Fim do quase início

– Chaz, pode me encontrar daqui à meia hora naquele restaurante onde sempre nos encontramos? - perguntei segurando sem vontade o celular.

Eu não queria o encontrar hoje, mas o devia explicações. Estava quase na hora do meu almoço, e eu treinava algumas frases bonitas para não o magoar, mas para também dar um fim em tudo. A alegria em sua voz ao ouvir a minha não me ajudava muito.

– Claro. Estou morrendo de saudades.
– Então está bem. Vou te esperar.
– Não precisará esperar. Já estarei lá.

Esses meninos perfeitos caem nas mãos erradas! Quantas meninas não dariam a vida para um namorado ou pseudo-namorado assim? Eu, no entanto não podia dar a vida por ele. Em meio de tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, não havia um espaço para colocar Chaz de vez na minha vida. Ele não merecia esperar por mim. Até porque eu não tinha certeza de que ele me teria quando, de pronto, tudo estivesse tranquilizado.
Esperei alguns minutos e saí para encontrá-lo. Com um sorriso de orelha a orelha e um buquê em suas mãos, Chaz recebeu-me com adoração. Tão feliz que seus olhos brilhavam. Isso rasgou meu peito. Por isso era tão difícil “terminar” tudo com ele. Sua boca logo suplicou a minha e antes de trocar meia palavra, ele já estava me beijando com ânsia. “Por favor, Chaz” - eu pensei - “Não complique tudo mais ainda”. Me afastei antes dele terminar de fazer o que estava fazendo, mas mesmo assim Chaz sorriu, seus ficavam olhos tão pequenos e frágeis quando sorria. Seu cabelo estava maior do que dá ultima vez que eu o vira.

– Toma! É para você. - ofereceu-me ele o buquê que estava em suas mãos.
– São lindas, obrigada.
– Acho que você tem bastante coisa para me contar, certo? Vamos sentar.

Assenti uma vez.

Ele pediu o que desejava comer e eu, sem saco para ler o cardápio, resmungava qualquer coisa para atendente. Depois comecei a contar tudo parte por parte e seu rosto rapidamente mudava de expressão. Confuso, irritado, preocupado, feliz, satisfeito pela gratidão do Ryan e, por fim, impotente.

– Se eu ainda não morasse com meus pais, eu poderia te acolher agora.
– Eu estou bem. - garantí.
– Qualquer coisa, repito, qualquer coisa, você sabe que eu estou aqui.
– Sim, eu sei.
– E agora, mais do que nunca.
– Por que? - perguntei realmente confusa.

Agora, ele estava suando. Um sorriso totalmente fraco estava em seu rosto. Suas bochechas rosadas de nervosismo e as mãos trêmulas.

– Lorena, quer namorar de vez por todas comigo?

Ironia. Ironia pesada. Eu estava ali para acabar com tudo e ele querendo continuar de uma forma mais sólida ainda. Aquela seria a hora, doa a quem doer.

– Olha, Chaz... - comecei sem conseguir olhar para seus olhos – as coisas estão tão complicadas no momento! Eu não daria a atenção que você tanto quer e... - respirei fundo. - você sabe que o que você sente por mim sempre foi maior do que eu sinto por você. Não posso te fazer infeliz desse jeito. Eu quero te deixar livre. Eu não o farei feliz. Você tem que entender. Por favor, não complique as coisas porque eu já sei tudo que você vai dizer. Que eu te faço feliz de qualquer maneira. Isto está errado, Chaz! Você merece algo melhor e esse algo melhor não sou eu.

Para minha surpresa, Chaz não parecia estar triste. Como? Por quê? Eu praticamente arrancara seu coração e ele parecia ainda feliz.

– Sabe, - finalmente ele começou a dizer – eu já esperava isso. Mas não queria desistir antes de saber que tentei tudo.
– Não está com raiva de mim?
– Claro que não.
– E por que não? - eu me sentiria melhor se ele nunca mais quisesse olhar na minha cara.
– Você é uma boa amiga, Lorena. Não quero desperdiçar isso. Você não tem culpa por não gosta de mim.
– Mas eu gosto de vo...
– Você entendeu o que eu quis dizer – interrompeu-me ele.

Eu não merecia tanta compreensão.
Ele pôs calmamente seus dedos frios em minha bochecha e abriu um sorriso meio triste.

– Você precisará de mim agora mais do que nunca, eu não iria te abandonar!

Quando terminamos de comer, ele ainda me contava suas novidades. Velhas novidades. Me levantei para voltar ao trabalho e ele prometeu passar mais tarde na casa do Ryan onde agora, estranhamente, era minha casa também. 

– Posso te dar um último beijo? - perguntou com um pouco de timidez.

Por alguns instante pensei que talvez isso o confundisse, mas não podia negar-lhe isso. Ele merecia todos os meus beijos que quisesse.

– Tudo bem, mas não fantasie.

Ele pareceu entender, sorriu e bem devagar juntou nossos lábios. Me beijou como nunca havia me beijado. Dessa vez eu que não quis parar. Tão quente, tão ansioso que se estivéssemos em outro lugar aquilo iria ter nos levado a outro nível. Ele afastou antes que aquilo ficasse mais difícil para ele.

– Até mais tarde. - ele sussurrou.

Concordei apenas com a cabeça um pouco arrependida por ter dado um fim. Eu estava acostumada a ter Chaz sempre que eu quisesse. Sentiria falta disso?

Quando voltei para o apartamento, Ryan já havia chegado e discutia baixo na varanda com Justin. Ouvi ele sibilando algumas coisas como: “Ela é importante para mim... você tem que conseguir se acalmar... lógico que sua opinião também importa... mas ela precisa de mim...”. Fui me aproximando com calma e pigarrei para mostrar que estava ali. Os dois se viraram e Ryan estampou um sorriso em seu rosto. Justin saiu da sala parecendo irritado.

– E aí, como foi seu dia? - Ryan perguntou, parecendo entusiasmado com alguma coisa.
– Foi bom. Conversei com o Chaz. Acho que estamos resolvidos. Ah! Ele disse que vem aqui hoje.
– Eu sei – ele soltou um riso – ele acabou de me ligar. Parecia meio abatido.
– Nossa! Não me lembre. Foi maçante! Ele levou flores e me pediu em namoro.
– Uau! 
– Eu terminei tudo.
– Nossa! Cena de novela.
– Sim - concordei pensativa.
– Mas você está bem?
– Acho que sim! Preciso de um banho.

Ouvimos alguma coisa cair no chão do quarto e se espatifar no chão. Justin estaria destruindo os poucos móveis?

– O que houve? - eu quis saber, já adivinhando a resposta.
– Ele não entende. - Sandro lamentou.
– É muita informação para o pequeno cérebro dele.
– Lorena, por favor! As coisas já estão difíceis. Eu saio para trabalhar e torço para não voltar e encontrar a perícia na porta do bloco investigando um corpo jogado do terceiro andar pela janela.

Nós dois rimos.

– Tudo bem, eu vou me comportar. 
– Ok, antes que o Chaz chegue, vou descer para comprar umas cervejas. Devo passar no supermercado também. Não tem problema em ficar sozinha com ele, certo?
– Não, Ryan! - respondi impaciente.
– Ok, só pela sua obediência vai trazer seu refrigerante favorito. - ele sorriu.
– Faça isso! 

Entrei para o banho e tirei do bolso de trás meu celular. Cinquenta e sete chamadas não-atendidas de minha mãe – sem exagero algum. Suspirei e liguei para ela. O celular chamou apenas duas vezes.

– Minha filha – parecia mais calma. - Por que não ligou antes?
– Estava trabalhando, mãe!
– Por favor, me diz onde você está! Eu quero levar algumas coisas. Você está comendo?
– Estou mãe.
– Está morando com quem? 
– Com o Ryan.
– Ryan Butler? - agora mais calma ainda. Minha mãe nunca escondeu sua preferência por Ryan em relação à meus amigos. 
– Aham.
– Minha filha, tome cuidado. Não se afaste de mim, eu não quero seu mal.
– Eu sei, mãe!
– Por que está tão monossilábica, minha filha. Está tudo bem mesmo?
– Estou fazendo a senhora sofrer, não é? - se estivesse, lamentaria, mas não voltaria.
– Não, eu sei que você está bem. Seu pai não quer que eu toque no seu nome. Mas irei ajudar no que for preciso. Me diga aonde fica a casa do Ryan?
– Agora não é a hora, mãe. Eu te ligo qualquer dia.
– Não suma.
– Ok.
– Eu te amo.
– Eu também.

Eu precisava de um banho que me lavasse da cabeça aos pés. Que lavasse a pele e a alma. Que restaurasse meus pensamentos. Liguei o chuveiro e a água caiu feito gelo.

– Argh! – gemi de frio.

Me coloquei na ponta dos pés e liguei o chuveiro. Agora a água caía quente, deliciosa. Ouvi um grito da sala e alguns xingamentos. Justin estaria vendo agora algum futebol? Logo em seguida ele bateu com força na porta do banheiro.

Tópico: Fim do quase início

Destino oculto

@poxajeliebers | 18/09/2013

Preciso dormir mas não consigo parar de leeeeeeer, scr

Destino Oculto

@JbieberPaulinha | 15/01/2013

nao quero para de ler nunca mais

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