdidamente no chão tentando fugir. Eu tinha que ter a ultima força para fazer aquilo, mesmo que eu já estivesse tomando consciência de que eu nunca mais ouviria a sua voz. Andei com passos largos parando em frente a Nolan que estava agachado no chão tentando andar. Tampei o sol de seu rosto com meu corpo e o encarei.

- Está sm arma, amador? Uma pena vocêsó ter aprendido a fazer bombas caseiras.

- Você tinha que pagar pelo o que fez com a minha família! - gritou com ódio com o resto de força que tinha.

- Eu, não minha mulher. –rebati no mesmo tom sentindo a raiva dominar mais ainda.

- Você me tirou tudo que eu tinha! Você matou meu pai, fez minha mãe se suicidar. Eu tinha que fazer você perceber como dói! - falou agindo feito uma criança.

- O seu pai era um louco que quis se virar contra o Lucio. O egoísmo dele te fez uma pessoa doente, não culpe ninguém por isso e pela morte da sua mãe. Seu pai sempre soube onde estava se metendo.

- Você o matou! –gritou relutante.

- E mataria outra vez. - rebati. - Mas a Lorena não tem culpa de você ter vivido a vida toda sendo filho de um cara que não amou a própriafamiliar e por isso destruiu outras. - falei com a voz engasgada ao tocar em seu nome e Nolan fechou os olhos com forca como se não quisesse ouvir.

- Você sabe que ela não merecia você! - falou sem forças e um pouco receoso e qualquer um percebia que no mínimo ele não era normal.

Nolan agia como se tivesse serio problemas psiquiátricos. Neguei com a cabeça sentindo meu sangue ferver. As palavras não vinham porque a culpa me possuía de forma violenta. Eu sabia que aquela vida faria tudo acabar mal. Eu sempre soube que um de nos sairíamos machucados e eu preferia mil vezes que tivesse sido eu. Eu morreria mil vezes para que ela continuasse viva. Eu queria manter o ódio no centro das minhas reações, mas a certeza de que Lorena estava morta havia arrancado minha alma do meu corpo.

"Justin, não. Olha pra mim!"

Sua voz ecoou em meu cérebro e projetei sua imagem em minha frente ao lado do corpo caído de Nolan. Seus olhos estavam marejados como sempre ficavam quando ela estava prestes a me ver sendo esse Justin.

"Não faz isso. Vocênão é assim. Se lembre de quem você é. Você não é um monstro.”

Fechei os olhos com forca não querendo mais imagina-la ali, pois ela sempre acendia o meu lado mais humano. Voltei meus olhos ao Nolan que tossia alto enquanto cuspia sangue no chão. Saquei minha arma da cintura e apontei pra ele usando o resto de forca e dureza no coração que me faltava. Meu peito dava fortes apertões me desconcentrando e Lorena ainda estava em meus pensamentos me fazendo fraquejar. Engoli a seco e respirei fundo completamente sem chão.

"Vocênão é um monstro" sua voz repetiu em meus pensamentos.

- Não se preocupe, eu vou acertar onde menos vai doer. - falei fazendo ele me olhar com medo e então percebi que estava falando com meus pensamentos e não com ele, mas finalizei olhando friamente em seus olhos. - No coração, porque você, Nolan... vocênão tem um. - conclui e disparei fazendo seu corpo cair sem vida no asfalto quente fazendo meu corpo entrar em transe.

O som do tiro ainda ecoava emminha mente. O trabalho estava concluído. Mas não ter Lorenamais comigo fazia tudo ficar semmotivos. Essa era a ultima vida queeu tirava para mantê-la viva, como sempre fiz, mas dessa vez havia chegado tarde demais. Eu havia matado por nada, pois eu voltaria para casa e ela não estaria lá feliz por me ver. Guardei a arma em minha cintura e meus joelhos fraquejaram e eu caí ajoelhado em frente ao corpo de Nolan. Minha mente estava me jogando todas as imagens e preocupações que eu teria que ter. Eunão queria vê-la em um caixão, eu não queria viver sem a chance de dar mais um beijo, sem a chance de poder ouvir sua voz dizendo que me ama, sua doçura e compreensãoarrancando de mim o pouco de ser humano que ainda existia. Eu precisava do seu tom de voz firme me trazendo ao eixo. Quem iria por meus pés no chão? Quem iria fazer tudo valer a pena? Tudo que me tornei era por ela e agora me pegava com as lagrimas quentes rolando pelo meu rosto, pois nem a morte de Nolan diante dos meus olhos fazia com que aquilo doesse menos. Eu havia enfrentado os dragões, as rosas com espinhos, o cansaço, as desavença, eu havia escalado a torre para ter minha princesa, mas havia encontrado o quarto vazio, no final de tudo. Eu podia matar um milhãode pessoas, mas nada a traria devolta. Eu não tinha mais motivos, eu não tinha mais razão, o ar me faltava e eu não queria estar chorando, mas meu corpo estava agindo sozinho diante o desespero de nunca mais poder chegar em casa e encontra-la sem sono por estar me esperando. Minhas mãos estavam tremulas, meu coração pulsava esmagado em meu peito. A imagem de ver Lorena sendo carregada me partia o coração. Não frisei muito seu rosto, mas havia sangue em seu corpo. Nolan havia dito que eu tinha chegado tarde demais e a morte e a única coisa no mundo que não ha solução. O que eu faria da minha vida sem a Lorena se tudo que eu sou hoje eh por causa dela? Eu falhei na missão de mantê-la viva. Eu falhei.

Meu tronco se movimentava bruscamente suportando os soluços do choro quando comecei a ouvir palmas vagarosamente sequenciadas. Os estalados das mãos se unindo invadiram meus ouvidos e eu ergui minha cabeça sem entender percebendo que o som vinha de trás de mim. Virei minha cabeçapra trás assustado e mesmo com os olhos embaçados pelas lágrimas pude notar aquela silhueta familiar. Minha mente se confundiu e o raciocínio se esvaiu.

Era meu pai.

Franzi o cenho sem entender e como se não bastasse a morte da Lorena fazendo com que eu me sentisse fora da realidade, meus olhos me mostravam a ultima pessoa que esperei ver ali. Ele abaixou suas mãos silenciando as palmas, mas suaexpressão continuou séria e ao mesmo tempo relutante apesar de firme. Me pus de pé completamente perdido e fraco. Eu não estava entendendo o que estava acontecendo naquele momento. Por que ele estaria ali? Por que ele viria ate Ocala? Meus pensamentos davam voltas, mas eu nãoconseguia explodir, pois pensar na Lorena fazia doer mais que tudo e pensar na sua morte me tirava a atenção. Encarei seus olhos com seriedade e ele se aproximou calmamente com passos lentos.

- O que esta fazendo aqui? - perguntei mantendo o tom firme.

Eu estava destruídoe isso já era o suficiente, não precisava que ninguém assistisse a minha decadência.

- Eu tentei me preparar para esse momento todo maldito dia daminha vida, mas agora estou aqui e ainda me encontro sem palavras. - falou calmamente desviando osolhos como se estivesse desapontado e eu o encarei ensaiando uma expressão de confusão.

- Se preparar para que? O que você esta fazendo aqui? Por que me seguiu? - perguntei entonando a voz e sentindo a pulsação forte em minha jugular.

- Eu te segui todo o tempo, Justin. Eu sempre estive observando o meu garoto.

- Você...

- Ande, me de essa arma. - ele me cortou. - Vocênãoprecisa mais disso. - falou esticando o braço colocando a palma da mão para cima.

- O que esta acontecendo aqui? - perguntei deixando a raiva dominar a voz que saiu por entre os dentes.

- Acabou, Justin. Essa foi a ultima vida que você tirou e eu não poderia estar mais orgulhoso. - falou instigando mais o meu ódio por não estar entendendo nada.

Minha respiração estava forte, meus pulsos estavam fechados enquanto eu quase esmagava meus dedos em minhas mãos. Parecia que não havia eletricidade suficiente em meu cérebro pra fazer meus neurônios funcionarem. Haviam arrancado a pagina da realidade em minha vida e eu simplesmente não estava conseguindo entender o que meus olhos me mostravam. Eu estava no meu limite. Quando ousei abrir a boca pela ultima vez para exigir explicação, meu pai soltou uma respiração pesada e eu senti que ele estava pronto para começar a falar.

- Eu abandonei minha família e por conta disso, nós não temos a relação de pai e filho que sempre desejei que tivéssemos. Eu não te culpo se você nunca me perdoou, ate porque você quebrou o meu único argumento. - disse rindo fraco e sem jeito. – Meu trabalho exigia muito de mim e por amar vocês demais, eu tive que abandona-los. Eu fui covarde o suficiente pra deixar vocês longe de mim para que não sofressem com as consequências das minhas escolhas. Eu deixei a minha família de lado por medo e tenho muito orgulho de você por ter feito tudo que fez sem virar as costas pra sua. - começou a dizer e uma onda de surrealismo banhou meu corpo.

Eu ainda não estava crendo que aquela cena pudesse ser real, mas eu só queria ouvi-lo para entender. Meu corpo estava arrepiado, pois eu nunca conheci um lado tãosincero dele. Eu estava sem palavras. Depois deum breve silencio sufocante, ele continuo.

- Eu havia acabado de me aposentar quando sua mãe me ligou pedindo para que eu fosse a casa de vocês. Ela estava desesperada porque havia encontrado cocaína nas suas coisas. Aquilo me desapontou. Eu fui ate lá e peguei a droga em minhas mãos para constatar que meu filho realmente estava fazendo aquilo e como se nãopudesse ficar pior, no recipiente da droga havia a letra L em forma de cobra, o símbolo do trafico de Lucio. Eu poderia ter te dado uma surra como de imediato quis, mas não adiantaria. Eu vasculhei todo o seu quarto naquele dia para dar certeza as minhas suposições e encontrei uma arma com o mesmo símbolo. Aquilo me bastou pra entender que você havia virado um deles. Você estava trabalhando para Lucio Wens, o maior traficante da América do Norte.

- Como você sabe tudo isso do Lucio? - perguntei atordoado e ele soltou todo o ar de seu pulmão e vi sua expressão um pouco sem jeito.

- Justin, - falou meu nome por entre um suspiro. - Ele sempre se escondeu atrás daquela cara de bom moço e bom coração, mas você o conheceu. Lucio era o cara mais frio que já esteve nesse planeta, mas era extremamente popular e carismático. O pai da Lorena mesmo se juntou a ele anos atrás porque achou que ele era um cara rico com boas intençõesque estava oferecendo ajuda para que a filha dele recém nascida tivesse um tratamento que Jorge jamais poderia pagar. Agora você sabe disso. Mas o cara controlava tudo, cada misero movimento nessa cidade não acontecia sem o aval dele. Ele mantinha as drogas do governador, do prefeito e de todos os “bons moços” que adoram cair de cara num prato de cocaína. Metade das grandes empresas nacionais funcionavam a base das ações dele e Estado nenhum quer fazer desandar a economia de um pais, então logicamente não se metiam com Lucio. O trabalho sujo ficou pra quem não quis se corromper, ficou pra quem viu tudo isso acontecer por de baixo dos panos e não quis ficar quieto. No exercito reforçamos o nosso patriotismo, mas quase não podemos exercê-lo quando descobrimos a verdade. Decidimos agir por nos mesmo ate sermos expulsos da academia, esse era nosso objetivo. Assim que fomos expulsos, continuamos fazendo por fora o trabalho sujo. Era nosso dever fazer nossas famílias viverem em um lugar digno e seguro. Lúcio sempre gostou de trabalhar com adolescentes porque mesmo se vocês fossem pegos, era muito mais fácil a lei ajudar vocês.Nós somos pais e sabemos como dói ver a educação que nós damos indo por água abaixo por causa de um cara desses. Depois de alguns meses agindo sem estratégias, decidimos manter a ordem e a paz em Atlanta para eliminar Lucio com as nossas próprias mãos e formamos a agencia HNS, Segurança Oculta Nacional (HiddenNational Security) e nosso objetivo era matar Lucio e toda a sua teia de corrupção e trafico. Cada pessoa que trabalhasse para ele seria eliminada também ate que chegássemos ao grande poderoso, já que ele nunca deu a cara a tapa, sempre mandou seus escravos. Havia uma lista de pessoas para tirar de circulação: Jaden, Kimberly, Alana, Jorge - que infelizmente trabalhou para ele por anos pra pagar a divida pelo tratamento da Lorena, Jack– que começou foi expulso da corporação dele 15 anos atrás e começou a sua própria e ao decorrer do tempo,Chaz entrou na lista já que no final se rendeu aos trabalhos dele pra manter Lorena longe e Nolan por estar atrás de vingança da morte do pai. Sei que voce sofreu pela morte da Charlie, mas ela trabalhou para Alana e Lucio. Mesmo arrependida, ainda era um dos nossos alvos, nao os principais, mas com certeza nao se manteria viva. Willow foi uma fatalidade, mas nao existem açoes inteiramente perfeitas. Ou seja, todos que tivessem alguma relação com a história do Lúcio, seriam mortos. Obviamente isso também incluía você.Esses eram os principais. Sem vocês, Lucio se quebraria totalmente. Estávamos tendo dificuldade, pois não é fácil atacar a raiz da cidade sem sair machucado. Estávamos começando pela ação mais corriqueira: enfraquecer a proteção dele. Atingimos os homens que faziam a guarda e logo chegaríamosnos principais. Mas eu não pude mais esconder o que estava me corroendo por dentro há dias. Quando a agencia descobriu que você era o mais novo membro da alcateia, eu fui ameaçado por eles. Você não podia ser mais um na lista dos alvos, você era o meu filho! Eu arrisquei. Não podia virar as costas pra empresa, pois eles te executariam sem mim ou comigo, mas também não seria louco de deixar isso acontecer. Eu fui atrás do Lucio. Eu sabia que aquilo podia significar a minha morte, mas naquele momento não era apenas a segurança e a integridade do país que estavam em jogo, era o meu filho de 18 anos metido com a pior pessoa do mundo, então havia virado pessoal. Eu fui ate ele e pedi que ele te deixasse em paz, mesmo depois tomando uma advertência do meu supervisor. Foi desesperador, me senti um lixo por estar pedindo um favor a Lucio, eu poderia ter entregado a agencia naquele momento, mas ele não sabia quem eu era e muito menos que havia umaunião para elimina-lo. Eu não fui lácomo um agente, eu fui lá como um pai desesperado. Ele me fez assinar o contrato do silencio e sua liberdade me custou 5milhões de dólares, mas no dia seguinte vocêfoi liberado. Acompanhamos a morte do Jaden e vimos como isso te chocou, Lucio aproveitou aquilo para se fazer de bom moço e te liberar, mas aquilo não bastou. O termo da agencia é que devemos matar toda e qualquer ligação que Lucio ja tivesse ou teria, como já disse, então a agencia te mataria do mesmo jeito. Não ia deixar meu trabalho virar a sua morte. Eu não ia deixar você se tornar aquilo que fui criado pra matar. Eu tinha um plano, não sabia se daria certo, mas eu tive que os convences a confiar em mim, eu tive que os fazer acreditarem que você, agora solto, podia ser uma peça fundamental em nosso sistema. Eu sabia que sua saída mexeria com Jack, pois ele estava te procurando para acertar as contas e ali eu já soube que ele seria o primeiro da lista a ser riscado. Você ficou alguns meses se escondendo na casa do Ryan e foi tempo suficiente para esquematizamos tudo, cada segundo da sua vida daquele momento em diante. As coisas apreciam funcionar a favor e quando me dei conta, você estava de volta a casa da sua mãe, então o jogo iria começar. Você teria que se proteger dos inimigos que fez e, esses inimigos também eram os nossos. Então, a única coisa que fiz foi tirar vantagem da sua atitude irresponsável e fazer de você um de nós sem você saber. Você protegeu o país enquanto protegia sua família e pagou sua divida com a agência.

- Você está me dizendo que me colocou nessa merda de agencia e fodeu minha vida pra eu salvar o país? - gritei atordoado tentando processar tudo.

- Não, - respondeu firme e sério. - Isso é uma visão parcial de tudo que eu te disse, Justin e o que eu te disse foi que a agencia te mataria se você não matasse quem queríamos mortos. Eu não poderia fazer nada perante a sua morte. Meu filho ou não, você era um deles, mesmo com a liberação do Lúcio, você ainda era um deles. Uma vez bandido, sempre bandido. Não importa quantas orações você faça, não importa quantos perdões divinos você tenha. Você viverá para sempre marcado com isso. Eu apenas fiz você jogar do lado certo das suas atitudes. Você sofreria todo o ataque estando ou não na agencia, você percebeu isso no exato momento que Alana montou aquela mentira para que Lúcio te pegasse. O seu passado voltaria e você enfrentaria todos com maestria como fez até esse momento. Porém se não você estivesse na agencia, você seria um dos mortos também.

- Eu não acredito. - suspirei passando a mão no rosto. - Por que você não me contou antes? Por quê? - gritei sentindo o nervosismo passear em meu corpo.

- Porque a sensação de perigo nos faz pensar e agir melhor. Se você soubesse que sempre existiu uma equipe atrás de tudo, você se sentiria confortável o suficiente para fazer tudo desandar.

- Isso não pode ser verdade.  Eu comecei a trabalhar para Lúcio 6 anos atrás, fiquei um ano e meio no esquema dele e desde então tenho estado na agência? - perguntei pra mim mesmo ainda incrédulo. - Você teve tempo suficiente pra esclarecer tudo, pra me dizer o real motivo de sempre estar se metendo na minha vida!

- Justin, a agência me pressionava. Você era o meu teste e não o deles. Se você fracassasse, meu nome estaria sujo também. Eu tive que me meter, eu tive que descontar toda a minha raiva em você quando você quase a matou. Eu tive que te por na linha quando você se drogou. Eu tive que fazer você voltar a realidade. Se você tivesse matado a Lorena naquela noite, eles não perdoariam aquilo. Muitas vezes você se mostrou muito perigoso e a agencia se perguntava se eles de fato estavam confiando em um herói ou num bandido. Eu confiava em você e tinha que estar lá te botando nos trilhos outra vez. Com o tempo você foi ganhando confiança da agência e começaram a me apoiar. Sempre estivemos por trás. Você só esteve sozinho para fazer o trabalho sujo porque estava bem posicionado dentro do campo da batalha. Depois que Chaz virou um da lista, você tinha que ir atrás para pegar sua garota e riscar mais um nome da nossa lista.Tínhamos muita dificuldade de rastrear outro país, por isso demoramos pra saber onde eles estavam, mas assim que descobrimos, enviamos o convite do casamento para que você fosse atrás.

- Vocês o que? - perguntei levando um choque de irrealidade e meu pai suspirou desviando os olhos.

- O convite, a caixa, as pistas...a agência foi o seu acaso.

- Você esta mentindo!- gritei louco. - O Chaz me mandou o convite. Ele queria jogar na minha cara que iria casar com a minha mulher!

- Justin, que tipo de homem que foge com a mulher de outro cara manda o convite do casamento pra intimar a presença de quem estragaria tudo? Chaz podia ser ate idiota, mas ele não queria perder a Lorena.

- Mas ele confirmou que mandou o convite!

- Tem certeza? - perguntou debochado levantando uma sobrancelha e eu não conseguia acessar a lembrança que me fazia ter certeza daquilo.

- Nós estávamos na frequência do seu ponto e seu microfone, Justin e eu me lembro de ter o ouvido dizer que vocênão era uma pessoa pra se confiar assim que você disse que ele que tinha mandado o convite. Ele nunca disse que o convite havia sido mandado por ele e sei que a Lorena também tentou te alertar que Chaz jamais faria isso. - concluiu me deixando sem palavras.

- E-e a Kimberly? Como vocês me fariam matar ela? Ela não estava na lista? - perguntei confuso.

- Kimberly sumiu por uma época, e descobrimos junto com você que foi por causa da Cindy. Porém ela não era nosso problema principal, podíamos pegá-la depois. Mas quando ela apareceu,você fez com que ela se juntasse a você, então a divida também seria paga. No começo tivemos duvidas, mas os meses foram passando e vimos que ela tinha mais coragem que você para acabar com aquela historia. Aplaudimos de pé sua atitude de matar Alana e, no final ela tirou a vida do Lucio, concluindo o nosso trabalho. Todos os homens que trabalham comigo a acham brilhante. - disse com um sorriso de canto.

- Mas ela viveu meses fora da lei desviando drogas e armas.

- Por isso tivemos dúvidas, por causa das drogas que ela ainda contrabandeava, dando continuidade ao trabalho do Lucio já que ela pegou o império dele. Porém, esse não era o nosso trabalho, Justin. Se a policia federal não faz o trabalho deles de averiguar o tráfico de drogas e os contrabandos nas fronteiras, isso problema é deles. Não somos donos da lei, estávamos aqui única e exclusivamente para eliminar Lúcio. Com o tempo ela parou de desviar as drogas, o que nos deixou mais aliviado, e começou a desviar armas pra ela e pra você, então ela estava agindo errado para fazer o certo. Ela estava agindo dentro da lei da HNS.

- Eu não tô acreditando nisso. - sussurrei. - Eu não posso acreditar que você fez da minha vida o seu vídeo game. Você não pensou na Lorena? Você não pensou nos meus filhos? Você tem noção de todas as situações de perigo que eles passaram?

- Você deveria ter pensado na consequências quando agiu imaturamente e caiu na lábia de Jaden para começar a trabalhar para Lucio. - falou cuspindo as palavras. - A Lorena surgiu no meio disso tudo, ela não estava nos seus planos muito menos nos planos da agência. Eu tive medo também que ela saísse machucada, mas por outro lado percebi que vocênão estava disposto a deixar ela. A agência não pôde te dizer que estava ali, e sei que muitas vezes você pensou em desistir por achar que tudo iria por água abaixo, mas por causa Lorena você não fez isso. Ela te deu um motivo para você não desistir e foi uma peça essencial nisso tudo. Você se apaixonou pela filha do cara que teria que matar, eu não sabia onde isso ia dar, mas era o único caminho pra te manter vivo. Você fez tudo para salva-la e isso incluiu matar eles para se manter vivo e era tudo que precisávamos. Ela era mais um motivo para que tudo fosse feito com êxito.

- Êxito? Ela esta morta. - gritei. - O trabalho de vocês esta feito. Obrigado por terem me dado a chance de continuar vivo. - ri sem humor debochado enquanto sentia as lagrima quentes marejarem meus olhos. - Mas eu preferia mil vezes ter morrido no lugar dela!

- Lorena não esta morta. Ela é forte e vai chegar em Atlanta viva, eu tenho certeza.

- Lorena esta viva? - perguntei sentindo a voz falhar.

- Há uma equipe médica de primeira inteira esperando vocês retornarem. Sabíamos que ela não chegaria nas melhores condições, mas Nolan sabe se esconder bem, o que retardou nossos planos. Mandamos a caixa assim que descobrimos tudo e era a hora exata pra você saber que ele estava ali para vingar a morte do pai que você tirou a vida. Era seu ultimo adversário.

- Mas isso poderia ter acabado muito mal. - gritei com os dentes trincados, mas sentia a calma desacelerar meu coração. Ela estava viva!

- Um obrigado já é o suficiente, Justin. Você saiu vivo de onde não tinha chance alguma de sobreviver.

Falou e minha mente se esbaralhou feito um quebra-cabeça esperando ser montado. As coisas faziam sentido, mas fazer sentido não estava as fazendo parecerem reais. Como reagir quando simplesmente você descobre partes de suas vidas que não foram contadas a você? E mesmo que aquilo assustasse, eu conseguia sentir uma pontinha de alívio, porem ainda era insano. Meu pai, um agente secreto? Merda, eu não queria que as coisas soassem tão perfeitamente encaixáveis em minha mente. Eu queria ter ódio, mas estava completamente confortável apesar da tontura psicológica e a falta de chão em meus pés. A surpresa me mantinha em torpor, mas ainda havia algo a ser resolvido.

- Eu quero vê-la. - falei afobado depois de breves segundos. - Eu preciso ver como ela esta.

- Por aqui. - falou indicando a direção e começou a andar.

Eu não tinha como voltar já que Ryan havia voltado com Kimberly e Lorena com o jatinho para Atlanta. Mas mesmo ainda receoso assustado e completamente confuso em meus pensamentos, acompanhei os passos de meu pai ate chegarmos a um campo vasto onde um jatinho com a sigla em vermelho HSN na lateral estava parado. Meu pai virou o rosto com um semblante orgulho e um sorriso tímido. Parei por breves segundos e voltei acompanha-lo. Subimos a escada e dentro ja podia ver todos os equipamentos usados como rastreadores, equalizadores e muitos computadores. Um homem calvo e comprido se aproximou tirando os fones dos ouvidos enquanto eu olhava aquilo tudo me sentindo um idiota completamente escaldado.

- Belo trabalho, jovem. - disse estendendo a mão e eu o cumprimentei. - A agencia esta em festa. Haverá uma leva de aposentados e desempregados. - disse olhando pro meu pai e os dois riram.

- É, nosso trabalho esta concluído, já podemos fechar a HNS. - respondeu meu pai com humor sentando em uma poltrona.

- Não se assuste. - falou o homem se direcionando a mim. - Você vai perceber que isso foi o melhor a ser feito. Seu pai arriscou colocando você no nosso esquema, mas foi pelo seu bem. Você sabe, os adolescentes cometem erros, mas um filho de um agente não pode ser o erro que o pai tem que consertar, a menos que ela possa fazer isso da melhor forma e foi o que o Jeremy fez. Somos amigos ha anos e ainda posso me surpreender e me orgulhar dele depois de tanto tempo.

Falei fazendo meu pai assentir sorridente enquanto eu ainda parecia vagar em outro plano.

- Vamos decolar. - ouvi o piloto avisar e me sentei na poltrona ainda sem palavras.

Aquilo ainda soava como um sonho perturbador. Era simplesmente fora da realidade. Meu corpo estava uma confusão de reações e mesmo que dentro de mim as coisas fossem sendo absorvidas aos poucos, ainda parecia que eu nunca iria entender completamente. Era completamente fora da minha realidade. Eu descobri que meu destino sempre foi oculto porque eu mal sabia o que se passava no meu presente. Eu era de uma agencia sem saber. Eu protegi o país achando que estava apenas mantendo minha família viva. Não... não havia como pensar nisso sem se assustar. Eu estava ficando louco e tendo devaneios. Porem havia uma coisa que me fazia parar de tentar compreender toda a confusão: Lorena. Ela estava viva. Isso me bastava. Isso era o suficiente pra eu aceitar qualquer verdade. Eu queria vê-la e me certificar de que ela respirava. Apenas isso.

- Filho, - meu pai tocou meu ombro quando o jatinho decolava e eu o olhei ainda completamente atordoado. - Vamos chegar logo e tudo estará bem. - disse e eu voltei a olhar pela janela em silencio.

Sem palavras. Eu estava preso dentro de uma bolha de reflexão e preocupação.

 

***

 

Empurrei a porta de vidro do hospital com força e todos na sala de espero voltando suas atenções pra mim, mas apenas 3 pares de olhos me importou: Ryan, Fernanda minha mãe e a mãe de Lorena. Meu pai passou pela porta logo depois de mim enquanto os quatro vinham apressados em minha direção. Minha mãe me abraçou aos prantos enquanto Ryan parecia completamente sem esperança abraçando Fernanda tentando reconfortá-la e Sonia parecia estar a base de calmantes.

- Filho. - minha mãe chorou alto agarrando minha cintura.

- Onde ela esta? - perguntei e Ryan me olhou acabado indicando o corredor.

Tirei as mãos de minha de minha cintura e eu corri em direção ao corredor. O barulho de todo hospital se desfocou em meus ouvidos. Eu procurava por alguma enfermeira que me dissesse onde ela estava. Aqueles corredores pareciam que não iam ter fim. Meu desespero fazia com que meus pensamentos ficassem loucos e eu não conseguia me focar. Avistei uma enfermeira saindo de um quarto e corri ate ela.

- Onde esta a paciente Lorena Allison Bieber? - perguntei atordoado e ela me olhou assustada.

- Senhor, ela esta aqui, fique calmo. - disse indicando o quarto que ela havia acabado de sair e me movimentei rápido pra entrar sem querer ouvir o resto.

- Desculpe. - ela me vetou. - Vocêsnão podem estar juntos agora.

- Tentaram me fazer acreditar nisso nos últimos 4 anos, mas não deu muito certo. - falei invadindo o quarto e ouvi sua voz firme chamando minha atenção, mas não dei ouvidos.

 

Eu estava ofegante e meus olhos haviam batido em seu corpo deitado na maca. Fechei a porta atrás de mim sem fazer barulho enquanto as lágrimas embaçavam a minha visão. Havia hematomas por todo o seu corpo e a cada passo que eu dava, eu podia notar mais seus machucados e seus pulsos enfaixados. Me desespereivendo-a naquele estado. Não podia toca-la, não queria piorar seu estado, e sóo medidos de batimentos me mostrando que ela estava viva, minhas emoções se misturavam e eu chorava de dor, mas também de alegria. Ouvi a porta ser aberta, mas não quis olhar para trás. Eu estava encantado por vê-la ali e ninguém me tiraria dali ate eu ver seus olhos abertos.

- Não se preocupe, eles estão bem. - disse uma voz grossa e eu me virei calmamente notando que era o medico.

- Eles? - perguntei confuso.

- Sim, - sorriu calmo. - Ela e o bebê. A paciente esta grávida.

Senti a circulação fugir do meu rosto. Encarei o medico ainda assustado enquanto ele sorria de volta pra mim satisfeito com a minha reação. O tempo parou de correr. Voltei minha cabeça aos poucos a Lorena e mirei sua barriga. Havia um bebe ali, meu filho estava ali. Aquela informação havia me pego em total surpresa. Eu ainda tentava absorver tudo que meu pai havia revelado e não estava pronto psicologicamente para aquilo. Quase podia ouvir os pulos frenéticos do meu coração.

- Ela esta grávida? - perguntei com um fio de voz me aproximando de seu corpo.

- Com um pouco mais de um mês, não tivemos chance de contar a ela. A paciente está bastante ferida e sentiu fortes dores no braço quando o sangue voltou a circular novamente. Ela chegou consciência, mas em total sofrimento por causa do cansaçofísico. Tivemos que dopa-la. O bebe não foi afetado, vamos deixar ela no soro ate que ela acorde.

- Eu não acredito. - sussurrei tocando seu rosto com delicadeza com os meus dedos.

Como eu queria que ela abrisse os olhos, como eu queria poder contar a ela que em seu ventre mais uma vez ela carregava nosso filho. Senti a adrenalina banhar o meu corpo e em meu rosto havia um sorriso que eu não conseguia cessar.

- Ela corre algum risco? – perguntei me virando para ele.

- Não, mas vou esperar que ela acorde para que possamos analisar com ela consciente. Ela chegou aqui bastante assustada e não conseguia falar. Peço que o senhor agora deixe ela descansar. - falou sereno e eu me virei pra ela ainda sorrindo com uma mão repousada em sua testa.

Mesmo embaixo de todos aqueles hematomas, ela ainda era a mulher mais bonita que já conheci em toda a minha vida.Sai do quarto ainda em transe quando me deparei com todos no corredor. Sonia ainda chorava e me olhou com receio quando eu sai do quarto. Ryan tentava fazer Fernanda parar de chorar, minha mãe estava completamente abatida, Kimberly já estava ali com seu corte costurado esperando que eu dissesse alguma coisa enquanto meu pai me olhava com os braços cruzados.

- Eu vou ser pai de novo. A Lorena esta gravida. - falei sem conter a felicidade e meus lábios sorriram involuntariamente enquanto um sorriso emocional se abria na expressão de cada um.

- Eu não acredito! - minha mãe me alterou vindo em minha direção enquanto todos pareciam ter esquecido a tristeza.

Ryan se aproximou dando um abraço de irmão apertado enquanto parecia que Sonia havia perdido o foco da realidade.

- Ela vai ficar bem? - Fernanda perguntou voltando a preocupação e eu assenti querendo me desmanchar as lagrimas, mas me contive.

Ouvia minha mãe e Sonia soltando comentários emotivos sobre a gravidez da Lorena e Ryan e Fernanda se beijavam com o humor um pouco melhor. Olhei de relance para meu pai e ele assentiu como se me parabenizasse e fui perdendo o foco de seu rosto quando Kimberly se aproximou ficando de frente para mim.

- Parabéns, papai. - disse com um sorriso torto debochadamente feliz. - Você realmente gosta de deixar herdeiros.

- Obrigado. - falei sem jeito e ela deu de ombros negando com a cabeça como se não fosse nada demais. - Não só por isso, mas por tudo. - falei fazendo-a me olhar desconfortável.

- Você sabe que esses momentos delicados não foram feitos para nos dois.

- Mas eu preciso te agradecer. Sei do nosso passado, se de todos os erros e injusticas que cometi com você, mas obrigado por ter estado sempre comigo.

- Ok, Justin. Não tente me fazer chorar. - disse rolando os olhos marejados. - Eu sou eternamente grata pela Cindy. Eu faria muito mais apenas para te agradecer por ter me dado minha filha.

- Nossa filha. - a corrigi fazendo com que ela risse fraco.

Nos olhamos brevemente e o momento pediu que fizéssemos aquilo. Eu queria e podia sentir seus movimentos inseguros. Não era o tipo de atitude que tomávamos um com o outro, mas apenas um abraço falaria todas as palavras que eu não consegui mencionar para lhe agradecer. Juntei seu corpo ao meu numa súbita aproximação e seus braços rodearam meu corpo em um abraço forte. Kimberly ainda tinha que saber sobre a agencia, ainda tinha que sentar e ouvir tudo aquilo de meu pai e eu saberia que não seria assustador para ela assim como foi para mim. Ela esteve ao meu lado mesmo que eu não tivesse merecido muitas vezes. Não era amor, não era amizade, era simplesmente a Kimberly.

 

***

 

Coloquei uma moeda na maquina de café e ergui o copo enchendo-o com o liquido. Já havia anoitecido e eu ainda estava naquele hospital sentindo meu corpo esgotado, porem não conseguia ir embora sem que Lorena acordasse. Ryan havia levado Fernanda para casa, meu pai havia dado carona para minha mãe para que ela voltasse para casa e trouxesse as crianças no dia seguinte e Kimberly havia ido encontrar a Cindy na casa de Max. Sonia ainda permanecia sentada no banco do corredor enquanto cochilava. Voltei ao banco com o copo quente em minha mão e não conseguia parar de relembrar todos os fatos dos últimos4 anos. A agencia ainda era um baque para mim, mas eu me sentia completamente confiante e agora sim tinha a certeza que nada mais poderia dar errado. Tudo foi esclarecido e inteiramente tudo havia acabado.

- Senhor Bieber? - a enfermeira me chamando nossa atenção e me aproximei ansioso.

- A paciente esta acordando.

- Graças a Deus. - ouvi o tom sincero da mãe da Lorena atrás de mim fazendo a enfermeira sorrir e meu peito acelerar - Pode entrar e ficar com ela ate a gente vir fazer os exames.

Assenti e andei para tocar a maçaneta da porta. Entrei no quarto e me aproximei da sua cama vendo sua respiração um pouco mais acelerada. Olhar seu corpo machucado ainda me dava uma sensação de impotência, mas quando cheguei ao seu lado, seus olhos abriram lentamente e eu sorri mirando as janelas da sua alma que cheguei acreditar que nunca mais veria.

A Thousand Years – Christina Perri

Coração acelerado, cores e promessas. Como ser corajoso? Como posso amar quando tenho medo de me apaixonar? Mas ao ver você na solidão, toda a minha dúvida de repente se vai de alguma maneira. Um passo mais perto... Eu morri todos os dias esperando você. Amor, não tenha medo. Eu te amei por mil anos e te amarei por mais mil”.

 

- Oi, meu amor. - falei emocionado sem conter as lagrimas, mas ela parecia ainda muito fraca e não conseguia se mover ou falar, mas os brilhos dos seus olhos transmitiam toda a emoção. - Acabou. - sussurrei colocando uma mão em sua testa enquanto seus olhos negros estavam fixados em mim como se ela quisesse expressar tudo, mas não podia por estar fraca demais.

“O tempo fica parado, há beleza em tudo que ela é. Terei coragem, não deixarei nada levar embora. O que está na minha frente, cada suspiro, cada momento me trouxe a isso. Um passo mais perto... Eu morri todos os dias esperando você. Amor, não tenha medo. Eu te amei por mil anos e te amarei por mais mil”.


 

- Eu juro que agora é para sempre. Eu e você... Nós sobrevivemos para merecer isso. A paz chegou enfim, Lorena e ela não faria sentido algum se eu tivesse perdido você. - falei completamente rendido a emoção dando um beijo em sua bochecha enquanto seus olhos permaneciam atentos. - Obrigado por não ter desistido de mim. Eu quero que você se recupere logo para que eu possa te contar tudo que agora eu sei, para que eu transmita a você a felicidade que estou por saber que nunca mais passaremos por isso. Eu tive medo de te perder e cometi muitas loucuras para te manter viva, mas eu olho para trás e não me arrependo de nada. - falei segurando suas mãos e seus olhos brilhavam mais. Sorri emocionado com o coração quase explodindo em meu peito.

“O tempo todo eu acreditei que te encontraria, o tempo trouxe o seu coração ao meu. Eu te amei por mil anos e te amarei por mais mil. Um passo mais perto... Eu morri todos os dias esperando você. Amor, não tenha medo. Eu te amei por mil anos e te amarei por mais mil”.

- Eu vou estar aqui te esperando quando você se recuperar. Eu, Charles, Alice e mais um novo bebezinho. Meu amor, você esta gravida. - falei e seus olhos ficaram parados sem piscar. Ela não falava, mas naquele estante eu senti tudo que ela quis transmitir.

No canto do seu olho esquerdo uma lagrima caiu e eu beijei sua testa sentindo que eu finalmente era um homem feliz por completo.

- Eu te amo. - sussurrei.

“Eu morri todos os dias esperando você. Amor, não tenha medo. Eu te amei por mil anos e te amarei por mais mil”.

 

POV Lorena

3 semanas

- Lorena, corre aqui! - escutei da cozinha Justin me chamando do escritório e Fernanda e Pattie me olharam com risinhos.

- O patrãota chamando, não ouviu? - Fernanda implicou com seu barrigão de 8 meses.

- E olha como ela fica corada como se fossem dois adolescentes. - Pattie analisou achando graça enquanto mexia na panela.

- Vocêssão duas loucas! - exclamei sem graça saindo da cozinha e caminhei ate a sala para ir ao escritório.

- Peguei! - Chuck gritou correndo pela sala atrás de Alice e Cindy enquanto Emma os olhava do sofá.

Sorri para mim mesma andando ate o escritório e empurrei a porta encostada vendo Justin sem camisa sorrir de canto ao me ver.

- Venho, eu quero te mostrar uma coisa. - disse me puxando pelo braço e eu me sentia completamente nas nuvens. - Feche os olhos. - pediu e eu fiz sem perguntar. Apenas ouvi um barulho de algo sendo colocado em cima da mesa do escritório e breve segundos depois suas mãos me rodearam por trás.

- Pode abrir. - ele sussurrou em meu ouvido.

Meus olhos miraram aquelas incontáveis armas e munições dentro daquela caixa de papelão e franzi o rosto sem entender.

- O que é isso? - perguntei e ele virou meu corpo de frente para o dele.

- Minhas armas e munições. - respondeu óbvio.

- Sério? - respondi rindo debochada

- Quero que você jogue fora para mim. Sei que vocêainda esta processando a sua quase morte, tudo que ouviu do meu pai e a gravidez. Você tem todo o tempo do mundo para absorver as informações. Eu ainda acho as vezes que estou dentro de um sonho, mas não posso mais esperar para me livrar disso e quero que isso seja feito pela pessoa que chegou em minha vida para tirar as coisas ruins do meu caminho, então eu você tem que se livrar disso.

- Não sabe como isso me deixa feliz. - falei pegando a caixa nas mãos afobada e no mesmo instante, Justin a tomou para ele.

- Mulheres gravidas não podem segurar peso. - disse fazendo meu estomago revirar.

Caminhamos ate o carro e Justin se mantinha um pouco misterioso. Colocou a caixa no porta malas e o olhei confusa.

- Pensei que só iriamos ate o lixo.

- Não se joga armas no lixo simplesmente. - falou rindo e notamos Kimberly se aproximando ao vir do estacionamento.

- Como vai, agente secreto? - Kimberly perguntou implicando com Justin enquanto ele rodeava minha cintura.

- Uma das melhores partes nisso tudo é ver o seu bom humor. - Justin implicou de volta sorrindo e logo Max apareceu rodeando a cintura da Kimberly.

- Humor tão bom que nem esse sorrisinho debochado seu estraga. - falou enquanto recebia um beijo na bochecha de Max.

- Perdi alguma coisa? - ele perguntou sem jeito e eu ri.

- Nada novo. – suspirei fingindo tédio.

- Vou buscar minha filha. - Kimberly disse puxando os barcos de Max e parecia bastante feliz e apaixonada indo para dentro de casa.

Justin voltou sua atenção para mim sorrindo.

- Vamos?

- Vamos.

***

Justin já estava com a camisa pendurada no ombro e terminava de jogar com uma pá a terra que esburacou no chão para que escondêssemos as armas. Olhava seus movimentos encostada ao capô do carro enquanto ele limpava o suor com a parte de cima da mão.

- Feito. Passado morto e literalmente enterrado. – disse cansado finalizando o trabalho.

Voltamos para o carro e durante todo o caminho de volta Justin se mantinha silencioso, mas com a expressão risonha como se não conseguisse parar de sorrir. A Lua já estava no céu e me distrai quando percebi que Justin havia parado em um lugar onde não era nossa casa.

- O que estamos fazendo aqui? - perguntei olhando em volta percebemos que estávamos na casa da Pattie.

Justin apenas riu me deixando mais curiosa enquanto o portão era aberto para ele.

- Justin, você sabe que sou curiosa, me fala agora o que esta acontecendo. - falei mandona enquanto ele estacionava o carro em frente a casa.

- Vem comigo. - disse tirando o cinto e saindo do carro e não esperei que ele abrisse a porta pra mim, apenas abri rapidamente saindo do veiculo também.

- Por que me trouxe ate aqui? - perguntei sendo puxada por seus barcos enquanto ele se divertia com a situação.

- Eu já te disse que você faz muitas perguntas? - perguntou rolando os olhos e parando no meio da vasta sala da casa da Pattie.

- Faço muitas perguntas porque não me dão respostas. - rebati manhosa cruzando os braços e enquanto ele procurava por algo na estante.

- Achei! - exclamou pegando um DVD nas mãos e voltando para perto de mim. - Lembra? - perguntou virando a capa pra mim e eu ri pelo nariz negando com a cabeça.

- O primeiro filme de terror que vimos juntos.

- Isso, você tem boa memoria. Graças a esse filme você teve um pesadelo e me mostrou pela primeira vez que estava começando a sentir algo por mim.

- Então, maldito filme. - brinquei fazendo-o sorrir e jogar o DVD no sofá.

- Agora, vem cá. - disse entrelaçando nossos dedos e subindo as escadas.

- Justin, o que você...

- Sem mais perguntas. - disse abrindo a porta do seu antigo quarto e entramos.

 Ainda parecia o mesmo. A mesma decoração, a mesma mobília e senti as lembranças batendo como brisa de verão em meu corpo. - Aqui foi onde tudo começou. -falou próximo ao meu ouvido abraçando meu corpo por trás enquanto eu fechava os olhos. – Sei que na casa do Ryan foi o inicio de tudo, mas nessa casa conhecemos mais um do outro. Nossa primeira vez foi nesse quarto ha 4 anos atrás. O primeiro "eu te amo" foi nessa casa e desde então eu nunca mais soube o que era ser sozinho.
Eu olhava para você e me sentia completo. - concluiu se colocando de frente pra mim e me fazendo abrir os olhos. - O amor é muito complicado. Não podemos dizer que o amor é simplesmente feito de coisas boas, pois não é. O amor não impede que coisas ruins não nos afetem, mas faz com essas coisas ruins sejam superadas. Estamos hoje aqui, nossos filhos estão vivos, há mais uma criança dentro de você que eu amei no instante que o
médico disse a palavra "bebê". Não estamos aqui porque o amor fez com que tudo sempre ocorresse bem, estamos aqui porque apesar da dor, o amor nos fez esperar que tudo ficasse bem. Você sempre foi minha luz no fim do túnel. Podia estar em completa escuridão, mas eu via o seu sorriso de longe e me focava nele. Eu me mantive vivo por você. O passado esta no passado, o
nosso presente é esse momento agora e o futuro eu não me importo, porque ele pode ser
qualquer coisa desde que você seja minha pra sempre. Eu errei muito com você, e se eu pudesse voltar no tempo eu recuperaria o tempo perdido, eu te ouviria, eu te amaria desde o colégio porque eu sinto que perdi tempo demais te odiando.
Você me salvou. Você deu alma a um corpo vazio, você revitalizou cada coisa morta dentro de mim. Eu teria que passar a eternidade com você para te agradecer o suficiente, então fica comigo pra sempre? Fica comigo ate eu olhar nos seus olhos pela ultima vez e dizer "te espero
do outro lado"? - Justin, - falei deixando as lágrimas escorrerem. –, estamos conectados. Pra onde você for, eu vou. Não há chance de eu te deixar, não há nenhuma chance disso acabar. Não
somos apenas um casal, não somos apenas marido e mulher. Somos Lorena e Justin. Isso fala por si. Eu não escolhi estar com você e não sou eu que vou decidir não estar. O meu amor por você não foi algo premeditado. Você não era o melhor pra mim, mas era o que era pra ser. Às vezes a vida faz isso. Deixa de nos dar o que achamos que queremos para nos dar aquilo que realmente temos que ter. Se fosse uma opção minha, eu jamais escolheria você pra ser meu, porque nós nos odiávamos, você sabe disso. – falei sorrindo fraco. - Então graças a Deus que foi uma escolha da vida, pois eu não tenho a mínima noção de onde eu estaria agora se eu não tivesse me apaixonado por você. Eu vou ficar pra sempre ao seu lado, ate a sua morte, ate o meu Sol se por pra sempre atras do morro.
- Nao se esqueça que o Sol se vai pra amanhecer em outro lugarm - disse sorrindo de canto. - Eu vou te amar alem da vida e irei te esperar no paraíso. - concluiu me fazendo sorrir.
- O que faremos agora? Temos uma vida tranquila inteira pela frente.
- Vamos curtir nossos filhos ja que te engravidei de novo. - disse convencido. - me fazendo tocar minha barriga.
- Ela veio para anunciar a paz, feito uma flor no deserto. - sorri.
- Ela? Voce quis dizer "ele". - implicou. - E pode ficar tranquila, sua vida nao se tornara pacata. Eu ainda nao tive chance de fazer tudo que eu quis, entao sera como se nao conhecêssemos agora.
- Entao eu me apresento e ja digo que tenho 3 filhos seus? - perguntei debochada e ele riu pelo nariz.
- Pode deixar que vou assumir todos. - disse levantando as mãos em forma de brincadeira como se se rendesse.
- Palhaço. - falei em meio a risada. 
- Eu te amo. - falou segurando meu
rosto com as duas mãos. – Meu corpo quer que eu te diga mil coisas, mas eu não consigo expressar. Acho que o eu te amo foi criado para isso, para nos fazer expressar mil coisas em três
palavras. – falei e eu sorri soltando um suspiro. - Não se preocupe em me dizer o que você pensa, pois se você acha que o seu "eu te amo" expressam mil coisas, então eu te digo que os seus olhos expressem mil e uma. - falei e suas mãos puxaram meu corpo para o seu. - Acho que é nesse momento que acordamos do sonho bom. - falei enquanto ele juntava nossos narizes.
- Não tenha medo de fechar os olhos. Eu ainda estarei aqui quando você os abrir. Suas mãos tocaram minhas costas e nossos lábios se encontraram em um beijo lento. Abracei seu corpo e tive a certeza que eu nunca me cansaria dele, nunca me acostumaria com o fato de ter recebido a perfeição em minhas mãos e ainda ter tido a chance de tê-lo como o homem da minha vida. Pobres poetas que passam a vida expressando o amor, eles nunca entenderam que é algo a ser apenas sentido. Nada que se escreva será capaz de transmitir por igual o que se sente. Eu viveria, morreria e nosso amor seria para sempre. Pois tudo que transcende a vida, não tem fim.

POV Justin

12 anos depois

Passando os olhos pela sala, Daniel estava sentado entre seus pais, Fernanda e Ryan enquanto me ouvia falar, Cindy, aos seus 18 anos, estava sentada ao lado da mãe com a beleza excêntrica que havia puxada dela, enquanto Max entrelaçava suas maos a de sua amada. Minha mãe tinha os olhos marejados e a ponta do nariz vermelha enquanto me olhava com orgulho. Sônia ouvia atenciosamente cada frase nossa como se fosse a primeira vez que ouvia. Meu pai, com seu agora cabelo grisalho, parecia tentar esconder a lágrima que caiu do canto de seu olho. Alice e Charles haviam crescido tanto que cada vez que eu me recordava que eles estavam com 16 anos, sentia a maior felicidade do mundo, a felicidade de ser pai. Olhavam atentos, pois era a história que eles mais gostavam de ouvir, mas estávamos ali recontando para uma pessoa apenas que ainda não havia escutado aquela história. Voltei minha cabeça para esquerda e meus olhos fora até Lorena que estava sentada ao meu lado. 12 anos depois e ela ainda me olhava com o mesmo jeito apaixonado. Seu cabelo estava, agora, cortado na nuca e havia lágrimas em seus olhos. Destiny, nossa filha de 12 anos, se levantou do lado da mãe com um sorriso fraco se colocando a nossa frente.

- Pai, mãe... eu amei ouvir essa história.