Forgive Me

POV Lorena

 
4 dias depois.
 
Abracei as pernas sentada no sofá e abaixei meu rosto tocando a testa nos joelhos.  Havia um vazio dentro de mim, um vazio naquela casa, um vazio em minha vida. Todos os barulhos se silenciaram. Era como se a natureza não fizesse o seu percurso e simplesmente mantinha tudo estagnado durante os dias em que eles não estavam aqui comigo. Sentia meu rosto dolorido por causa do choro incessante e meu peito apertado. Meu cérebro estava lento fazendo com que as imagens demorassem a se formar a minha frente. A quantidade de calmante que eles haviam me obrigado a tomar era algo inquestionável. Com isso, meu corpo se transformou apenas em uma bomba de explosões que nunca conseguia estourar as emoções. Dentro de mim havia um exército querendo ir à luta, mas meus músculos não correspondiam a esse estímulo. Essa é uma mãe que não vê seus filhos há quatro dias. Esse é o estado deplorável de uma mãe que não sabe se seus filhos ainda respiram. Eu não me preocupava em contar as horas, pois não valia a pena me certificar se elas estavam demorando ou não a passar. Eu apenas queria meus filhos perto de mim, apenas isso. Fechei meus olhos com forças fazendo as lagrima escorrerem enquanto ouvia suas risadas e suas vozes em minha cabeça. Solucei num suspiro e abri meus olhos fitando um ponto fixo. Aquilo não podia morrer em lembranças. Pensamentos não podiam ser a única coisa que me conectariam aos meus filhos. Se você perde os pais, você é órfã, se você perde o marido, você se torna uma mulher viúva, mas se você perde seus filhos… bom, pra isso não há nome, muito menos uma explicação que condense tudo que meu peito fazia doer.
 
Na sala, Pattie, Fernanda, Emma e minha mãe pareciam fazer plantão. Apesar da dor cravada na expressão de cada uma, era visível que elas estavam atentas a qualquer outro ataque de fúria meu. Eu estava incontrolável e elas apenas tinham que perceber quando o calmante cessava em seu efeito. Kimberly havia deixado Cindy na casa de Max e Jeremy aparecia em minha casa algumas vezes ao dia para saber se todos estavam bem. Não vi Justin todos esses dias. Ele não dormia, ele não parava. Eu apenas esperava sua chegada, eu apenas esperava seu telefonema me avisando que havia encontrado nossos filhos, mas quando ele chegava, o sono já havia me feito desmaiar e quando ele saía, eu ainda estava dormindo. Abrir os olhos e perceber que seu sentimento ruim não é um simples pesadelo é extremamente desesperador. Não havia outro pensamento rondando em minha cabeça senão Alice e Charles. Eu era impedida de sair de casa, mas meus instintos maternais me fuzilavam a razão por eu estar ali sem fazer nada. Chorar era tão fácil. Eu estava uma fonte interminável de lágrima e dor. 
 
- Quer alguma coisa? - minha mãe se aproximou abatida sentando ao meu lado.
 
- Os meus filhos. - falei firme mirando um ponto qualquer.
 
- Filha, você tem que comer algo. Você não pode se entregar assim. - disse acarinhando meu cabelo.
 
- Eu quero os meus filhos. - repeti por um sussurro sem fita-la.
 
- Eles vão achar eles, eu tenho certeza. - falou tentando passar serenidade.
 
Virei meu rosto calmamente e vi sua lágrima escorrerem. Ela não tinha tanta certeza daquilo, ela estava mentindo. Ela sabia que quatro dias era tempo suficiente para achar alguém. Kimberly, Ryan e Justin. Esses eram o “Eles” que ela se referia. Os três não haviam parado de fazer buscas desde quando o sequestro foi enxergado. Levaram meus filhos de mim e seria mais fácil de suportar se apenas tivessem levado o meu coração.
 
POV Justin
 
Estrada vazia, meus pensamentos também. Ouvia o motor do carro da Kimberly acelerando atrás do meu e o carro do Ryan ao meu lado. Meus óculos escuros escondiam olhos cansados e vermelhos. Em meu peito havia um peso tão forte que nem tudo que um dia tive que suportar era páreo para a dor de sentir a possibilidade de nunca mais ver seus filhos. Já havia ficado um ano longe deles e aquilo quase me matou, mas no fundo eu sabia que eles estavam com a mãe e havia possibilidades deles não sofrerem. Mas sozinhos? Com quem? Aonde? Por quê? Ninguém estava ali para responder minhas perguntas e a quem eu poderia recorrer? Registrar o caso e correr o risco de ser investigador e ser preso por outros motivos? Não. Eu precisava me manter livre e fazer aquilo por mim mesmo. Eu precisava vê-los vivos e sabia que isso apenas dependia de mim. Eu tinha que ir até onde eu podia, ou além disso.
 
- Justin, vai devagar. - ouvi Ryan falar em meu ponto, mas não tive forças pra responder.
 
Eu não dormia direito há quatro dias. Estava numa busca obsessiva e incontrolada. Se eu gastasse horas dormindo, seria o tempo que meus filhos podiam estar sofrendo. Minhas pálpebras pesavam e meus pensamentos pareciam loucos e lentos. Eu dirigia seguindo a direção, mas dentro de mim a esperança morria feito brasa no frio. Eu não tinha forças para desistir, mas por outro lado já não havia onde procurar. Não conseguia encarar a Lorena, não conseguia informar que não sabia onde nossos filhos estavam. Chegava em casa quando já sabia que ela estava dormindo, tomava banho e mudava as roupas para sair mais uma vez dando-lhe um beijo na testa com um pensamento de desculpa. Desculpa por não achar nossos filhos. Desculpa por falhar.
 
- Justin! - Ryan gritou mais uma vez em meu ponto.
 
- Justin, responde! Isso não tem graça. - ouvi a voz da Kimberly estressada.
 
Estávamos conectados porque nos dividíamos pelo estado e divulgávamos um para os outros as nossas informações através do ponto. 24 horas conectados. 24 horas sem respostas. Continuei dirigindo sem forças pra responder. Ouvia suas vozes, mas estava em torpor. Minha boca e minha língua não mexiam para que eu pudesse proferir algum som. Eu já havia entrado em alfa e estava no automático. Tão no automático que nem ao menos percebi que minhas pálpebras foram fechando e… de nada mais me lembro.
 
POV Kimberly
 
Justin corria tanto que já havia perdido a noção de quantas vezes eu havia trocado as marchas para alcançá-lo. Ryan estava na minha frente e ouvi pelo ponto quando ele o chamou pela primeira vez. Sem resposta. Queria alcançar o carro do Justin e entender o que estava acontecendo. Eu me preocupava com aquelas crianças tanto quanto ele, mas não conseguia trabalhar cansada, sem dormir. Isso era suicídio. Mesmo quando eu e Ryan íamos para casa, sabíamos que Justin continuava procurando por eles sozinho. Eu estava tão perdida quanto ele e empurrando a coragem para seguir em frente enquanto a razão jogava em nossas caras o “desista”. Ver o estado do Justin e ate mesmo da Lorena era algo que amolecia minhas pernas, me deixava aflita enquanto sentia o coração esmagar. Já senti a dor de quase perder uma filha, mas nunca a tiraram de mim. Podia apenas imaginar aquela dor, mas sabia que nada era comparável ao sentir. Sacudi a cabeça limpando os pensamentos e ouvi a voz do Ryan mais uma vez.
 
- Justin! - ele gritou e senti meu peito gelar. 
 
- Justin, responde! Isso não tem graça. - falei firme temendo o pior. 
 
Continuei seguindo seu carro pela estrada escura. Já havíamos revirado aquela cidade, já havíamos revirado todas as cidades próximas. Nenhum sinal, nenhuma dica, nenhuma piedade. 
 
- Justin, devagar, caralho. - Ryan gritou mais vez.
 
Acelerei meu carro quando percebi que Justin havia parado de acelerar e na mesma hora ouvi a voz desesperada do Ryan.
 
- Justin, acorda. - ele gritou me fazendo olhar para seu carro. 
 
Ryan olhava para frente rapidamente e em seguida para o carro do Justin com um desespero que me gelou. Meu peito sufocou e alcancei o outro lado do carro do Justin notando que ele havia dormido do volante.
 
- Justin! - gritei para que ele me ouvisse do ponto, mas sua cabeça tombada e seus braços fora do volante não se movimentaram.
 
- Filho da puta… - Ryan reclamou em desespero.
 
Meu coração acelerou. Justin estava dormindo enquanto seu carro continuava numa velocidade alta. Eu queria prestar atenção na pista, mas meus olhos não saiam dele. Tao frágil, tão humano, tão dolorido.
 
- O que vamos fazer? - Ryan gritou me tirando do transe.
 
- Temos que parar o carro dele. - falei ofegante tomando ciência. 
 
- Como? O corpo dele apagou, Kimberly. Eu falei pra esse filho da puta nao ficar virado, caralho. - falou firme por entre os dentes.
 
- Eu preciso parar ele, não sabemos o que vem pela frente, ele vai bater. - falei apertando o volante.
 
- O que você vai fa… 
 
- Se afasta, Ryan. Vai um pouco pra trás. - falei o cortando.
 
- O que você vai fazer? - ele gritou.
 
- Só vai pra trás, merda! - gritei e vi seu carro se afastar um pouco.
 
Olhei mais uma vez pra cabeça de Justin tombada e não pensei duas vezes para não desistir. Virei o volante fazendo minha lataria chocar com a dele. Senti o impacto jogar meu corpo pra frente, mas o cinto me segurou. O carro dele rodopiou muitas vezes pela pista ate perder força e entrar no meio do mato batendo sem muita velocidade em uma árvore. Parei o meu carro saindo do veículo e batendo a porta com força. Meu coração acelerou. Ele tinha que estar bem. Notei Ryan distante correndo ate onde o carro dele havia parado. O vento gélido se chocava com meu rosto e podia ouvir o meu coração bater forte em meu peito. Me aproximei do carro e à pouca luz avistei Justin tentando sair do veículo. Eu e Ryan nos aproximamos juntos e abri minha boca surpresa quando Justin se pôs de pé com a mão na cabeça sendo ensanguentada pelo corte profundo em sua testa.
 
- Que porra foi essa? - gritou com raiva olhando pras próprias mãos e veio pra cima de mim, mas a tontura o fez cair.
 
Fiquei estática vendo aquela cena. Ate que ponto um ser humano chega para manter a família bem? Ate onde o nosso corpo pode aguentar?
 
- Justin, você dormiu no volante. A Kimberly só fez o que podia. - Ryan explicou se aproximando e o ajudando a levantar do chão. 
 
Justin me olhou sem expressão assim que se pôs de pé tentando manter a postura reta. Seus olhos estavam prontos pra derramar tudo que seu corpo podia carregar de lágrimas. Ele sabia que já estava no seu limite, ele sabia que não tinha mais aonde ir.
 
- Quer que eu te agradeça por ter salvado minha vida mais uma vez? - perguntou com escarnio. – Quer ganhar mais uma estrelinha na sua blusa? Parabéns, Kimberly. Mais uma vez o dia foi salvo pela grande Kimberly. – ironizou nervoso.
 
Não tinha forças e nem vontade de responde-lo. Na minha frente estava o homem a quem Deus virou as costas. A passos de mim estava o resto do que se pode chamar de ser humano. Ele estava destruído, seus olhos fitavam os meus sem emoção. Ele tinha que descontar a raiva em alguém.
 
- Vamos pra casa. - Ryan cortou o clima colocando a mão em seu ombro.
 
- Não vou por minha cabeça num travesseiro ate me certificar que meus filhos estão bem e no quarto da frente.
 
- Pra isso você precisa estar vivo! - Ryan rebateu ignorante. - Qual é, Justin! Dirigir nesse estado é missão suicida.
 
- Eu já estou bem. - garantiu fingindo mal com o sangue escorrido secando em uma linha grossa pela lateral direta de seu rosto.
 
- Não, você não esta. Você precisa ver esse corte, você precisa descansar. Eu e Ryan estamos descansados, vamos fazer o resto do percurso. - gritei me metendo.
 
- Eu não teria metido a cabeça no vidro do carro se não tivessem batido em mim. - gritou um pouco desconexo e em seguida me olhou.
 
- Não fala merda, filho da puta! Você queria se chocar contra um muro naquela velocidade? Você dormiu no volante, Justin! Dormiu! - Ryan gritou e ele se calou mantendo os olhos em mim.
 
- Eu não vou pra casa sem meus filhos! - gritou depois de breves segundo em silencio e em seguida pôs a mão na cabeça sentindo dor.
 
- Justin, escuta aqui. - Ryan disse se colocando de frente pra ele e o encarando serio enquanto Justin retribuía o olhar. - Eu quero achar eles tanto quanto você quer. Eu não sinto amor de pai, mas sinto amor de tio. Eles são crias de duas pessoas que considero pra caralho em minha vida, mas eu não vou deixar você se matar. Va pra casa. Eu e Kimberly faremos a busca dessa madrugada. - falou firme.
 
- Ryan, eu… - ele rolou os olhos tentando argumentar quando Ryan entregou as chaves do carro a ele.
 
- Toma, eu vou com a Kimberly. Teu carro não serve mais pra nada. - disse superior e Justin fitou as chaves e em seguida virou os olhos pra mim me fitando serio por alguns segundos ate desviar seus olhos para o nada e levantar a mão tomando as chaves da mão do Ryan. Sorri fraco aliviada. Ele iria pra casa.
 
- Você vai dormir? Você vai bater o carro e perder a chance de ver seus filhos? - Ryan perguntou.
 
- Não, eu não vou dormir. - Justin grunhiu sem forças.
 
Senti uma lágrima escorrer e a sequei rapidamente. Ele agia feito um homem sem forças, como se já tivesse usado tudo que podia para se manter em pé Ryan se afastou indo em direção ao meu carro enquanto eu analisava Justin abraçando meus cotovelos. Seus olhos me fitaram. Ele não iria chorar na minha frente, mas sua expressão de dor me bastava.
 
- Do mesmo jeito que salvei nossa filha, - ele disse com a voz rouca fazendo uma pausa que parou meu coração junto. - traga meus filhos de volta pra mim. - concluiu franzindo a testa e pude o sentir implorando mesmo que o tom não tivesse sido de suplica. Assenti limpando a lágrima e me virei sem olhar pra trás.
 
POV Lorena
 
- O carro do Ryan. - ouvi Fernanda suspirar eufórica enquanto olhava pela janela.
 
Olhei em sua direção sentindo meu peito palpitar. Qualquer movimentação deles em casa eu já podia imaginar meus filhos saltando do carro. Corri ate a porta juntamente com a Pattie, Emma e minha mãe e o carro estacionou em frente a casa. A porta foi aberta e Justin saiu do carro com o corpo cansado. Sem falar nada, mas com a certeza de que as crianças não estavam com ele, Fernanda, Emma e minha mãe voltaram aos seus lugares enquanto Pattie corria ao seu encontro. Alice e Charles, eu ainda espero que vocês saltem desse carro. O sorriso fraco se desfez e as lágrimas escorreram. Percebi os movimentos desesperados de Pattie enquanto ela notava algo no rosto dele. Eu não conseguia mover meus pés do chão. Justin estava tão destruído quanto eu ou talvez mais. Meu peito se movimentou forte com o solavanco do soluço do choro. Ele caminhou lentamente ate onde eu estava tentando evitar meus olhos enquanto Pattie vinha agarrada em sua cintura. Percebi o corte em seu rosto quando ele passou por mim cruzando a porta sem falar nada, mas com o olhar que dizia tudo.
 
- Emma, por favor, vá pegar o kit de primeiro socorros. - Pattie disse nervosa enquanto todos notavam o corte de Justin.
 
Olhava para ele sem saber expressar as palavras. Eu não queria vê-lo naquele estado, mas eu queria meus filhos. Eu apenas queria meus filhos.
 
- Você não achou eles? - perguntei fraca enquanto as lágrimas escorriam.
 
Justin me olhou e levantou as sobrancelhas como se não precisasse responder. Eu não queria imaginar meus filhos mortos, eu não podia imaginar meus filhos mortos.
 
- Justin. - o chamei rangendo os dentes enquanto era assistida por todos na sala. - Eu quero os meus filhos. - gritei fora de mim sendo amparada por minha mãe.
 
- Filha, calma.
 
- Eu quero os meus filhos! - gritei mais uma vez em meio ao choro.
 
Meus joelhos fraquejaram e senti minha cabeça rodar. Não sabia se o remédio já havia perdido o efeito, mas uma força descomunal tomou meu corpo e a dor parecia se alastrar por todos os centímetros de pele. Justin me olhava sem ter o que dizer enquanto minha mãe tentava me segurar.
 
- Eu quero os meus filhos, Justin. Eu quero os meus bebes, você me prometeu. Você prometeu que ia trazer eles pra mim.
 
- Lorena… Lorena… olha pra mim. - minha mae disse chorosa segurando o meu rosto e ouvi a porta do escritório do Justin ser batida e olhei vendo Pattie ir atrás. - Minha filha, - minha mãe me chamou mais uma vez tomando minha atenção. - Não faz isso com ele, ele precisa tanto de você como você precisa dele. Vocês dois tem que passar por isso junto. Não se descontrole.
 
- Eu quero os meus filhos. - repetia aquilo como se ninguém ainda tivesse entendido.
 
Escutei o choro alto de Fernanda do canto da sala e voltei à realidade aos poucos. O que estava fazendo me preocupando apenas com o meu estado?
 
- Emma, - minha mãe gritou vendo-a voltar de onde ela havia ido pegar o kit. - fica com a Lorena. Eu preciso tirar a Fernanda daqui. Ela não pode fazer mal a esse bebe, ela precisa se acalmar. - minha mãe disse desesperada enquanto Emma segurava em meus braços e me arrastava ate o sofá.
 
Sentei sentindo o mundo desabar enquanto olhava Fernanda ser arrastada ate a cozinha. Passei a mão pelo cabelo abaixando a cabeça. Emma se afastou indo ate o escritório entregar a pequena maleta e em seguida voltou se sentando ao meu lado.
 
- Dona Lorena, tome os seus remédios. - disse me entregando a cartela e eu bati em sua mão fortemente jogando tudo no chão.
 
- Chega de me dopar! - gritei levantando. - Eu preciso dos meus filhos, eu preciso deles comigo. - o choro alto cantava da minha boca.
 
- O que está acontecendo aqui? - Jeremy cruzou a porta e se aproximou de mim com o semblante serio.
 
Respirava ofegante. Sentia a realidade se aproximar, mas não queria aceita-la. Meus filhos não podiam estar mortos. Me pus de costas me escorando na parede e o choro simplesmente me consumia.
 
- Lorena, - Jeremy abaixou o tom tocando meu ombro e eu não quis me virar, porem ele continuou. - Ele precisa de você. - Jeremy sussurrou cortando meu coração.
 
Respirei fundo, mas a respiração saiu cortada. Ouvi a porta do escritório ser aberta e Pattie parou de lá mesmo olhando em minha direção como se pedisse ajuda. Olhei para Jeremy e ele assentiu como se pedisse pra eu ir ate lá. Fechei os olhos tentando encontrar forças e caminhei até o escritório. Pattie saiu da direção indo pra perto de Jeremy e eu entrei no local avistando Justin sentado na cadeira atrás da mesa com o olhar perdido. Fechei a porta atrás de mim e as lágrimas ainda escorriam. Sentia o peso do mundo nas minhas costas, ainda assim aquilo parecia doer mais em Justin.
 
- O que houve com a sua testa? - perguntei apreensiva sem obter resposta.
 
Caminhei para perto dele fazendo com que seus olhos se desviassem. Por breves segundos me perdi naqueles olhos. Podia enxergar toda a sua dor se misturar com a minha. A quem recorrer quando a pessoa que te mantem forte também esta fraca? Mordi o lábio tentando fazer aquela dor diminuir dentro de mim, mas não havia como.
 
- Justin… - sussurrei sem forças e ele continuava a me olhar sem expressão. - Fala pra mim… fala pra mim que eles estão vivos.
 
- Desculpa. - sua voz rouca invadiu o ambiente chicoteando minha pele enquanto ele desviava os olhos para o nada.
 
- Pelo o que? - perguntei temendo a resposta.
 
- Eu não sei onde achar eles. Eu não sei mais onde procurar. Onde eu estava com a cabeça quando achei que podia fazer filhos em você? Por que eu não fui mais cuidadoso? - perguntou mesmo pra si mesmo se levantando da cadeira.
 
- Do que você esta falando? - perguntei chorosa.
 
- Eu fui egoísta. Eu já corro risco apenas por ser eu mesmo. Por que eu não pensei duas vezes antes de colocar você na minha vida? Antes de foder com a sua vida? - perguntou com ódio.
 
- Justin, não fala isso. - me aproximei tocando o seu rosto e notando que seu corte já estava limpo e cuidado. 
 
- Eu perdi eles. Eu não tenho mínima ideia de onde eles estão. Acreditei que a guerra havia acabado só por que eu não tinha mais força e coragem para lutar. - falou dolorido e uma lágrima escorreu.
 
- Você não pode desistir. Você tem que achar eles. - falei firme fazendo-o me fitar calado. - Você é tudo que eu tenho agora. Você me deu eles, eu mereço estar com eles. Eu acredito em você. Eu não vou desistir como você esta fazendo com você mesmo. - falei atropelando as palavras e seu silencio me consumia. - Justin… - o chamei em meio ao choro, mas ele não respondeu. - Fala pra mim que não acabou, fala pra mim que eles estão vivos, fala pra mim que eu verei eles crescidos, por favor. - me desesperei e senti seus braços me abraçarem com força.
 
Meu rosto se chocou com seu peito e ali desabei. Seu abraço forte estava ali mais para ser amparado do que amparar. Abracei seu corpo como se aceitasse que agora eu apenas o tinha e ele apenas tinha a mim. Mesmo destruída, mesmo com tudo para que eu acreditasse que era o fim, no fundo da minha alma eu jamais deixaria aquela esperança morrer.
 
- Eu vou pedir ajuda e você terá que ser forte. - falou em meu ouvido e eu me afastei.
 
- Forte com o que?
 
- As autoridades vão investigar, vão achar nossos filhos, mas vão me levar pra cadeia assim que levantarem tudo sobre mim. Você ficará aqui cuidando deles. - falou segurando o meu rosto como se estivesse certo que o fim do jogo havia chegado.
 
- Não, não… não, Justin! - me desesperei e ele me calou com um beijo forte, como se me beijasse pela ultima vez. 
 
Sua mão agarrou meu cabelo e sentia meu corpo desfalecer em dor enquanto ele transmitia toda sua falta de esperança naquele beijo. Me afastei empurrando seu corpo e estava ofegante.
 
- Você não vai se entregar assim. - gritei.
 
- Que tipo de pai eu seria? Heim? Só porque tenho medo da cadeia não vou pedir ajuda as autoridades pra achar meus filhos vítimas de um sequestro? - gritou.
 
- Você não vai fazer isso. - falei firme entre os dentes. - Você não vai me deixar sozinha. Nós vamos achar eles, nós vamos achar, eu sei disso. Temos que acreditar!
 
- Acreditar em que, Lorena? Mais um dia se passa e eu não sei se estou procurando por eles vivos ou se estou apenas procurando os corpos deles para fazer um velório digno. Os pensamentos me atormentam só de imaginar o que podem estar fazendo com eles ou se já fizeram, se já mataram, se não mataram. – gritou fora de si
 
- Eu não quero ouvir isso, eu não quero. - gritei.
 
- Eu já disse. Eu vou procurar ajuda e você terá que ser forte. Aguente tudo sem mim, eu vou deixar pessoas cuidando de você.
 
- Eu não quero ninguém cuidando de mim além de você. Não é a primeira vez que você pensa em se entregar nem será a ultima, mas eu estarei aqui todas as vezes implorando para que você não faça isso. - gritei e ele se aproximou me encarando firme.
 
- Você quer seus filhos? Sou eu ou nossos filhos. Não é uma decisão difícil de se fazer.
 
- Isso não é uma decisão que eu tenho que tomar. Você não vai se entregar. Se você se entregar, eu me entrego também. Esqueceu? Eu fui cumplice e assassina. 
 
- Cala a boca, Lorena. Nunca vão descobrir que você matou alguém. 
 
- Eu contarei. - falei usando as últimas armas que eu tinha para fazê-lo desistir daquela ideia.
 
- E nossos filhos? Heim? Terão dois pais na cadeia? – gritou segurando fortemente meus braços
 
- Isso é uma escolha sua. – falei firme.
 
- Por que você não tenta me entender? O culpado disso tudo sou eu! - gritou e com toda força puxou a estante de livros derrubando-a no chão. 
 
Me afastei com o coração acelerado e senti a parede atrás de mim.
 
- Eu sou a maçã podre que estragou todo o resto. Eu sou a bala perdida que acertou o inocente. Eu comecei errado e não há uma mínima chance disso terminar bem. Eu sei disso. Mas o seu amor me enfeitiçou. Eu achei que pela primeira vez eu podia ser feliz.
 
- E você pode. Apenas não desista. - sussurrei.
 
Justin tombou no sofá encarando o nada e sentou todo jogado enquanto as lágrimas escorriam. Meu peito estava esmagado e cada batida parecia doer mais. Respirei fundo. Nada que eu falasse faria ele mudar de ideia. O desespero se espalhou pelas minhas veias e apenas queria sair dali. Abri a porta e todos estavam na sala. Os olhos vieram ate a mim e eu os encarei com desespero e corri ate as escadas.
 
- Lorena! - ouvi a voz da minha mãe enquanto eu corria para o meu quarto e batia a porta.
 
Encostei na porta fechada atrás de mim e fechei os olhos com forças. Presa dentro das minhas próprias limitações, minhas duvidas me consumiam. Eu queria os meus filhos, mas não queria Justin atrás das grades nem por um dia. Arrastei meu corpo ate sentar no chão e enfiei minhas mãos em meu cabelo. Não havia saída, não havia luz no fim do túnel. O destino pôs na minha frente duas escolhas que eu jamais poderia fazer: meus filhos ou a liberdade de Justin.
 
Ouvi meu celular tocar baixinho e despertei do transe me pondo de pé. Corri ate minha bolsa pendurada pegando o celular em minhas mãos. Numero desconhecido. Senti minhas mãos tremulas enquanto colocava o aparelho na orelha. 
 
- Alô. - falei sufocada.
 
- Mamãe. - ouvi o choro de Alice eletrizar meu corpo. Me pus atenta abrindo bem os olhos enquanto o chão sumia embaixo dos meus pés.
 
- Minha filha! - suspirei fraca. - Fala pra mamãe onde você esta.
 
- Mamãe. - mais uma vez ouvi sua voz manhosa e meu coração apertou.
 
- Alice, fala pra mamãe quem está com você, fala filha. - supliquei.
 
- Pronto. - ouvi a voz grave invadir meu ouvido. - Já teve a grande oportunidade de saber que eles estão vivos.
 
Aquela voz… aquele tom debochado. Gelei estática. Nolan: meu cérebro apitou sua imagem.
 
- O que você quer? Por que você esta fazendo isso? - gritei confusa.
 
- Shh… - sussurrou me pedindo silencio ainda debochado. - Você quer seus filhos vivos? Você sabe o que tem que fazer.
 
- Me diga o que tenho que fazer, eu não sei. - falei consumida pelo choro e ele riu.
 
- Vamos fazer uma troca. Você vem comigo e eu devolvo as crianças ao Justin. Perder voce doeria nele muito mais do que perder eles. Eu quero que ele olhe todo dia pra esses fedelhos e lembre que você morreu por culpa dele. - disse doentio e eu aceitei minha morte como um fato.
 
- Aonde? Não encoste neles, por favor. Eu vou, eu vou com voce. - falei desesperada.
 
- Nem tente contar ao Justin. Eu vou saber. A vida dos seus filhos esta em suas mãos, Lorena. - disse como se sorrisse.
 
- Ninguém vai saber, eu prometei. - falei firme tentando não perder a confiança dele - Me diga onde eu tenho que ir.
 
- Quilômetro 85 ao Sul. Deixo eles lá e voce vem comigo. - falou com a voz pesada.
 
- Tudo bem. Em uma hora eu estou ai. - falei limpando a garganta.
 
- Te aguardo. - falou e desligou.
 
Meus filhos estavam vivos. Eu podia respirar. Qualquer mãe morreria por seus filhos. Qualquer mãe daria a vida para que seus filhos tivessem a chance de viver. Meus pensamentos rodavam. Por qual motivo Nolan estaria fazendo aquilo tudo? Por que ele? Por que nos atingir? Mas agora não havia tempo para perguntas. Você pode estar perto da morte e se desesperar, mas se você está perto da morte para salvar seus filhos, seu desespero é cortado pela coragem. Ainda chorava, ainda sentia meu peito esmagado. Não quis pensar como Justin ficaria sem mim para não desistir, mas sei que no fim ele me entenderia e faria o mesmo por nossos filhos. Olhei em volta todo o quarto lembrando de nós dois. Não teríamos chances de nos despedir. Eu apenas tinha que partir sem olhar pra trás, sem deixar pistas. Nada podia dar errado. Andei até a estante sendo consumida pelo choro e pelo medo. Peguei um papel e uma caneta enquanto sentia um corte arder em meu coração.
 
POV Justin
 
Fiquei relutando contra meus próprios pensamentos. Nenhum homem gosta de se entregar, nenhum homem gosta de se sentir fraco, mas era impossível. Ainda sentado no sofá passei o olho pela estante caída no meio do escritório. Fiquei por alguns minutos ali me martirizando em pensamentos até pegar no sono. 
 
Despertei no meio da noite e olhei em volta um pouco perdido. Minha cabeça doía e coloquei a mão sem recordar havia um ferimento ali. Levantei indo para fora do escritório enquanto pegava o celular em meu bolso e discava para Ryan.
 
- Alô. – ouvi sua voz cansada.
 
- Alguma novidade? – perguntei subindo as escadas.
 
- Nada, Justin. Nada. Estamos quase em outro estado, precisamos voltar. São 4 horas da manhã e estamos mortos. – reclamou.
 
- Podem ir. Eu já descansei e estou saindo de casa. Eu assumo por aqui.
 
- Tem certeza?
 
- Tenho. – falei abrindo a porta do quarto e franzindo a testa enquanto via que Lorena não estava na cama.
 
- Já é. Amanha nos falamos. – falou e eu desliguei me aproximando e notando um papel dobrado em cima da colcha esticada sobre a cama.
 
Peguei aquilo em minhas mãos e cada palavra que eu lia em minha mente, me acertava feito flechas. 
 
Carta da Lorena
 
“Tudo que eu sei sobre o amor eu aprendi com você. Você foi a pior e a melhor coisa que já me aconteceram. Com você eu pude deitar no gramado do paraíso e sentir o fogo do mais profundo inferno, com você eu superei meus medos e conheci um sentimento que eu jamais pude entregar a outra pessoa: o meu amor. Eu não viveria em um mundo onde meus filhos fossem apenas lembranças, então cuide deles para mim. Preciso me despedir mesmo que um dia eu tenha te prometido a eternidade. Não duvide. Eu prometi que estaria com você para sempre e estarei… em alma.
 
Amo você de todas as maneiras únicas que poderia amar.
 
 Lorena.
 
PS: Quilômetro 85, Sul.”
 
Esse capitulo foi postado anteriormente no tumblr pq o site estava com limite de postagem :)
não consigo mais postar aqui a caixa de comentarios, então falem cmg pelo twitter @itsmeclarag
bjs