Vizinhos

Aproveitei o feriado celebrando algum santo, para arrumar a casa na parte da manhã. Obriguei Chaz ir para casa e Justin e Ryan a arrumarem algo para fazer durante o dia. Quando me vi sozinha naquela bagunça, me desesperei por não ter noção de por onde começar. Mas, por fim, peguei alguns sacos plásticos na cozinha e coloquei dentro todas as latas de cerveja e resto de comida. Os sacos ficaram completamente cheios. A casa não tinha lava-roupas, deduzi que eles usavam a lavanderia que eu havia visto no fim da rua. Isso só servia para gastar mais dinheiro. No próximo mês eu providenciaria uma lava-roupas com meu salário.
Procurei feito louca uma vassoura naquela casa, mas se eu já tinha olhado três vezes no mesmo cômodo e não tinha achado, então, certamente, uma vassoura não existia naquela casa, pois nada a esconderia. Como eles acharam que eu iria varrer a casa? 
Lembrei-me do vizinho de baixo que dava uma tremenda festa no dia anterior e abri a posta para descer as escadas até encontrar sua porta branca feito marfim com um tapete roxo que brilhava escrito alguma coisa que não identifiquei.

– Posso ajudar? - uma voz cantou feito sinos, me pegando de surpresa, pois eu ainda olhava para aquele mágico tapete. - Desculpe, te assustei? - uma voz muito suave e delicada, não parecia vir de um homem.
– Não, está tudo bem! - eu sorri maravilhada por sua educação. - Meu nome é Lorena, muito prazer – me apresentei esticando meu braço para um aperto de mão.
– Prazer, Lorena. Meu nome é Gilberto, mas não tem problema em me chamar de Gil. Todo mundo me chama assim. - ele sorriu como se conversasse com alguma amiga de infância.
– Então, Gil – eu ainda sorria contagiada por seu sorriso. - Eu me mudei a pouco tempo para o andar de cima. Eu moro agora com os meninos... er... você os conhece?
– Ah, mas é claro! Quer dizer, eu nunca falei com eles, eu não sei como anda esse mundo heterossexual, não sei se eles vão me tratar mal ou vão ser educados – ele sorriu dando uma gargalhada de sinos – mas eu os conheço de vista. Eles são ótimos, umas gracinhas!

Gay! Que legal. Parecia uma companhia ótima! A delicadeza e a forma como me tratou deu a impressão de que seria educado até com algum ladrão que roubasse sua bolsa: “O zíper está com problema, está bem querido? Puxe-o com força. O dinheiro está na carteira perolada, na outra só há camisinhas. Pode usar a vontade com as suas meninas. Fique bem, bom assalto.” - imaginei ele dando instruções ao ladrão. 

– Mas o que você deseja?

Eu o olhava maravilhada. Realmente era muito educado e sensível para ser heterossexual. 

– Bom, na verdade os meninos não tem vassoura e eu estava com planos de arrumar a casa... - disse um pouco envergonhada.
– Ah, sim. Claro! Espere um segundo, Lorena. Quer entrar?
– Não, não precisa. Outro dia eu venho aqui com calma.
– Ah que isso! Já está aqui, então entre. Depois você sobe e arruma a casa.

Ele pedia de uma forma tão meiga, que seus olhos brilhavam. Eu não podia negar.
A casa tinha paredes verdes. Um tapete branco de pêlos cobria a sala inteira. Um cheiro delicioso vinha da cozinha. Sentei-me no grande sofá bege que pegava quase toda a parede da sala.

– Eu moro com o Lucas. - ele começou a falar sem se poupar de eu ser, ainda, uma estranha. - A mãe dele é contra a gente. Aliás, toda a nossa família. Nos mudamos para cá porque tínhamos que ficar juntos e não tinha como mais morar com meus pais. O bairro é meio paradinho, não achou?
– Muito. Isso é perigoso?
– Não sei. Eu moro a quase um ano e nunca me aconteceu nada. Eu não trabalho, e o emprego do Lucas não é grande coisa. Ele está esperando ser promovido. Enquanto isso, só podemos pagar isso.
– Mas a casa de vocês é muito bonita – garantí.
– Exteriormente. Não podemos dar descarga duas vezes seguidas, se não a torneira da pia da cozinha começa a vazar. 

Rimos escandalosamente enquanto eu lembrava do fato da noite anterior contando à ele.

– Aqui é a mesma coisa. - garantiu-me – Você parece ser muito nova. – disse ele tagarela mudando rápido de assunto
– Eu tenho 17 anos. E você?
– Vinte e dois. Um dos meninos é seu namorado?

No momento exato que ele terminou a pergunta, me deu uma vontade louca de rir, mas eu suava frio. Na noite anterior eu me deitei com os dois sem premeditar os fatos. Eu estaria com problemas se isso chegasse ao conhecimento dos dois.

– O que foi? - ele estranhou meu silêncio.
– Não, eu não namoro com nenhum dos dois. São meus amigos. - eu disso por fim, sorrindo.

A campainha tocou e Gil levantou para atender, levantei-me também para ir embora. Ele abriu a porta e uma morena um pouco maior que eu, com os cabelos fascinantemente lisos e até o meio das costas, sorriu com seus dentes brilhantes.

– Lorena, essa é a Fernanda! Ela mora no primeiro andar.
– Você é a menina que está morando agora com o Ryan e Justin, certo?
– Sim, você os conhece? - perguntei feliz.
– Bastante! - ela sorriu parecendo envergonhada. 
– Aqui está, Lorena – Gil disse entregando-me a vassoura – Não precisa ter pressa para me devolver, temos outra aqui.
– Está bem. Obrigada, Gil.

Me virei novamente para Fernanda.

– Vocês são amigos ou algo assim? Eles ainda não me falaram de você. - fiz expressão de confusa.
– Ainda bem. - ela sorriu.
– Não estou entendendo.
– Quer entrar de novo, querida? - Gil nos interrompeu olhando para mim com seu incansável sorriso – Sinto que há muitas coisas que você deveria saber.
Entrando na casa mais uma vez, eu ainda olhava para eles. Gil ainda com seu sorriso estampado e Fernanda com um ar preocupado. 

– Sente-se aí. - pediu Gil – eu vou lhe contar tudo, mas prefiro que ouça antes de julgar.
– Claro – concordei.

Gil olhou para Fernanda e ela assentiu uma vez.

– Fernanda e eu somos primos. Sempre vivemos muito agarrados, desde pequenos. Então, meu pai abusou de Fernanda quando ela tinha 14 anos, ela me contou isso dois anos depois, quando eu tomei coragem e contei a ela minha preferência por homens. Ela agiu de uma forma tão natural que eu vi que seria a única que eu poderia contar de verdade. Meu pai fazia ameaças a ela, e eu o odiava com todas as minhas forças. Até mesmo antes de saber disso, pois ele batia em minha mãe. Que Deus a tenha – ele completou. - Quando decidi sair de casa, logo após minha mãe falecer, eu já namorava com o Lucas a três meses e ele já morava sozinho. Chamei a Fernanda para vir comigo, pois ela decidiu ter um trabalho que seus pais não sabiam e estava cada vez mais difícil conciliar seu trabalho com sua rotina dentro de casa.
– Eu vi um jeito mais fácil de ganhar logo meu dinheiro e sair daquela casa. - interrompeu ela a Gil para contar sua própria história. - Era arriscado, mas juntei o útil ao agradável. - ela sorriu sensualmente. - Quando Gil me chamou para morar com ele, foi um presente de Natal. No final do ano passado deixei um bilhete explicando tudo para minha mãe e contando a ela o que o pai de Gil tinha feito comigo. - ela pareceu não estar incomodada – Ainda desejei boas festas. - ela, enfim, sorriu. - Então saí de casa e aqui estou. Fiquei morando aqui por um tempo e logo depois o dinheiro que eu ganhava dava para me sustentar sozinha, então aluguei o apartamento de baixo.

Minha boca ainda estava escancarada. 

– Lorena? - Gil me chamou, com um sorriso.
– Eu estou bem. - garantí voltando ao normal. - Você é garota de programa? - eu perguntei olhando para Fernanda.
– Sim. - ela respondeu com um sorriso, como se tivesse orgulho daquilo.
– Seu pai bateu na sua mãe até morrer? - perguntei a Gil subindo algumas oitavas.
– Não. - ele sorriu me tranquilizando – minha mãe morreu de câncer.
– Nossa, que triste! Eu sinto muito.
– Não sinta! Ela está melhor aonde quer que ela esteja.

Ele parecia realmente convicto daquilo, não se sentia triste por saber que sua mãe, mesmo que por uma forma extremamente radical, estava longe das bofetadas de seu pai.

– Então, - voltei a perguntar à Fernanda. – Ryan e Justin já pagaram por seu sexo? - eu sorri educadamente.
– Algumas vezes. 
– Ah, mas eu não acredito! - eu exclamei alto demais.
– É verdade, por que eu mentiria? - ela pareceu não entender.
– Não, - eu sorrí – não é disso que estou falando.
– Então o quê é?
– Eu não acredito que eu fiz isso ontem com os dois de graça!

Nós três rimos e o canto de risadas pareceu agradar nós três. Sejam lá quem eram aquelas duas pessoas recentes na minha vida daquela forma tão estranha, eu estava adorando a companhia deles.

– Acho que vamos nos dar muito bem, Lorena. - disse Renata com os olhos brilhantes perfeitos.
– Não tenha dúvida.
– Ah meu Deus, meu bolo está queimando. - disse Gil correndo até a cozinha.

Ficamos sozinhas na sala. Depois de um curto tempo em silêncio, Fernanda suspirou como se fosse dizer algo, enquanto eu observava os lindos quadros na parede da casa de Gil.

– O que foi? - perguntei curiosa.
– Por que você se mudou para cá?

Respirei fundo. Eu não queria contar aquela situação toda, mas Fernanda me passava tanta segurança, tanta confiança. Então comecei a colocar os pensamentos em ordem e expliquei a ela desde o começo. Sua boca fechava e abria de susto. De vez em quando soltava uns palavrões, insultando meu pai. Eu ria.

– E sua mãe? Como ela está agora?
– Não faço a menor idéia.
– Ela não parece querer seu mal, Lorena. Talvez você devesse encontrá-la. Se minha mãe quisesse me ver, eu ficarei muito feliz. Estou morrendo de saudades dela.
– Ela não quer te ver?
– Nem coberta de chocolate.
– Esse prédio aqui é uma depressão, só! - nós duas rimos.
– Os meninos não parecem ter problemas. Têm?
– Ah, têm sim! Aquela casa imunda... Ah! - dei um pulo para fora do sofá - Eu tenho que voltar para lá antes que eles cheguem. Eu os expulsei de casa dizendo que iria arrumá-la.

Gil voltou da cozinha quando ouviu que eu iria embora.

– Volte quando quiser, querida. Você sempre será muito bem-vinda. 
– Claro, vocês são ótimos. - sorri para os dois, sem esforço algum.
– Não se esqueça da vassoura. - olhei para o canto da parede e lá estava ela. Eu quase esqueci o real motivo para que eu estivesse ali: a vassoura.

Tópico: Vizinhos

Destino Oculto

Belieber_Pq_Sim | 05/01/2015

Só Acho Que A Lorena Está Cm Ciumes #SeguraaEsseForninhoJustin

Destino Oculto

Karina Araujo | 02/05/2013

Cara essa Lorena é muito louca....!!!
KKKKK...

Destino Oculto

@JbieberPaulinha | 15/01/2013

ameeeeeeeeiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii deeeeeeeeeemaiiiiisssss

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