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Desejo obscuro, amizade colorida
– Você queimou a porra da televisão! - gritava ele ao bater.
– Eu nunca mexi nessa televisão, está louco? - fiquei nervosa.
– Você ligou a merda do chuveiro. Estamos sem luz no resto da casa, sua estúpida!
Ah, legal! A casa cheia de problemas com os fio de eletricidade e ninguém para me avisar. Me enrosquei na toalha e saí do banheiro. A casa totalmente escura estava sendo iluminada pela luz fraca que vinha do banheiro.
– Você só serve pra isso, sua puta!
– Ninguém me avisou e tire esse dedo da minha cara!
– Ryan pediu para eu me controlar, mas está impossível. Agora estamos sem luz, sem televisão, sem vida por causa da sua repugnante presença.
Me aproximei dele e olhando bem fundo dos seus olhos, atrevi
– Então por que você não mete o pé?
Uma risada histérica cantou da boca dele. Nunca havia percebido como ela era perfeitamente desenhada.
– Mete o pé você, garota!
– Eu não vou a lugar nenhum.
Com um poco mais de inclinação ele se pôs a centímetros de mim
– Por que você não assume que é louca por mim como todas aquelas menininhas oferecidas do nosso antigo colégio, hein?
Um sorriso fantástico e cheio de malícia servia como outdoor de sua prepotência. Deixei uma risada frenética invadir seus ouvidos.
– Você tem distúrbio mental, Justin! Você não é tão assediado como você acha que é. Você não é nem metade do que acham que você é.
Um sorriso meia boca brotou em seus lábios.
– Assume Lorena!
Aquilo estava me irritando mais do que o necessário. Ainda nos encarávamos feito loucos. Como dois animais brigando pelo território. Seu rosto tão próximo do meu que pude observar como seus olhos eram lindos e atraentes.
– Você é um babaca.
– Você me adora.
Deixei uma risada frenética escapar fazendo estalos em minha garganta.
– Você é ridículo, Justin!
– Você me adora. - ele insistiu.
Aquela afirmação estava me deixando nervosa. Como se ele realmente pudesse controlar aquela situação com suas palavras abusivas.
– Se enxerga! - foi tudo que eu consegui lembrar de responder.
– Está vendo isso? Você me adora... nem tem argumento para isso – seus dedos quentes agarraram meus braços com força. Um sorriso perfeito brotou de seu rosto.
– Você me adora... - ele suspirou mais uma vez em meu ouvido, encostando seu nariz por meu rosto até encontrar minha boca.
Ainda ofegando, resistimos. Quando ele queria, eu recuava. Quando eu resistia, ele recuava. Ficamos assim alguns segundos.
– Me beije! - ordenei.
A malícia em seus olhos e, agora, a ousadia de sua mão, estavam me deixando completamente insana.
– Você quer que eu te beije? - ele sibilou.
Cada segundo eu ficava mais louca, em êxtase.
– Por que você quer que eu te beije? - ele perguntou com os olhos fechados e suas mãos caminhando livres pelo meu corpo. - Hein? - insistiu com um sorriso safado.
– Porque eu te adoro!
Eu sabia que era exatamente isso que ele queria ouvir. Não que fosse verdade, mas eu queria logo que ele saciasse aquela sensação que meu corpo implorava. Satisfeito com a resposta ele me suspendeu e me levou até o sofá. Arrancou a toalha e jogou no chão da sala. Seu beijo era quente, sua língua era louca, suas mãos eram leves, seu toque era sensível. Ele podia ser um prepotente babaca, mas o meu desejo maior era que ele usasse com vontade sua prepotência naquele momento. O quase-escuro ajudava nas sensações, pois eu não fazia a menor idéia do que ele planejava fazer, onde sua boca iria estar. Senti sua boca caminhar pelo meu corpo. Estávamos apenas começando e pela dança excitante de sua língua, eu pressenti que não demoraria muito para eu me sentir feito fogos de artifícios.
Ryan não tinha ido muito longe e, com isso, não demoraria para voltar, tínhamos isso em mente. Então não prolongamos nada. Seria complexo para ele entender que minutos antes estávamos sob uma Guerra Fria e agora nos atacávamos no meio da sala de uma forma prazerosa para ambas as partes. Eu ainda sentia uma aversão enorme por ele, mas aquilo dava mais tesão. Já se imaginou transando com aquela pessoa que tanto te incomoda? Que combinações contrárias de emoções. “Excitante demais.” - pensei comigo. E tinha sido mesmo.
Voltei para finalizar o banho interrompido enquanto Justin ia para a varanda como se nada tivesse acontecido. Escutei Ryan abrir a porta e também ouvi a voz de Chaz.
– Acabou a luz? - Ryan perguntou confuso – Porra, Justin, eu não dei o dinheiro pra você pagar a...
– Ei! - ouvi Justin o interromper – Quem queimou a casa toda foi a sua princesinha.
Me enrolei na toalha e saí do banheiro para me defender.
– Ninguém me avisou nada! - eu já abri a porta falando.
– Perguntar também ninguém quer, não é? - implicou Justin.
– Ah, sim! Isso certamente passaria pela minha cabeça: “Ryan se eu ligar o chuveiro, eu vou apagar o resto da casa?” - perguntei imitando voz de mongol.
Ryan e Chaz riam enquanto Justin se sentia um perfeito idiota... eu acho!
– Amanhã ela liga o secador e deixa a rua toda sem luz. - gritou ele ainda da varanda.
– Eu iria fazer isso agora. Obrigada por ter me avisado. Está mais eficiente do que eu imaginava ser. - Sorri mostrando não estar falando exatamente daquilo. Ele entendeu e sorriu.
– Calma, gente! - disse Ryan – foi só o disjuntor. Eu vou lá embaixo chamar alguém para mexer nisso.
Ryan saiu pela porta ainda aberta enquanto Chaz se aproximava de mim.
– Vai colocar uma roupa, Lorena! Por favor. Você está enrolada na toalha e aqui só tem...
– Amigos meus! - terminei sua frase.
– Não exatamente!
– Chaz, você está vendo alguma coisa que não queria ver?
– Óbvio que não!
– Então fica quietinho. - resmunguei virando as costas para o quarto para colocar uma roupa.
No escuro seria um dilema acertar o lado do sutiã e da calcinha, até mesmo do short e da blusa, enfim! Seria tenso pôr a roupa inteira. Mas a luz voltou logo que terminei esse pensamento e pude por cada roupa no canto certo.
A casa agora estava com mais latinhas de cerveja espalhadas pelo chão, e os três riam de qualquer coisa, jogados na sala concentrados em seus jogos idiotas de video-game. Os deixei na sala e fui para a varanda olhar o céu que estava com mais estrelas do que o normal. Sentei na cadeira solitária que encostava na parede e percebi como minha vida tinha se transformado numa loucura. Eu não sabia aonde aquilo iria dar, mas isso não parecia me preocupar.
Senti uma falta dolorosa de minha mãe. Nossa relação sempre foi mãe-e-filha literalmente, mas onde eu era a mãe e ela, a filha. Eu imaginei a saudade que ela sentia e sentiria cada vez mais de mim. Como ela choraria na minha ausência e como se preocuparia. Desejei em silêncio poder entrar todas as noites em seus sonhos para apenas assegurá-la que onde quer que eu estivesse, eu estava bem. Que para sempre, mesmo longe, ela iria poder me sentir ao seu lado.
Alguém vinha se aproximando e por identificar as vozes que ainda xingavam o vídeo-game, pude adivinhar que quem vinha ficar comigo era Chaz.
– A noite está linda, não? - disse ele um pouco alto. Um pouco demais, eu diria.
– Sim! - respondi sem tirar os olhos do céu.
Ficamos alguns minutos em silêncio. Eu me perguntava o que Chaz estaria pensando. Torcia para ele não me pedir mais um beijo ou algo do tipo. Não por eu não querer o machucar negando, e sim por que não querer dar a ele um sofrimento em potencial aceitando.
– Acho que vou dormir aqui hoje! - enfim ele falou.
– Mal tem espaço para mim, mas boa sorte!
– Eu não sei como você está conseguindo viver nessa sujeira.
– Talvez eu limpe isso amanhã. Pelo visto só eu me incomodo com o cheiro.
– Que cheiro? - ele perguntou realmente confuso.
Eu ri.
– Vocês são mesmo todos da mesma espécie.
Chaz sorriu abaixando para ficar mais próximo de mim.
– Você está feliz aqui?
– Acho que sim! - respondi sem pensar.
– Porque acha?
– Aonde você quer chegar? - perguntei nervosa.
– Só estou preocupado. Sua mãe me procurou.
– Minha mãe o quê? - minha voz subiu algumas oitavas.
– Ela foi até minha casa e perguntou se eu sabia onde você estava.
– E o que você disse? - eu me levantei completamente fora do juízo.
– Calma. Eu disse que não sabia. Sente-se.
Me sentei, ainda desconfiada, mas Chaz não mentia muito bem, eu saberia se não fosse verdade.
– Como ela estava?
– Muito abatida.
– Eu me sinto péssima por isso, mas não consigo me arrepender.
– Por que não diz a ela que está aqui?
– Já disse, mas não dei o endereço.
– Por quê?
– Porque não sei se pretendo ficar!
– Ué? E para onde você vai!
– Não sei!
– Chaz, sua vez! - Justin gritou da sala.
Chaz correu até lá me deixando ali sozinha entre pensamentos.
Já passava das três horas quando Chaz decidiu se jogar em um dois colchões do quarto. Eu ainda estava naquela aconchegante cadeira na varanda. Um som muito alto de uma música bastante agitada vinha do andar de baixo. Aquela rua era tão deserta que ninguém iria denunciar por abuso. Abuso era aquele silêncio. Senti alguém se aproximando e deduzi que fosse Ryan. Não olhei para trás enquanto os passos ficavam mais altos. Mas me enganei. Justin pedia silêncio com as mãos antes que eu começasse a falar algo.
– Escuta, - ele disse e depois olhou para a porta do banheiro para certificar que Ryan ainda estava lá dentro – eu não sei porque eu fiz isso hoje, mas ninguém precisa saber.
– Você acha que transar com você é algum prêmio que eu vou ficar ostentando?
– Só fica esperta! E fique em silêncio. Quem come quieto, come duas vezes.
Eu pensei em respondê-lo, mas ouvimos a descarga e ele voltou rapidamente para o sofá.
– Acho que vou dormir por aqui pelo sofá mesmo, Ryan.– escutei o informar.
Mal pude sentir Ryan se aproximar e suas mãos já estavam em meu ombro numa tentativa de massagem.
– Por que está tão pensativa hoje?
– Só estou olhando as estrelas.
Ele, então, levantou sua cabeça para olhar para céu, mas o som alto que vinha de baixo chamou mais a atenção.
– Acho que estão dando alguma festa!
– Você não fala com ninguém daqui? - eu perguntei incrédula.
– Nos mudamos faz três meses, Lorena!
– Mesmo assim. É tempo suficiente!
– Eu não conheço ninguém. Só sei que tem uma loirinha peituda daquela casa dali – ele apontou a grande casa com muros verdes - que de vez em quando o Justin senta aqui para observar.
Aquilo, estranhamente me irritou. Tentei parecer desenteresaada.
– Acho que vou deitar, já estou ficando cansada.
– Ótima idéia! - Ryan sorriu enquanto esticava aos mãos para me ajudar a levantar.
Em um jogo de agilidade e ações rápidas, Ryan colocou meu corpo perfeitamente encaixado ao dele enquanto, em beijos – e escuridão - me conduzia até o colchão no chão do quarto.
Como na última noite, Ryan se enroscou em mim como marido e mulher. Suas mãos percorriam meu cabelo de um jeito maravilhoso. Deixei escapar um gemido baixo. Acho que foi como um tiro para iniciar uma corrida. Suas mãos nervosas desciam do meu ombro até minhas gélidas mãos e depois passaram para minha barriga. Mais uma vez o escuro me surpreendia. Osilêncio seria a chave-mestre para aquela situação. Saí do contorno dos braços de Ryan e fui, cautelosamente para cima dele. Apalpei seu rosto para encontrar sua boca e a beijei com vontade. Suas mãos praticamente arrancaram minha blusa me deixando seminua. Um movimento mal calculado arruinaria tudo, mas estava mais divertido do que o necessário.
Com o ronco de Chaz alguns metros de distância, tudo ficava mais perigoso. Óbvio que eu não tinha nada com ele, mas o deixar perceber aquilo seria abuso com seu nobre coração. Havia momentos que eu tinha certeza que eu iria gritar, mas lembrava do Chaz e de seu amor por mim, ele não mereceria acordar assustado, ligar a luz e me ver jorrando prazer em cima do Ryan. Até porque eu não pararia para dar a ele uma explicação que não era de sua conta, simplesmente resmungaria para ele apagar a luz de novo.
“Fique em silêncio” - a frase de Justin veio a minha cabeça e, querendo ou não, eu estava o obedecendo, só não sei se era do jeito que ele realmente esperava.
Tópico: Desejo obscuro, amizade colorida
Destino Oculto
@Cauana94 | 28/07/2014
What?
Como assim?
Ela vai transar como bonde todo '-' nussaa
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