Decisão Forçada

Depois de descer do ônibus que estava completamente vazio, chequei a hora e ainda tinha uns bons minutos de sobra. Procurei a padaria mais próxima para silenciar o barulho que obriguei meu estômago fazer ao mentir para minha mãe minha falta de apetite, só para livrar-me mais rápido do desprezo de meu pai. Avistei uma do outro lado da calçada, e não pensei duas vezes. Atravessei a rua sem olhar o sinal, pois pelo silêncio não estaria vindo nenhum carro. “Padaria Boa Viagem”, foi o que chamou minha atenção logo quando me aproximei e pude ler aquele letreiro amarelo e vermelho descascado. Aquilo seria algum sinal do Divino? Sorri para mim mesma e entrei no lugar antes que aquele cheiro de pão assando me fizesse desmaiar de fome.
Passei o olhar rapidamente pelos pães que eram oferecidos no balcão, quando ouvi alguém chamar meu nome e olhei em direção. Encontrei aquele olhar que eu tanto conhecia, aquele sorriso tão quadrado e branco, aquele cabelo bagunçado e suas roupas tão informais. Não acreditei! Era Ryan. Meu coração pulou de alegria. A quanto tempo eu não o via? Dois meses? Desde que se mudara para dividir suas despesas com o idiota do Justin eu não o procurei mais.

– Lorena, nem acredito! O que você está fazendo aqui? - disse ele se aproximando de mim.
– Eu trabalho aqui perto, esqueceu? - deixei escapar um riso – E você o que faz aqui? - perguntei enquanto seus braços me envolviam.
– Vim resolver uns problemas, mas depois a gente conversa sobre isso. Eu estava com saudade de você!
– Eu também – minha boca parecia sorrir involuntariamente – Como você está?
– Estou bem... quer dizer... com alguns problemas, mas tudo vai se resolver. 

Tudo vai se resolver! Aquele certamente era o bordão de Ryan. Nunca vi pessoa tão otimista em toda minha vida.

– O que houve? - perguntei preocupada.
– Ah... Estou me enchendo de empréstimos - ele explicou, ainda com um sorriso no rosto. - Você sabe que eu não tenho o melhor emprego do mundo, assim como você, e Justin acabou de ser demitido.
– Ah, a educação dele não deve deixar ele parar em trabalho nenhum. - usei uma pitada certa de ironia.

Ryan soltou minha gargalhada preferida e, enfim, observou.

– Você está pálida demais! Está doente?
– Não! – respondi, já cansada de repetir que não estava doente.
– Aconteceu alguma coisa? - suas sobrancelhas se uniram de preocupação.

Pensei um pouco antes de responder. Àquela altura, eu estava me sentindo uma tremenda idiota. Talvez Ryan também fosse discordar da minha decisão assim como meu pai, mas aqueles olhos tão amigáveis não me mostravam isso. Então, tomei coragem.

– Eu estou querendo sair da casa dos meus pais e meu pai não está ajudando muito.
– Ué, sair da casa dos seus pais? Por quê? 
– Não sei ao certo. Mas sinto que devo ir atrás de alguma coisa que eu também não sei o que é e ficar naquela casa está atrasando todo esse processo.
– E para onde você vai? 
– Aí que está o problema. - sorrí
– Você pode vir morar comigo, ué.
– E dividir o mesmo teto com aquele seu amigo idiota? - perguntei desacreditada, ele mais do que ninguém sabia que era quase impossível eu fazer isso. Quase impossível...
– Vocês nem se conhecem e se odeiam – ele falou estalando sua língua no céu da boca.
– Ah, então ele também me odeia? - perguntei deixando escapar um sorriso malicioso.

Ele sorriu envergonhado, talvez não devesse ter dito isso, logo para mim. Ele me conhecia.

– Não sei... mas... mas de vez em quando ele se refere à você como “baixinha mandona”.

Nós dois rimos. Realmente ele não era o único que se referia a mim assim. Setenta por cento da escola - meu palpite, deveria ser mais que isso – me achava repugnante. Por isso eu só me dava bem com os meninos. As meninas queriam me matar e queimar o que sobrasse de mim. 

– Mas então, Lorena – Ryan interrompeu minhas lembranças – se mudar de idéia, sabe onde eu moro. Ainda tem meu telefone?
– Tenho sim, mas acho que não vou mudar de idéia.
– Acha! - frisou ele.
– Sim, acho!

Ele deixou um sorriso torto escapar. Ryan me conhecia melhor que eu mesma.

– Tenho que ir, Lorena. Por favor, não suma! 
– Pode deixar. Foi bom te ver!
– Foi bom ver você também.

Enquanto Ryan virava as costas, eu o olhava ir embora. Lembrei-me de quando éramos não só apenas amigos. Aquela amizade estranha, que supria toda a falta que sentíamos de vez em quando de estar com alguém. Ri comigo mesma ao lembrar desses momentos. Eu também não amava Ryan, mas não podia responder por ele. Tínhamos uma relação controlável, eu acho. Assim como eu queria com Chaz, mas o que era quase impossível.

– Moça, vai querer alguma coisa? - perguntou a balconista me dando um susto.

Olhei para o relógio na parede um pouco acima de sua cabeça.

– Não, obrigada.

Meu estômago doía cada vez mais, mas eu teria que esperar até a hora do almoço. A pilha de papéis em cima da mesa do escritório me fez suspirar. Lembrei-me que havia marcado com Chaz e teria que desmarcar, pois se eu quisesse um almoço tranquilo sem aporrinhações, eu teria que ir almoçar sozinha. 
Liguei sem vontade para ele, e logo em seguida me senti culpada por esse pensamento. Chaz era bom. Bom demais. Mas eu simplesmente não conseguia o enxergar como ele me via. Ele merecia todo o meu amor, mas eu desconhecia esse amor. Vi que eu teria que tomar outra decisão. 
O telefone chamou duas vezes apenas.

– Alô?
– Chaz, é a Lorena. - resmunguei um pouco sem jeito.
– Eu sei – ele sorriu – aparece seu nome na tela, burrinha!

Eu ri também quase desistindo de magoá-lo.

– Então... estou cheia de trabalho... e... er... acho que não vai dar para a gente se encontrar hoje! Tem algum problema? - isso estava me machucando mais do que eu imaginei que fosse machucar.
– Aconteceu alguma coisa? Você parece estar mentindo. - Droga! Eu era tão má atriz assim?
– A gente vai conversar sobre isso tudo amanhã, está bem?
– Lo... - eu desliguei antes de deixa-lo completar meu nome.

Ele sofreria com isso, mas a dor constrói o caráter, e no meio de tantas outras preocupações, eu não poderia dar a ele minha compaixão. Ele não morreria. Eu acho...
Tentei me concentrar, naquele dia, ao máximo no meu trabalho, e consegui. Não vi a hora passar e quando olhei para o relógio, já era para eu ter ido para casa a quinze minutos. Sorri satisfeita.
Até chegar àquele lar de guerras, eu pensei bastante na proposta do Ryan. Seria loucura. Pior que aguentar meu pai, talvez. Eu começaria a procurar lugares para morar amanhã bem cedo.
Quando virei à esquina da minha rua, desejei em silêncio que meu pai estivesse mais calmo. Eu não queria discutir nem ganhar mais insultos. Abri a porta e estranhei o silêncio. Procurei por minha mãe, mas a voz fina atormentante não vinha de nenhum canto. Escutei a televisão baixa vindo do quarto dos meus pais. Corri até lá e encontrei meu pai deitado na cama.

– Onde está minha mãe?
– Você se importa mesmo, Lorena? - começou ele a levantar e a gritar.
– O que aconteceu? - eu perguntei nervosa.
– Por causa de você e dessa sua decisão idiota de morar sozinha, sua mãe feriu meus ouvidos o dia todo! Você está fazendo a gente brigar. - Ele falava cada vez mais alto.
– Eu não fiz nada! - me defendi.
– Você fez tudo! Não sei para onde sua mãe foi, nem que horas ela vai voltar e nem se pretende voltar. Não sei nem se ela está viva! Devo a você e a sua ignorância.

Senti minhas bochechas ficarem quente, alarmando minha raiva.

– Você pode ter certeza que esse defeito eu puxei de você.

Não pude ver mais nada. Apenas senti aquela mão pesada ferir cruelmente a minha bochecha esquerda. Algumas mechas de meu cabelo embaraçaram-se em meu rosto. Eu o olhei com raiva. As lágrimas quentes ardiam sobre a pele machucada. O olhar dele se misturava num arrependimento escondido atrás da autoridade exagerada. Corri para meu quarto e tranquei a porta. 
Sem pensar nas consequências, peguei a mala de viagem que ficava em cima do armário e coloquei, sem capricho algum, tudo que encontrei em minhas gavetas e armário. Abri minha mochila e joguei mais pertences lá dentro. Com as mãos, ainda, trêmulas procurei o telefone que precisava. Apertei o 'Send' e esperei ardorosamente que atendessem.
A cada intervalo que existia entre uma chamada ou outra, parecia que eu estava ali esperando a séculos. Então, finalmente, ouvi a voz aliviadora do outro lado da linha.

– Alô?

Ainda com a voz chorosa, sufocada no fundo da garganta, forcei as palavras a saírem de minha boca.

– Ryan, vem me buscar, por favor.

Tópico: Decisão Forçada

Destino Oculto

Belieber_Pq_Sim | 05/01/2015

Opaaaaaa ... Agrrr S Começa A Fanfic

Destino oculto

@poxajeliebers | 18/09/2013

Comecei a ler a fic agora, mas parece ser perfeita *-*

Destino Ocultp

Gabi Silvaa | 02/05/2013

Aiin eu amoo ler essas Fanfic são muitoo lindaas mostram o Juus tão romantico sabe! E parece k vc ta dentro da história é muitoo boom vou ler todos os dias!!

Destino Oculto

@JbieberPaulinha | 15/01/2013

me emocionei :'(

Itens: 1 - 4 de 4

Novo comentário