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Estacionei o carro em frente a minha antiga casa e a rua estava pouco movimentada. Havia um segurança apenas guardando o portão que pareceu ter estranhado minha presença.

– Dona Lorena? - falou espantado.

– Disponha o dona. - falei séria. - Eu quero ver a minha mãe, pode abrir a porta? - pedi um pouco impaciente.

– O senhor Justin não avisou que a senhora viria. - falou confuso me fazendo bufar.

– Apenas abra a porta! - o olhei com a expressão séria e ele mordeu o lábio receoso.

– Tudo bem, eu vou deixar a senhora entrar, mesmo que isso arrisque meu emprego.

– O seu querido patrão sabe que estou aqui. - rolei os olhos. - É isso que você quer saber?

Ele deu de ombros e saiu da frente abrindo um pouco o portão pra mim. Não agradeci. Sai pisando forte e caminhando ate a entrada da casa. Queria logo saber o que estava acontecendo. Abri a porta e logo avistei mais três seguranças jogando conversa fora na sala enquanto tomavam cerveja e riam alto. Bati a porta fazendo-os me notarem ali e de imediato a postura de todos mudou.

– Não precisam se preocupar, o Justin na o esta aqui. - falei tediosa.

– A senhora veio ver sua mãe? - um deles perguntou.

– Vim e quero que vocês saiam daqui. - falei começando a vasculhar minha bolsa pra achar minha carteira.

– Mas chegamos agora para o plantão da noite. - o outro disse um pouco confuso enquanto eu retirava algumas notas de dentro da minha carteira e andava ate a eles.

– Tomem isso. - estiquei a mão o ignorando suas falas. - Vão tomar um café e arrumar o que fazer. Não há nenhum criminoso aqui pra vocês ficarem de olho. - falei seria e ele pegou as notas e fitou os outros homem.

– Senhora Bieber, - voltou a dizer engolindo a seco. - Se o Justin souber disso ele...

– Você vai contar? - o interrompi séria.

– Logico que não, isso seria assinar minha sentença de morte. - respondeu preocupado.

– Então eu também não contarei. Agora vão. - falei indiferente estalando meu salto no chão enquanto voltava para perto da porta e a escancarava esperando que eles saíssem.

Não demorou muito e os três passaram por mim. Fechei a porta trancando-a e fui em direção ao quarto da minha mãe que ficava no andar de baixo no fim do corredor. Bati de leve da porta encostada e ela estava deitada na cama coberta ate o pescoço em uma noite nem tão fria assim.

– Minha filha! - falou fraco e sorriu com a boca seca enquanto eu me aproximava com o coração gritando de preocupação.

– O que você tem? - perguntei sentando na cama e passando a mão em sua testa.

– Eu não sei, estou com febre e eles insistem em me dar o mesmo remédio há três dias.

– Você esta há três assim? - aumentei o tom de voz querendo surrar a cara do Justin.

– Sim, parece que não acreditam em nada que eu falo e só ontem ligaram pro Justin quando eu fui à cozinha e desmaiei. - falou fraco e seu rosto estava pálido.

– Você desmaiou? - me desesperei. - O que você esta sentindo? Precisamos ir ao medico! - me levantei pensando no que fazer.

– Calma, filha. - sussurrou com a voz falha. - Eu estou bem melhor.

– Não, mãe, você não esta! Eu estou vendo que você não esta! - gritei. - Eu vou matar o Justin e esses idiotas que trabalham pra ele. Como deixaram você assim por três dias? - perguntei inconformada.

– É alguma novidade pra você que eles nao gostam de mim? - tentou ser irônica, mas sua voz saiu triste.

Respirei fundo tentando processar os pensamentos. Justin podia ter toda a mágoa e raiva da minha mãe, mas ele não poderia jamais deixa-la nesse estágio. Ele podia ignorar a questão "sogra", mas nunca poderia deixar de considerar que apesar de tudo ela é a minha mãe. Passei a mão na testa enquanto ela analisava minha inquietação.

– Vou ligar pra Pattie e pedir o numero do medico dela. - falei apressada pegando o celular na bolsa.

– Não precisa disso tudo, minha filha. Me de um remédio pra febre e não esse pra dor que eles estão me dando. Apenas isso. - resmungou e eu saí do quarto com o celular na orelha apos discar o numero da Pattie e a ignorei.

– Alô? - ela atendeu enquanto eu chegava à sala.

– Pattie, eu preciso do numero daquele medico que atende em casa. - falei sentando no sofá ainda preocupada.

– Aconteceu alguma coisa com você?

– Não, é com a minha mãe, eu estou aqui na casa dela. Ela esta doente ha três dias e ninguém foi capaz de me avisar.

– Mas isso é terrível! - se espantou.

– Diz isso pro Justin!

– Ele não te avisou?

– Acho que ele não sabia ate hoje também, mas não deu a mínima importância. Eu estou extremamente irritada com ele. - desabafei.

– Calma, Lorena. Não deve ser nada demais. Esta todo mundo pegando essa virose louca.

– Pode ser, mas ela estava aqui sozinha porque esses brutamontes não estão nem ai, só ficam com medo do Justin e obedecendo as regras sujas dele.

– Nem me meto nisso. - suspirou. - Vou pegar o numero e te passo. Quando você chegar, vocês conversam. Sabe que ele tem problemas com a sua mãe.

– Mas isso é inadmissível, Pattie! Ele não ia gostar que fizessem a mesma coisa com voce.

– Eu entendo, minha filha, mas sabe como ele é cabeça dura. Nem ao menos me avisou que você tinha saído, pensei que você estivesse no quarto descansando. Ele está la fora com o Ryan como se não estivesse nada acontecendo. – riu fraco

– Idiota. – bufei

– Olha, anote o numero.

Anotei o número do médico que ela me passou e em seguida disquei. Indiquei o endereço e os pontos de referencias próximos. Em menos de 40 minutos ele estaria aqui, conforme disse. Desliguei o aparelho me sentindo mais tranquila e olhei em volta percebendo aquela sala completamente abafada. Além de não deixar minha mãe sair, Justin fazia questão de deixar a casa toda fechada? Estava completamente nervosa com essa atitude e me sentindo culpada também. Abri todas as janelas trancadas deixando o vento correr e fui ate a cozinha. Tirei meu salto deixando-o próximo ao balcão e prendi meu cabelo em um coque frouxe. Passei a mão pelo cabelo de leve colocando as mechas atrás da orelha e comecei a procurar algum chá que eu pudesse fazer. Abri os armários completamente perdida. Essa casa não tinha mais a minha identidade e eu me sentia tão bem na minha casa que já havia esquecido completamente como as coisas funcionavam na casa da minha mãe. Fervi a água e em poucos minutos o chá já estava pronto. Eu não era tão ruim na cozinha como imaginava. Servi em uma xícara e levei até o quarto onde minha mãe estava.

– Pronto. – falei me aproximando da cama e ela sorriu. – O médico já está a caminho. – informei entregando o chá.

– Sinto falta de você cuidando de mim. – falou tomando a xícara em suas mãos enquanto se sentava na cama.

– Eu sinto falta de muitas coisas. – suspirei me sentando. – Mas eu cresci e formei a minha família.

– Não foi exatamente o futuro que eu planejei pra você. – disse e em seguida tomou um gole da bebida quente.

– Não podemos planejar o futuro, as coisas acontecem como têm que acontecer e além do mais, não vamos voltar nesse assunto. Estou aqui com boas intenções e não para brigar. – recriminei fazendo-a sorrir fraco.

– Eu me vejo muito em você, Lorena, por isso quero que você evite meus erros.

– Mãe, pra você o Justin é um erro, mas eu não quero evita-lo, você não entende isso? Ele é o pai dos meus filhos e você julga dele o que ele quer que você saiba dele, mas você não o conhece, então chega!

– Ele é um jovem rapaz querendo manter sua família viva. Eu o conheço muito bem. – disse impertinente.

– Isso não é tudo. – revirei os olhos.

– Ele mata, ele é um assassino e ele faz isso porque gosta! Se ele sabia que a vida dele era desse jeito, porque levou você para viver essa loucura com ele? – perguntei insistentemente e se irritou.

– Isso é passado, mãe! Acabou! – gritei. – E ele não fazia isso porque gostava.

– Você não entende e nunca vai entender. – subestimou.

– O que eu não entendo mãe? Que eu recebo a notícia que a senhora está doente, venho as pressas mesmo com o Justin falando na minha cabeça que era apenas uma farsa sua, chego aqui e você começa com a mesma historia? Quando você vai respeitar a minha felicidade? A vida é minha e eu decido quem por nela.

– Você ignora o fato que ele matou o seu pai. – esbravejou deixando o chá de lado e em seguida tossiu forte mostrando o quanto ainda estava mal.

– Eu não ignoro nada, mãe! – falei me desesperando. – Tudo é muito complicado na minha cabeça e eu tento viver na melhor maneira que eu posso.

– Ignorando sua família? Deixando ele me prender nessa casa? Deixando seu pai enterrado como indigente? – gritou.

– Você já está bem, não é mesmo? Seu rosto já está até com cor. Acho que já posso ir embora. – ameacei me levantando na cama com a cabeça completamente confusa.

– Precisamos dessa conversa, pare de fugir!

– Eu não estou fugindo, mãe. Eu apenas não quero ouvir suas ofensas. Você não sabe nada do Justin. Você disse que ela matava por prazer, porque gosta e, sinceramente, eu não preciso ouvir o resto. Você sente falta do meu pai, eu também sinto falta dele, eu sinto falta do que eu achava que ele era. Ele se meteu com quem não devia para me separar do Justin, ele ajudou o Chaz e você sempre soube que eu estava me metendo numa furada confiando neles, mas você só pensou em você. – esbravejei entredentes sentindo o choro fechar minha garganta, mas eu precisava finalmente colocar tudo aquilo para fora.

– Filha, me escute... – disse mais calma.

– Eu passei meses da minha gravidez trancada em um quarto porque você estava do lado do meu pai o tempo todo. Você pode amar um homem e ser a companheira dele em todas as decisões, mas nunca quando ele estiver contra uma filha grávida sua. O que vocês queriam que eu fizesse? Que eu abortasse meus filhos por que eles seriam do Justin também? Você pede minha compaixão e que eu dê importância a você e a morte do meu pai, mas que tipo de importância vocês me deram?

– O seu pai fez tudo que pôde para te manter viva, também, Lorena! – se levantou da cama parando perto de mim. – Se ele se tornou tudo que você detestava, foi porque um dia ele se meteu com quem não devia pra te manter viva. – gritou com os olhos vermelhos.

– Do que você está falando?

Ela engoliu a seco como se tivesse acabado de se arrepender do que disse e em seguida se virou começando a andar pelo quarto. Sua mão foi até a nuca e eu a olhei esperando respostas. Seus olhos fitaram os meus procurando o que dizer, mas ela sabia que eu não sairia dali sem saber menos do que a verdade.

– Você anda cheia de mistérios, primeiro falou aquilo pelo telefone e agora diz isso. Ande, me conte. O que aconteceu que eu não sei? O que meu pai era na verdade, mãe! Me fala! – gritei.

– Você não precisa saber disso. Você viveu muito bem até hoje sem saber nada do que aconteceu. – deu de ombros.

– Eu mereço saber. Se tem alguma coisa que me faça ter menos raiva de você e do meu pai por tudo que fizeram contra o Justin, então me diga, me fala, eu preciso saber, eu preciso entender porque você o odeia tanto. Eu vejo que não é apenas por ele ter o passado dele, você age como se me escondesse algo, como se tudo fosse maior do que eu pudesse ver. – falei com a voz embargada deixando uma lágrima cair. – Eu mereço parar de ser a última a saber de tudo. – conclui mordendo o lábio.

Após breves segundo em silêncio ela se aproximou e podia ver que ainda não estava bem, mas estava tirando forças para fazer aquilo. Minha mãe segurou minhas mãos e sentou comigo na cama. Seus olhos marejaram e ela me olhou como se me olhasse pela primeira vez no berçário.

– Você era o bebê mais lindo do mundo. No momento exato em que eu soube que estava grávida, eu te amei. Eu dei minha vida por você e meus pais também não me apoiaram. – começou a dizer enquanto meu coração ia se acalmando e eu prestava total atenção em sua fala. – Eu era nova, não sabia nada da vida, mas seu pai me pegou pela mão e me mostrou um mundo onde eu podia ser amada. Eu entendo o que o Justin te causa, Lorena. Não fomos os melhores pais do mundo e nele você encontrou refúgio. Eu me sentia igual com o seu pai. Seu avô quis mata-lo quando descobriu minha gravidez e tivemos que nos virar para ter nossa própria casa. Enquanto isso você crescia dentro de mim e era meu ponto de força, era a minha certeza de que não importasse quantos problemas surgiriam, um dia iria ver seu sorriso e me certificar que tudo estava bem mais uma vez.

Sorri fraco começando a me emocionar e ela continuou.

– Passamos maus bocados em Portugal, não tínhamos ajuda de ninguém, sentíamos fome e o trabalho do seu pai não era o melhor. Seus avós fecharam as portas para nós e, como você sabe, os pais do seu pai não eram mais vivos. Decidimos vir para os Estados Unidos e tentar nossa vida. Qualquer coisa seria melhor do que viver como estávamos vivendo em Portugal. Seu pai arrumou um emprego como segurança em uma empresa e finalmente você nasceu. Você tinha uma alegria tão imensa dentro de você e prometemos que não deixaríamos nada te deixar mal. Pedia a Deus toda noite que tudo de ruim que viesse acontecer com você fosse transferida para acontecer comigo. Eu te protegi, eu cuidei, mesmo com seu ai ganhando muito pouco e nosso aluguel sempre atrasado. E então. – disse mudando a expressão e seus olhos ficaram perdidos. – você ficou muito doente, não podíamos tratar seu problema, não podíamos fazer exames para entender o que te deixava tão fraquinha. De todas as coisas importantes que um dia eu tive, você era a única que eu não conseguiria perder. Seu pai procurou outros empregos, mas não estava adiantando. Todos na empresa que seu pai trabalhava, sabiam do que estava acontecendo, mas é uma empresa grande que emprega estrangeiros como faxineiros e seguranças, e essas pessoas são praticamente invisíveis para as pessoas que tem dinheiro, mas então um homem ofereceu ajuda. – disse voltando a me fitar e suas lágrimas já escorriam. – Parecia com boas intenções, ele também tinha uma filha com a mesma idade que a sua e sempre investia ações naquela empresa. Soube do problema do seu pai e disse que poderia ajudar. Isso foi o que seu pai me disse e eu acreditei. Você foi internada e todos os custos foram pagos por esse homem, não me preocupei com mais nada, apenas queria você viva. Descobrimos que você teve pneumonia e por causa da nossa pouca condição, era um bebe muito fraco e sem proteínas. Você foi tratada e curada, saiu do hospital como um bebê forte e quando finalmente voltei para casa com você, seu pai me informou que não morávamos na mesma casa. Estranhei, pois nossa nova casa era maior e parecia que com certeza o aluguel era mais caro. Insisti para saber o que estava acontecendo e ele contou que o homem que lhe ajudou ofereceu um emprego, mas eu não sentia se pai feliz com aquilo. Não mesmo. Ele se tornou um homem preocupado, grosso, sério e nunca mais o vi sorrir. Nada me faltava, você teve tudo que eu quis comprar, dinheiro não era nosso problema, mas seu pai se tornou outra pessoa. As viagens eram frequentes, ele mal parava em casa até que um dia ele chegou em casa bêbado no meio da madrugada. Eu olhei no fundo dos seus olhos e senti medo, eu não o reconhecia mais. Foram dois anos angustiantes, vivíamos apenas eu e você naquela casa, pois seu pai parecia um estranho.

– Você não insistia para saber o que era? O que ele estava fazendo? – perguntei confusa e ela sorriu fraco.

– Eu tinha medo da resposta e estava certa em ter medo. – respondeu direta e eu me calei. – Naquele dia, ele quebrou tudo que havia na sala. Você estava no quarto dormindo e torci para que não descesse e visse aquela cena toda. Eu tentei pará-lo quando vi que ele estava chorando, suas atitudes estavam desesperadas e ele me olhou como se pedisse ajuda. Acalmei ele e se não fosse por toda a bebida que ele havia ingerido, certamente ele não tinha me contado a verdade naquela noite. Eu ouvi tudo que ele tinha pra me dizer e meu mundo caiu. Eu me desesperei tanto quanto ele, mas não havia mais nada que podíamos fazer. – disse segurando meu rosto com uma mão e uma lágrima caiu de seus olhos contornando sua bochecha. – Ele estava trabalhando para o Lúcio.

Senti o sangue correr de meu rosto e meu coração bateu forte. Todos os músculos de minha face amoleceram e eu a olhei tentando acordar daquele sonho. O realismo se esvaiu de minha vida e eu procurava me encontrar tento de minha própria história.

– Lúcio? – perguntei baixo e ela assentiu reprimindo os lábios.

– Ele pagou todo o seu tratamento e em troca seu pai teve que começar a trabalhar para ele. Foram 15 anos matando pessoas em nome do Lúcio, 15 anos pagando seu tratamento, 15 anos de tortura. Eu jamais imaginei que você fosse ter uma vida igual a minha, eu nunca quis isso pra você, mas o destino quis nos castigar. – falou chorosa.

– Mãe, não! – falou tentando me recompor. – Eu jamais iria imaginar. O que eu e Justin temos não teve nada a ver com isso. Aconteceu. – falei perdida nas palavras. – O Lúcio... meu pai... eu não sei o que pensar.

– Você cresceu sem saber ao certo no que seu pai trabalhava, como toda e qualquer adolescente normal. Eram muitas viagens, ele fazia toda as ligações do Lúcio com os mafiosos de outros países. Ninguém sabia que ele era trabalhava para o Lúcio. Tenho certeza que Justin não sabe disso, pois ele e todos os outros faziam a gangue de rua do Lúcio. Eram os que saiam pra roubar, pra desviar as cagas, mas seu pai trabalhava em cima, com arquivos pessoais e contratos. Ele sabia muito bem que o Justin já havia trabalhado para o Lúcio e ele não aceitava de jeito nenhum que vocês namorassem.

– Agora tudo faz sentido. – sussurrei destruída.

– O Lúcio é um homem, cruel, minha filha. Ele sempre soube de tudo. Seu pai teve uma briga séria com ele assim que soube que ele havia sequestrado você.

– Você sabe disso? – me assustei.

– Sim. – sorriu fraco. – Seu pai se culpou por meses por tudo isso está acontecendo na sua vida. Lúcio quis brincar com as peças que ele tinha e as peças que ele tinha era seu pai e Justin que ele tinha dispensado do grupo meses antes.

– Eu estou confusa... – me levantei passando a mão na cabeça. – Meu pai parou de trabalhar para o Lúcio quando o Justin saiu?

– Um pouco depois. Lúcio dispensou o Justin por outros motivos e então vocês se envolveram e seu pai pediu pra ser mandado embora já temendo o pior.

– Que pior?

– Lúcio podia obriga-lo a matar Justin caso ele descomprimisse a regra de não contar a ninguém sobre seu passado. Essa é a grande regra do Lúcio. – bufei pensativa.

– Mãe... – falei reprimindo os lábios sentindo meu coração ser esmigalhado ao meu peito,

Seus olhos serenos me fitaram e ela sabia que toda aquela informação me destruiria.

– Minha filha, não chore. – se levantou vindo para perto de mim e ao sentir seus braços me rodearem me afundei no mar de dor que se aproximava.

Havia uma página em branco na minha vida. Não porque eu não havia escrito nada nela e sim porque haviam escrito para mim e a escondido onde eu jamais pudesse ter conhecimento.

– Por que vocês me esconderam isso? Se o Justin soubesse, eles podiam lutar juntos contra o Lúcio e... – me desesperei sendo aparada pela minha mãe.

– Seu pai nunca imaginou que alguém pudesse ser contra o Lúcio, minha filha.

– O homem que mais odiei na face da Terra, a pessoa que mais destruiu minha vida foi a que me salvou? Isso não pode estar acontecendo... – falei tentando limpar a garganta. – Vocês não podiam ter me escondido isso.

– Não é algo fácil de contar, Lorena. – disse acariciando meu cabelo enquanto eu me sentia uma criança perdida outra vez em seu braço.

– Você me entende. – falei me afastando. – Você entende cada coisa que eu sinto. Você também amava meu pai, porque pede pra eu me afastar do Justin se você entende cada migalha do meu sentimento? – perguntei completamente ferida com as lágrimas embaçando minha visão. – O Lúcio está morto, tudo está acabado. Quem estava tentando ferir ele também está morto, eu posso finalmente viver em paz.

– Eu vivi com medo até o ultimo segundo de vida do seu pai. Enquanto Justin estiver vivo, ele correrá riscos e você também. Isso nunca acaba, mesmo que você queira, mesmo que você ache que acabou. Não se envolva mais do que você está envolvida, é mais fácil se ficarmos de fora.

Soltei um riso pelo nariz completamente sem humor.

– Eu já estou metida até o pescoço.

– Você o ama, mas não precisa estar completamente dentro da vida dele. Deixe ele resolver as coisas sozinho.

– Mãe... – a interrompi sentindo meu coração quase rasgar meu peito. – Eu matei uma pessoa.

– O que? – perguntou com a voz falha enquanto seus joelhos fraquejavam e ela se sentava na cama.

– O Justin tinha saído, invadiram a casa e estavam prestes a pegar meus filhos. Eu não tive escolha, eu juro. – me desesperei completamente entorpecida pelo choro enquanto abaixava minha cabeça e abraçava meus cotovelos.

Minha mãe encarou o nada por algum tempo e em seguida se levantou e voltou a me abraçar. Eu estava completamente pequena embaixo de tantas informações e emoções.

– Eu teria feito o mesmo por você. – disse em meu ouvido e nossa abraço ficou mais forte. Ficamos ali por alguns minutos naquele abraço.

Nada mais precisava ser dito. Meu coração estava em pedaços e podia sentir tudo que minha mãe tinha vivido em todos os anos. Por um mal entendido, por questões escondidas, por um ódio mal direcionado e uma preocupação extrema, meu pai estava morto. Até onde minha vida seria capaz de ir para me confundir e me por a beira do abismo. Ouvimos a campainha tocar e eu a olhei ainda com o coração apertado. Minha mãe tentava ficar forte enquanto limpava minhas lágrimas e eu sorri fraco tentando piscar os olhos e acordar em outra vida. Sem dizer nada, minha mãe deitou na cama e eu caminhei até a porta para atende-la completamente perdida em meus pensamentos e sentimentos. Abri a porta no automático e o médico sorriu pra mim.

– Ah, pode entrar. – falei fraca e ele atravessou a porta segurando uma maleta. – Ela está no ultimo quarto desse corredor. – indiquei e ele seguiu o caminho.

Caminhei até o sofá da sala me sentindo pisar em cacos de vidros. Cada passo ouvia ruídos e algo que poderia me magoar. Eu tinha certeza que Justin não sabia disso e eu estava enfiada na vida dele mais do que imaginávamos. Passei a mão pelo rosto tentando entender como eu me acostumaria a ter uma historia na qual jamais imaginei ter sido personagem. Era desesperador. Senti meu celular vibrar em meu bolso e o peguei vendo seu nome no visor. Como eu precisava ouvir sua voz.

– Alô. – atendi com a voz falhando e em seguida tentei limpar a garganta ainda com os pensamentos longe.

– Cadê você? Quase 10 horas da noite. Você disse que não ia demorar. – disse em um tom irritado.

– Justin... – respirei fundo. – eu acho que vou passar a noite com a minha mãe. Não quero ir embora agora. – falei com o coração apertando.

– Você tá maluca? Véspera do meu aniversário, eu quero sair e você quer passar a noite com a sua mãe? Você só pode estar de sacanagem. – esbravejou mais irritado ainda.

– Justin, tenta entender! Ela precisa de mim. – falei nervosa.

– Você está me escondendo alguma coisa. Por que está com a voz fanha? Essa filha da puta encheu sua cabeça e você ta chorando?

– Não! Não foi nada disso. – me apressei em responder. – Depois eu te explico tudo, mas por favor, deixa eu passar a noite com ela. – pedi já sentindo o choro domar minha voz.

– Isso tá estranho... – resmungou. – Deixa eu falar com algum capanga pra ver que que tá acontecendo nessa merda.

– Eu já disse que nada está acontecendo, custa acreditar em mim? – respondi já imaginando a confusão que se causaria caso ele descobrisse que não havia capanga algum aqui. - Amanha de manhã eu chego cedo, eu prometo, mas por favor, deixa eu ficar essa noite com a minha mãe.

– Passar a noite com a sua mãe é mais importante do que sair pra comemorar o meu aniversário comigo?

– Justin, tecnicamente o seu aniversário é amanha e amanhã eu estarei com você.

– Então você quer que eu saia sozinho com o Ryan e tá tudo bem? – implicou.

– Sim. – falei respirando fundo.

– Tô falando que essa porra ta estranha, caralho.

– Justin, eu não vou te prender em casa. Se você quer curtir a madrugada do seu aniversário, eu não vou implicar e sinto muito não poder ir com você. – falei e ele se calou por breves segundos.

– Eu vou passar aí antes pra saber o que houve. – falou, enfim.

– Não! – falei alto demais. – Justin, não precisa, eu estou bem, nada aconteceu. Eu só quero algumas horas com a minha mãe, apenas isso. – falei consertando a furada de ter respondido “não” tal desesperadamente.

O ouvi respirar fundo e por fim sua voz soou rouca.

– Você esta me evitando?

– Não, amor, lógico que não. Só quero esse tempo com a minha mãe. Apenas isso.

– Tudo bem. Depois conversamos. – falou deixando claro o quanto estava chateado.

– Meia noite eu te ligo. - avisei com pena do seu tom de voz.

– Vou esperar.

– Amo você.

– Também. – disse e desligou a chamada.

Respirei fundo guardando o celular e o médico voltou para a sala chamando minha atenção.

– Essa virose está mesmo atacando a todos. – disse simpático se aproximando de mim.

– Então não é anda grave?

– Não. – sorriu. - Ela está medicada e pode ter sonolência. Deixei uma cartela dos comprimidos aqui e serão duas doses. Uma pela manha e outra a noite.

– Ok. Espere, vou até o quarto pegar a bolsa para te pagar.

– Não se preocupe, a Pattie já fez isso.

– Ah... – esbocei surpresa. – Então muito obrigada. – falei o cumprimentando e o levei até a porta.

Voltei até o quarto e minha mãe estava outra vez deitada na cama. Nos olhamos e ela sorriu fraco esperando que eu falasse alguma coisa, mas não havia o que falar. Eu não tinha ideia de como expor tudo que eu estava sentindo. Eu estava sentindo medo, angustiada e vivendo emoções como se tudo isso ainda acontecesse, mas já era passado. Meu pai foi morto pelo Justin, Lucio foi morto pela Kimberly e no meio de tanta confusão, não havia como apontar os condenados. Corri até a cama deitando ao seu lado e me aninhei nela. Ela era minha mãe e eu era sua filha desprotegida. Eu apenas precisava de seu carinho e agora podia perdoa-la e entender cada atitude que ela teve. Ela me amava e apenas queria o meu bem e me livrar de uma vida que a castigou. Eu e ela poderíamos ate estar vivendo as mesmas coisas, mas Justin era bem diferente de meu pai e eu sabia que ao seu lado eu estava segura. Por causa dos nossos passados escondidos, nossos destinos se tornam ocultos e por mais que eu jamais soubesse o que poderia acontecer no dia de amanhã, eu tinha a certeza que Justin jamais me deixaria, então, tudo estaria bem.

Minha mãe começou a tentar mudar o clima enquanto me relembrava coisas de quando eu era mais jovem e pude comparar certas atitudes minhas na infância com as de Alice e Chuck. Contei todas as novidades que me restavam e as horas foram passando. Minha mãe já havia adormecido e quando havia olhado no relógio, já eram 00:34. Levei um susto levantando rapidamente da cama e saindo do quarto. Peguei o celular que havia deixado em cima da cômoda e liguei imediatamente para Justin. Já era seu aniversário e certamente ele estaria cuspindo fogo por eu ter me atrasado para ligar

– Fala, minha cachorra! – ele gritou brincalhão e feliz em meio a musica alta e eu ri baixo.

– Feliz aniversário, amor da minha vida! – falei acompanhando seu bom humor.

– Feliz só se você estivesse aqui. – falou enrolado e certamente já estava bêbado.

– Que mentira, você está bem feliz pelo visto.

– Ah. – riu sem palavras.

– Amanhã comemoramos e eu vou te encher de beijos. – falei mexendo em uma mecha solta do meu cabelo.

– Vou te cobrar isso. Fique consciente que você me deixou bastante carente hoje. – reclamou.

– Ah, tadinho do bebezinho. – ironizei.

– Ei, cara solta essa porra olha o tanto de mulher que tem aqui! – ouvi a voz do Ryan.

– Porra, filho da puta, tá maluco? – ouvi Justin dar uma bronca nele.

– Ah, então quer dizer que tá cheio de mulher ai, é? – falei fingindo irritação.

– Normal, né? – falou convencido.

– Espero que você se comporte, sabe que noticia ruim chega rápido.

– Relaxa. Eu to aqui, mas to pensando em você. – falou tentando me convencer e eu ri alto.

– Divirta-se! – falei e ouvi um “Pode deixar” safado antes de desligar.

Voltei até o quarto deixando meu celular em cima da estante e deitei mais uma vez ao lado da minha mãe. Já estava cansada, mas podia sentir um peso em meu coração de todas as informações que eu ainda não havia processado. Certamente amanha será um dia longo e eu teria que ter essa conversa com Justin mais cedo ou mais tarde.

 

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Fala

debora | 04/03/2013

minha cachorra

dooooo

biebercloser | 04/03/2013

pqp que foda essa cap vei,foi cheio de emoçoes jkfjasdkf que tudo porra,amei amei to surpresa mas ok...scrr justin asdh fçkjfhgksf "Fala, minha cachorra!" aiai jfkçalsd quero logo prox cap

beaa

beaa | 04/03/2013

"fala minha cachorra" justin bebado é o melhor hahaha

Laisa

MEUDEUS | 04/03/2013

estou surpresa essa fic fica melhor a cada capitulo

-

JU | 04/03/2013

Cada capítulo essa fic fica melhor, gzuis, que o Justin n faça nenhuma besteira. Amém. E estou cabreira com essa mãe dela, sério....
beijos

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ev @bieberofswag | 04/03/2013

"fala, minha cachorra" KKKKKKK só vc clara mds
adorei tá td pfto como sempre né
só de pensar q a fic tá chegando no final eu fico com um vazio tão grande
se fosse por mim do ia ser escrita e postada até eu criar meus netos lkjlkj
brigada por escrever essa fic de coração <3
eu nunca vou conseguir descrever as sensações q cada capitulo me causa
então obrigada de novo e ontinua logo pq eu quero mais kjhkjh
amosou do <3

''fala minha cachorra''

natalia | 04/03/2013

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk ''fala minha cachorra''
mds cada cap é uma surpresa, amo essa fic demais <3

Cap

Paloma | 04/03/2013

Nossa muito bom esse capitulo ! Adorei nossa choquei o pai da Lorena ttabalhava para Lúcio pq ele salvou a vida de Lorena uau :00 nunca iria imaginar hahhaha enfim adorei o " fala minha cachorra " kkkkk continue

Maravilhoso cap

Lovebieber | 04/03/2013

Mt bommm

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Mikaela | 04/03/2013

AMEEEI. Esse final foi tuddoooo! Fala minha cachorra! Kkkkk morri! Lindo, amei tudo!

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