Logo você?

Eu me joguei com tudo no sofá agora limpo morrendo de cansaço. A casa nem era tão grande, mas a sujeira que ela acumulara era tamanha. Não se passaram nem trinta segundos quando ouvi a porta se abrir. Ryan e Justin exclamaram surpreendidos.
– Lorena, a casa não estava tão limpa assim nem quando nós viemos para cá! - disse Ryan sorrindo.
– Estou começando a gostar de verdade de ter você morando aqui com a gente. - Justin disse debochadamente.
Eu estava cansada demais para responder. 
– Deixar a casa assim pelo menos uma semana, é pedir demais? Está vendo aquele saco preto grande perto da porta do banheiro? É para roupas sujas, então... já sabem! 
– Sim, senhora! - concordou Ryan ainda com um sorriso no rosto deslumbrado.
– Ryan, você deveria comprar coisas descartáveis. Copos, pratos, talheres. Ninguém aqui gosta de lavar louça, muito menos eu. 
– O Justin sempre lava. - ele respondeu um pouco confuso.
– Não, ele não lava. Ele passa água. - eu retorci os olhos para Justin.
– Ryan nunca reclamou. - ele disse entre uma risada.
Ryan deu um soco de leve no estômago de Justin, que continuava a rir.
– Vou tomar banho! - Informou Justin já entrando no banheiro.
– Aonde vocês foram? - Quis saber, perguntando para Ryan que agora sentava no sofá irradiante com a brancura. Ele lembrava que a cor natural do sofá era branco?
– Ah! Ficamos andando pela rua.
– Mentira! - eu o conhecia muito bem.
– É, estávamos jogando futebol.
– Mentira! - cruzei os braços esperando pela verdade. Aliás, por que ele estaria mentindo mesmo? Pensei confusa.
– 'Tá bom! Ficamos num bar vendo o jogo.
– Ryan! - gritei.
– Tá! Tá! Promete não ficar zangada, certo?
– Vocês foram no meu pai e o mataram a facada? - perguntei de brincadeira
Uma risada exagerada de Ryan invadiu a sala.
– Claro que não, sua louca!
– Aonde vocês estavam, então? Para quê tanto mistério?
A expressão de Ryan agora estava preocupada, como se ele soubesse que eu fosse o corrigir por algum erro cometido. 
– Fomos ver umas meninas. - ele, por fim, disse um pouco envergonhado.
– Por que eu ficaria zangada? Não entendi!
A expressão dele agora estava confusa.
– E-eu pensei que você fosse ficar com ciúme ele gaguejou um pouco.
– Ciúme? - perguntei, surpresa Ryan, pelo amor de Deus! Somos amigos, você é quase um irmão, mas você é livre. Não tenho ciúme de você, sei que ninguém nunca vai ocupar o meu lugar. - disse apertando sua bochecha. 
Seu rosto agora estava sério.
– Quase um irmão?
– Sim. - respondi ainda me perguntando porque ele parecia tão desapontado.
– Você não gosta de mim?
– Amo!
– Então... - ele continuou com a expressão confusa/ desapontada/ séria.
– Então... você pode fazer o que você quiser que o eu sinto por você mulherzinha nenhuma de rua substitui.
Ele ficou em silêncio com alguns segundos. Então se ajeitou no sofá para ficar de frente para mim.
– Fernanda, pensei que você fosse apaixonada por mim.
– Eu?
– Você! - ele respondeu ainda confuso.
– Ryan, a gente sempre teve essa relação meio louca. Por isso disse que era quase um irmão, porque irmãos não se beijam nem...
– Transam! Isso! ele disse num sussurro.
– E...?
– As meninas não transam só quando estão apaixonadas? 
Agora a minha risada exagerada que tinha enchido a sala ecoando naquele ambiente vazio. Voltei meus olhos a Ryan e ele ainda esperava uma resposta com as sobrancelhas levantadas.
– Algumas não! - eu disse por fim, agora tentando transparecer seriedade.
– Como não?
– Ryan, eu não estou te entendendo. Vocês foram nessas meninas hoje, certo? Elas amam vocês? - perguntei debochadamente.
– Durante uma hora, por R$ 150,00, elas nos amam. - ele sorriu.
Minha risada foi mais moderada dessa vez, lembrei-me de Fernanda e seus serviços especiais. Mais uma risada baixa.
– Mas elas servem para isso. Quer se comparar a elas? - perguntou-me ele tirando a carteira do bolso num ato de brincadeira.
Isso me fez pensar. Eu deveria cobrar à ele e a Justin? Sorri mais uma vez com aquele pensamento tão ridiculamente hilário.
– Ryan, eu não sou apaixonada por você. Era essa a dúvida? - eu perguntei séria.
– Era, mas como...
– Aconteceu e fim. - o interrompi.
– Mas eu gosto de você, Lorena. Você sabe. Mas você sempre me vetou, mas nunca deixou de me dar esperanças. E por um lado eu também respeitava seu quase-namoro com o Chaz.
Eu senti que eu deveria contar a ele o que aconteceu com Justin. Seria justo ele ficar sabendo por mim. Ele poderia até me expulsar da casa, eu sabia que Gil ou Renata agora me receberiam de braços abertos. Meu pensamento deu essa volta em menos de dez segundos enquanto ele esperava eu falar.
– A gente precisa conver...
A porta do banheiro abriu e eu me recolhi em minhas palavras.
– ...sar ele continuou precisamos conversar! Então fale.
Fuzilei com os olhos as costas definidas de Justin enrolado com a toalha na cintura indo em direção ao quarto.
– Outra hora. - eu disse à Ryan.
Ele olhou para Justin pela entrada do quarto onde deveria ter uma porta, entendendo que o assunto era particular.
– O que eu fiz agora que vocês estão me olhando? - perguntou Justin impaciente do quarto.
Ryan e eu trocamos olhares cravados um na expressão do outro. Ouví Justin resmungar alguma coisa enquanto colocava suas roupas.
– Justin! - Ryan gritou ainda olhando para mim. - Vou lá embaixo comprar alguma coisa para a janta com a Lorena.
– E...? - Ele perguntou com uma das sobrancelhas levantadas.
– Só estou avisando, ignorante!
– Quanta formalidade! Quer a benção também? - perguntou com seu inseparável deboche.
À quase noite, aquela rua era sombria. Era até estranho que alguém morasse ali. O silêncio não durou por muito tempo. Ryan estava impaciente e eu, sem ter idéia de como começar. Nunca fui de fazer rodeios, eu não tinha a menor paciência para drama, mas não queria magoar Ryan. Se eu falasse certeiramente o que eu queria, ele iria ter uma reação que, de certo, eu ainda não sabia qual, mas não seria uma das melhores. Não pensei mais duas vezes antes de falar logo quando sua pergunta mais uma vez cantou de sua boca.
– Hein, Lorena?! - ele insistiu O que temos que conversar?
– Eu transei com Justin!
– O quê? - sua voz subiu o tom Como? Aonde? Por que? - ele estava nervoso.
– Calma, Ryan! Aconteceu.
– Que dia?
– Ontem!
– Ontem? - ele gritou de novo. - Mas ontem a gente...
– Desculpa! - eu não estava nem um pouco arrependida, mas...
Ryan queria dizer algo, mas voltava atrás nas primeiras sílabas. Eu o observei, quieta. Não falaria nada até ele voltar ao normal. Não sabia que ele reagiria tão... tão... estranho! Ele nunca implicou antes com outros meninos. Complexo demais, mas me mantive quieta.
– Por que não me disse antes?
– Antes quando? Te ligar quando tivéssemos acabado? - perguntei séria. - Aliás não estou entendendo sua reação, Ryan. Você nunca...
– Mas vocês se odeiam - os olhos de Ryan estavam vermelhos, olhando para a nossa janela. - Como ele pôde fazer isso comigo?
– Contigo? Olha, Ryan! Agora sou eu quem não está entendendo absolutamente nada.
– Ele sabe de tudo! Por isso escondeu ele continuava como se falasse com uma terceira pessoa.
– Sabe de quê?
– Que eu amo você seus olhos agora estavam em mim, com uma tristeza profunda. - Sempre te amei. Sempre! Você deveria saber, aliás, você deve saber.
– Nunca tive convicção disso.
– Mas também nunca teve certeza que não. - ele gritou.
– Sinceramente? Mesmo que eu soubesse, isso não teria me impedido.
– Ah, lógico! Além de péssima ficante, vejo como você é uma maravilhosa amiga! - disse Ryan num tom irônico.
– Sou sua amiga, sim! Mas se você não sabe separar as coisas, o problema é completamente, inteiramente, fortemente, certamente, grandiosamente, literalmente seu!
– E você? Sabe separar as coisas? - ele disse agora sorrindo tentando esconder sua indignação.
– Óbvio que eu...
– Então... - ele me cortou separe suas roupas e saia da minha casa!
Eu teria me jogado aos pés de Ryan e implorado sua imunda agora limpa casa. Mas não o fiz. Eu o amava muito, Ryan era como o irmão que eu nunca tive, o amigo mais confiável, mas eu não correspondi às suas expectativas e por isso, daquela forma injusta ele estava me expulsando de sua casa.
– Tudo bem. - concordei friamente.
Seus olhos agora estavam confusos, cheios de arrependimentos. Se ele tinha falado da boca para fora, isso não importava. O que importava é que aquelas cruéis palavras tinham vindo de fora para dentro do meu coração. E mesmo que eu não fosse a melhor pessoa do mundo, eu não merecia uma amizade que esperava algo a mais em troca.
– Não! - por fim um suspiro rouco saiu de sua boca Eu não quis dizer exatamente isso.
Eu o olhava ainda em silêncio. Me perguntei por quê não estava chorando. Afinal, Ryan era o único que eu ainda depositava algum tipo de confiança.
– Lorena, você não precisa ir embora, eu me expressei mal.
Meu silêncio ainda imperava.
– Lorena! - ele me chamou colocando suas mãos em meu ombro ao me sacudir. - fala alguma coisa!
Olhei sua mão pesada sobre meu ombro direito e subi meu olhar pelo seu braço até olhar em seus olhos. Algumas lágrimas enormes já brotavam do olhar triste de Ryan.
– Tire suas imundas mãos de mim! - eu disse, então, arrancando com força suas mãos dos meus ombros.
Eu o vi tentando resmungar alguma coisa, mas eu já me virara para voltar ao prédio e pegar minhas coisas. Se meu futuro fosse pular de casa em casa com as malas mal desfeitas, eu o faria. Eu só não aturaria que me tratassem como se eu não fosse nada. Mesmo que aparentemente, eu não fosse mesmo.
Ryan subia atrás de mim pelas escadas tentando me convencer de algo que eu não me preocupei em ouvir. Abri a porta do apartamento com força, Justin pulou do sofá.
– Lorena, me escuta! - Ryan pedia.
– O que está acontecendo? - Justin perguntou andando atrás de Ryan enquanto ele me acompanhava até o quarto, onde eu arrumaria minhas coisas e partiria rumo mais uma vez ao desconhecido. 
Eu sentia, de novo, a sensação de não saber o que fazer, mas faria algo mesmo assim. Depois que eu saísse daquela porta, o destino seria incerto, mas é melhor duvidar do desconhecido do que confiar demais em alguém que com a mesma mão que te afaga, te apunhala. 
– Culpa sua, seu filho da mãe! - Ryan se virou para Justin e eu senti que dali a alguns segundos eles estariam rolando em briga pelo chão.
Suspendi minha mala com roupas entulhadas enquanto minha mochila já estava nas costas. Ryan pôs as mãos na parede da porta - que devia estar ali - bloqueando minha passagem.
– Você não vai sair enquanto não conversarmos direito. - ele olhava friamente em meus olhos.
– Alguém pode me dizer o que está acontecendo? - Justin perguntava mais uma vez colocando suas mãos entre seus lisos cabelos.
Eu apenas olhava Ryan. Não sabia como reagir. Eu sabia que não estava errada, mas no fundo eu sentia como se estivesse, mas não sabia por que ou como poderia sentir isso se não tinha nada com Ryan. Preferi, então, me calar e apenas sair dali.
Ryan ainda bloqueava minha passagem com seu musculoso braço estendido. Justin o olhava incrédulo esperando uma resposta.
– O que aconteceu, Justin? O que aconteceu? - ele repetiu sua pergunta em um tom óbvio. - Vocês transaram! Isso foi o que aconteceu.
Os olhos de Justin procuraram os meus, eu pude sentir, mas eu ainda fixava a parede.
– Você... você... você contou para ele, Lorena? - ele gritou O que você tem na cabeça?
– Você não iria me contar? - Ryan perguntou com um sorriso estranho.
– Óbvio que não. Eu sei que você gosta dela e...
– Se você sabia disso, então porque fez? - ele gritava sem tirar seus braços da minha frente.
– Ah! Eu sou homem, Ryan. Qual é! Ela só é uma menina qualquer!
Me virei calmamente para olhar Justin e encontrei um olhar assustado.
– Er... eu quis dizer que existem outras meninas. - ele se desculpou.
– Mas é ela que eu amo. - Ryan gritava.
– E o Chaz também gosta dela! Você não está mais certo que eu. - gritou Justin.
Um silêncio perturbador invadiu o quarto enquanto Ryan me fuzilava com os olhos e Justin encarava o chão.
– Eu te perdôo, Lorena. Mas você tem que ficar! - Ryan mais implorou do que propôs uma condição.
– Eu não quero ser perdoada. Eu não cometi nenhum crime. Eu não tenho nada com você, merda! Transei com o Justin e transei com você e quer saber mais? No mesmo dia! E daí? Quem pode me condenar por isso? Quem? O que eu sou sua? O que eu sou dele? Agora eu posso ver que pra você eu não sou nada. Para Justin pouco me importa o que eu sou. Se ele me vê como uma faxineira, uma empregada, uma parceira de sexo, uma anã de jardim mandona... dane-se! Dane-se mil vezes para o que esse idiota pensa de mim. Mas você, Ryan? Você que sempre me ajudou, me acolheu aqui quando eu mais precisei... você? Me expulsar da sua casa como se eu fosse qualquer uma? Julgou meu pai para fazer o mesmo? Por que não me bate logo de uma vez também...
– Foi da boca para fora, Lorena! E... 
– Você transou com o Ryan no mesmo dia que transou comigo? - Justin perguntou com um sorriso deslumbrado. - E você também não me contou, Ryan! Do que está me julgando?
Ryan se silenciou. 
– E você, hein, Lorena! Você me odeia tanto porque você é igualzinho a mim. - ele disse deixando escapar uma risada.
Olhei profundamente em seus olhos enquanto ele ainda me olhava com ar de deboche. Ryan esperava uma resposta minha, enquanto Justin cruzava os braços, parecendo esperar o mesmo.
– Não me compare à você. Eu não sou da sua espécie.
Uma risada de triunfo de Justin invadiu meus ouvidos ferindo-os.
– Eu tenho pena de você, garota!
– Já chega! - Ryan finalmente falou. - Arrume suas coisas e vá embora agora, Justin!
– Como é que é? perguntou Justin;
– Você entendeu muito bem. Ou será que devo latir para você entender?
Se Ryan estivesse fazendo aquilo para tentar reconstruir minha confiança, ele tinha perdido o seu precioso tempo. Eu só esperava ele recuar seus braços para eu ir embora. Justin não questionou sua decisão. Talvez eu e ele fôssemos mesmo parecidos, mas não era hora para me aliar a quem mais estava me ofendendo. Justin pegou uma velha mochila cinza no canto do quarto e obrigou todas suas roupas a caberem ali. Ryan deu licença para ele sair do quarto para ir pegar mais objetos seus espalhados pela casa, mas me prendeu em seus braços para eu não fugir. Com a roupa que estava e a mochila aparentemente pesada e em formato de bola, Justin olhou pela última vez para nós dois.
– Idiota! - ele por fim disse me analisando da cabeça aos pés. - Reflita se vale a pena terminar suas amizades por causa de uma mulherzinha qualquer.
– Vá embora! - Ryan gritou bem rente a meu ouvido. 
Mulherzinha qualquer? Os xingamentos do Justin estavam começando a me incomodar.
Justin bateu a porta com força. Ryan me soltou devagar e sorriu para mim.
– Você não precisa ir mais embora. - ele ainda sorria.
Não pensei duas vezes antes de estalar minha mão em seu rosto e ir embora dali sem olhar para trás.

 

Tópico: Logo você?

Destino Oculto

@JbieberPaulinha | 15/01/2013

eu nao leio a historia como se td estivesse acontecendo com a Lorena kkkkkkkkkk eu finjo que sou ela e td acontece comigo hahahahahahahahahaha

Re:Destino Oculto

Belieber_Pq_Sim | 05/01/2015

SOMOS DUAAAAS

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